7 de fevereiro de 2017

Fábio Silvestre: "Estou mesmo feliz por regressar a casa, estar mais tempo com a família e rever velhos amigos"

A ambição da maioria dos jovens ciclistas (para não dizer de todos) é um dia chegar a uma equipa estrangeira, de preferência a uma formação do World Tour. Aos 21 anos, Fábio Silvestre viu esse sonho tornar-se realidade. Foi contratado pela Leopard-Trek, uma equipa Continental que servia de formação de ciclistas para a formação principal, a Trek, que naquela altura se chamava RadioShack-Nissan. A carreira do jovem sprinter parecia dar um passo ainda mais importante quando em 2014 foi chamado para a então Trek Factory Racing. Durante dois anos competiu ao lado de ciclistas como Fabian Cancellara, Jens Voigt e os irmãos Schleck. Não conquistou qualquer vitória, mas participou em grandes provas, como o Critérium International, Volta à Catalunha, Volta à Romandia e no Giro. Regressou à Leopard em 2016, mas correr no estrangeiro nem sempre é o Eldorado que muitos pensam ser e Fábio Silvestre agarrou a oportunidade de regressar a Portugal "para limpar a cabeça", nas suas próprias palavras. Aos 27 anos, feitos a 25 de Janeiro, uma das promessas do ciclismo nacional quer "recarregar energias" depois de um 2016 muito complicado. E no Sporting-Tavira fica a promessa de estar um ciclista muito motivado e, principalmente, muito feliz por estar na equipa algarvia.

Sinto-me mesmo feliz por regressar a casa, estar mais tempo com a família e rever velhos amigos", salientou Fábio Silvestre. Na conversa com o Volta ao Ciclismo houve algo que se destacou: o sorriso que simplesmente não abandonava o seu rosto, minutos antes de fazer a primeira corrida ao serviço da sua nova formação. "Estou numa boa equipa, numa boa estrutura, estou a rever antigos companheiros, como é o caso do Joni Brandão, pois corremos juntos enquanto sub-23. Está a ser óptimo estar aqui", confessou.

"Neste último ano, [a Leopard] já era uma equipa um pouco mais pequena. Para se ter uma ideia, chegávamos a fazer uma corrida e no final nem massagens tínhamos"

A única altura em que o sorriso perde um pouco de expressão, mas sem desaparecer, é quando recorda o 2016 passado numa Leopard com condições bem diferentes das que poderíamos imaginar. "Depois de dois anos na Leopard não senti nenhuma diferença quando passei para a Trek. No entanto, neste último ano, já era uma equipa um pouco mais pequena. Para se ter uma ideia, chegávamos a fazer uma corrida e no final nem massagens tínhamos. A crise também se sente lá fora", contou Fábio Silvestre, que disse que em Portugal as equipas Continentais têm condições melhores que muitas estrangeiras do mesmo escalão. O ciclista considera que vale a pena arriscar uma carreira lá fora quando se está a falar de uma equipa do World Tour ou Profissional Continental, mas do terceiro escalão, algumas equipas estão longe de ser o ideal para alguém que ambiciona uma carreira na modalidade.

A sua passagem pela Trek não se desenvolveu como gostaria, mas o ciclista está de consciência tranquila, pois garantiu que fez tudo o que lhe foi pedido nos dois anos que competiu na equipa World Tour: "Quando tinha de discutir a corrida, discuti, quando tinha de trabalhar, trabalhei..."

"Agora vou honrar esta camisola e o tempo dirá o que poderá acontecer. Se ficar cá, fico contente"

Fábio Silvestre admitiu que o facto de passar meses longe de casa, as constantes viagens para as corridas em diferentes países, também acabaram por pesar na sua decisão em voltar a Portugal: "É muito tempo fora. Às vezes ficava cá dois/três dias e depois eram meses fora." Estar tanto tempo afastado da família e amigos faziam-no, por vezes, sentir-se algo só, mas no Sporting-Tavira reencontrou a felicidade que procurava. "Psicologicamente, se a cabeça não está bem, não dá", referiu.

Mas será que este regresso serve para recuperar força e vontade para tentar de novo uma carreira no estrangeiro? "Não sei. Agora vou honrar esta camisola e o tempo dirá o que poderá acontecer. Se ficar cá, fico contente", respondeu. Fábio Silvestre está concentrado em conquistar vitórias pelo Sporting-Tavira e em ajudar a equipa a cumprir "o grande objectivo de chegar bem à Volta a Portugal". "Até lá haverão muitas corridas e vou tentar discutir as que forem ao sprint. Em etapas de montanha, que não é o meu terreno, vou ajudar a colocar bem os trepadores, ir ao carro buscar o abastecimento... aquele trabalho que muita gente não dá destaque", explicou.

Apesar de ser um ciclista já com experiência ao mais alto nível do ciclismo, Fábio Silvestre não se sente pressionado para se mostrar nas estradas portuguesas. Naturalmente que o Sporting-Tavira quer resultados do ciclista e pode-se esperar que vai sempre tentar estar na luta por vitórias. Contudo, a sua passagem pelo World Tour poderá, segundo o próprio dar-lhe "outra visão de corrida". Para o corredor, as provas em Portugal são bastante diferentes, mais indefinidas: "Aqui corre-se de uma forma mais aberta. No escalão World Tour são corridas mais controladas. Se é para chegar ao sprint, então é quase 100% certo que se vai chegar ao sprint. Aqui tanto podem terminar ao sprint, como uma fuga pode triunfar. São corridas mais abertas."

Para que não existam dúvidas que Fábio Silvestre assinou pelo Sporting-Tavira muito motivado para dar o seu melhor, logo na primeira corrida, na Prova de Abertura Região de Aveiro, o ciclista terminou em terceiro e era o mais sorridente no pódio - também porque o vencedor, Francisco Campos, ficou em choque com vitória - naquele que foi um início promissor de 2017 para o sprinter que Marco Chagas considera que poderá ser o melhor em Portugal.


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