11 de fevereiro de 2017

"[Terminar a carreira] não foi uma decisão difícil de tomar"

Antes ouvia os discursos. Agora terá de os fazer. Antes aparecia nas partidas preparado para o seu trabalho nas equipas por onde passou. Agora está nas partidas (e chegadas) a garantir que tudo está preparado para receber os ciclistas. Sérgio Sousa, director da Federação Portuguesa de Ciclismo, mostra-se encantado com a nova fase da sua vida. O ciclismo profissional chegou ao fim em 2016 por decisão do próprio e agora só pensa em conhecer todos os aspectos do "outro lado" da modalidade, fora da bicicleta. "Esta foi uma oportunidade, um desafio, que me propuseram e que eu agarro com toda a confiança", salientou ao Volta ao Ciclismo.

Passou ainda pouco tempo desde que colocou um ponto final na carreira e naturalmente que durante a apresentação das equipas em Aveiro, no passado dia 4 de Fevereiro, a cerimónia mexeu um pouco com Sérgio Sousa. "Fiz muitas apresentações ao longo da minha carreira, mas nunca fiz um discurso! Não imaginava o que era estar deste lado", disse. A decisão de deixar de ser ciclista profissional foi feita "a meio do ano passado". "Confesso que não foi uma decisão difícil de tomar. Em 12 anos penso que deixei a minha marca no ciclismo nacional. Penso que foi suficiente", afirmou. Não consegue dizer se foi o momento ideal para deixar a estrada, mas tem a certeza que se sente "capaz de agarrar este novo desafio." "Estou satisfeito. Isto dá-me uma adrenalina enorme. Tentar perceber como funciona o outro lado da modalidade foi algo que sempre me fascinou. Quem sabe se um dia serei director, depois comissário... conhecer diferentes lados!" Ou seja, podemos esperar ver um Sérgio Sousa a continuar ligado ao ciclismo. Falta saber em que diferentes papéis.


"É uma responsabilidade enorme, mas ao mesmo tempo continuo a sentir a mesma adrenalina da azáfama diária. Agora sei o que é preparar as competições, preparar toda uma época desportiva para o nosso pelotão"

Como ciclista, a sua última equipa foi a austríaca Vorarlberg, tendo em Portugal representado formações como a Efapel, Boavista e LA Alumínios-Antarte.

Apesar de estar preparado para começar uma nova função no ciclismo, Sérgio Sousa admitiu que está a ser diferente do que imaginava. "É uma responsabilidade enorme, mas ao mesmo tempo continuo a sentir a mesma adrenalina da azáfama diária. Agora sei o que é preparar as competições, preparar toda uma época desportiva para o nosso pelotão. Estou bastante satisfeito e é uma honra representar a Federação Portuguesa de Ciclismo.

Agora aproxima-se a Volta ao Algarve, a corrida portuguesa com melhor categoria na UCI (apenas abaixo das provas World Tour). Sérgio Sousa viveu bons momentos nas várias participações que conta na Algarvia, como a conquista da camisola da montanha em 2012. "Em termos de organização a Volta ao Algarve melhorou e muito e sempre teve a sorte de ter grandes equipas internacionais atraídas pela nossa gente, pelo nosso clima, pelas estradas algarvias e pela posição no calendário internacional. A organização teve o cuidado de entender o que as equipas World Tour procuram nesta altura do ano e percebeu as necessidades delas. Isso tornou-se na chave do sucesso da Volta ao Algarve", referiu.


"Eu não divido as equipas por escalão, pois um corredor de uma formação Continental, com ambição, pode conseguir mostrar-se [na Volta ao Algarve]"

No entanto, o que é uma vantagem para atrair as principais equipas - e este ano serão 12 das 18 do principal escalão a estarem presentes - é uma desvantagem para as formações portuguesas. "A Federação Portuguesa de Ciclismo teve esse cuidado de angariar, digamos assim, competições para anteceder a Volta ao Algarve de forma a preparar melhor as nossas equipas, pois sabemos que sem corridas não irão conseguir fazer frente às grandes formações." Porém, com o cancelamento da prova em Vila Nova de Cacela, o pelotão nacional só teve a Prova de Abertura na Região de Aveiro, com alguns ciclistas a também fazerem a temporada de pista. Já alguns dos principais corredores da W52-FC Porto estiveram na Volta à Comunidade Valenciana.

Mas a eventual falta de ritmo dos corredores do pelotão nacional não deverá ser sinónimo de não ter alguém a mostrar-se. E Sérgio Sousa falou Amaro Antunes, precisamente da equipa azul e branca, que no ano passado foi décimo e que na semana passada, na corrida espanhola, alcançou um excelente sexto lugar numa etapa e um a todos os níveis brilhante terceiro na tirada ganha por Nairo Quintana. "Eu não divido as equipas por escalão, pois um corredor de uma formação Continental, com ambição, pode conseguir mostrar-se."

Sérgio Sousa confessou que o seu maior sonho é que o World Tour venha a ter uma equipa portuguesa que "possa bater-se com as melhores". Não havendo... "É mais complicado". Contudo, há toda uma temporada pela frente para as formações nacionais se mostrarem e o antigo ciclista está dedicado em garantir que esteja tudo preparado para que se possa ter espectáculo nas estradas portuguesas.

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