20 de fevereiro de 2017

"Estava a faltar um ciclista português fazer o que fez Amaro Antunes no Malhão"

Foto: João Fonseca/Federação Portuguesa de Ciclismo
Quando se tem na corrida alguns dos melhores ciclistas do mundo, o que se quer é que esses ciclistas vençam. Parte do prestígio das competições, principalmente de escalões abaixo do World Tour, vem do prestígio dos corredores que nela participam e que nela conquistam vitórias. Porém, fica sempre o desejo de ver alguém ganhar que pareça não ter hipóteses de derrotar os considerados melhores do mundo. Ainda mais vontade é que esse alguém seja um ciclista da nacionalidade onde se realiza a competição. Perfeito, perfeito, é ser mesmo da terra. Amaro Antunes encaixa... na perfeição.

No ano em que a Volta ao Algarve subiu de categoria, teve transmissão televisiva para mais de meia centena de países, a 43ª edição acabou com a vitória de um português, de um algarvio na etapa do Malhão. Delmino Pereira não hesitou em dizer: "Foi uma boa forma de terminar e é também um sinal que há muito desejávamos. É importante que as equipas portuguesas se preparem para todas as corridas e que façam desta Volta ao Algarve uma oportunidade para se revelarem ao mundo." Para o presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, Portugal "tem neste momento um bom lote de corredores que se tem vindo a afirmar internacionalmente", mas salientou que "estava a faltar um ciclista português fazer o que fez Amaro Antunes no Malhão". "E fê-lo com grande categoria, com grande nível, num local onde todos queriam brilhar", acrescentou ao Volta ao Ciclismo.

Para o dirigente é importante que o ciclista seja "bom todo o ano". "É importante para que um ciclista português que se queira afirmar e se quiser ter uma carreira internacional, fazer o que fez o Amaro Antunes", referiu. Porém, esta foi uma edição da Volta ao Algarve em que as equipas portuguesas apareceram a bom nível, não se deixando levar pelo discurso que por vezes se ouve de "as formações do World Tour são demasiado fortes". Delmino Pereira destacou precisamente o facto das equipas nacionais terem estado beml, com natural destaque para a W52-FC Porto de Amaro Antunes, mas também a LA Alumínios-Metalusa-BlackJack que conseguiu um 10º lugar através de Edgar Pinto, o Sporting-Tavira viu Rinaldo Nocentini ficar em nono e Alejandro Marque em 13º, o Louletano-Hospital de Loulé teve o seu sprinter, Luís Mendonça a fazer top 20 nas duas etapas que eram para as suas características e Vicente Garcia de Mateos foi segundo no Malhão, a Rádio Popular-Boavista teve João Benta numa fuga e a Efapel teve Rafael Silva a sprintar para um top 20 na primeira etapa.

"As equipas portuguesas já perceberam que é importante estar bem nesta altura do ano. Nós quando intensificámos o calendário em Fevereiro e Março com provas internacionais, foi exactamente com esse objectivo", explicou Delmino Pereira, que afirmou ainda que a federação aposta num arranque de temporada em força, para que não se esteja somente à espera da prova rainha, a Volta a Portugal, que se realiza apenas em Agosto.

O ponto de equilíbrio da Volta ao Algarve

De ano para ano a Algarvia tem crescido e conquistado o seu espaço de referência no calendário internacional. A partir de 2017 faz parte da categoria 2.HC (apenas abaixo das corridas do World Tour) e nesta última edição atraiu 12 das 18 equipas do principal escalão. Será que se ambiciona dar mais um passo? Ou seja, chegar à categoria máxima? Delmino Pereira considera que a Volta ao Algarve "está no ponto de equilíbrio perfeito". "Nós demos um passo e conseguimos atingir os nossos objectivos. Neste momento vamos consolidar o projecto", frisou.

O responsável disse mesmo que "não é uma prioridade" chegar ao World Tour, apesar de não fechar a porta a essa possibilidade no futuro. No entanto, repetiu: "A Volta ao Algarve está com o equilíbrio desejável e o segredo do seu sucesso está num conjunto de factores. Primeiro é o equilíbrio desportivo, ou seja, é uma corrida interessante para os sprinters, para os contra-relogistas e para os trepadores. Segundo, o clima e o percurso adequado para esta altura do ano, pois há subidas que vão a 400/500 metros de altitude, que é a melhor forma de preparação da época. Terceiro, o equilíbrio do pelotão, metade com equipas do World Tour e a outra metade com formações do segundo e terceiro escalão."

Delmino Pereira cita ainda José Azevedo, director da Katusha-Alpecin: "Já não é uma corrida para rolar, nem para treinar. Esta corrida já entra no currículo. Esta corrida é importante ganhar porque o histórico nos últimos anos está recheado de ciclistas de grande prestígio." E se subir à categoria principal é algo que não está nos planos mais próximos - mas "pode vir a acontecer", segundo o presidente da federação -, continuar a "seduzir" grandes ciclistas é um dos objectivos, como por exemplo Chris Froome, Alberto Contador (que já venceu duas edições da Algarvia) e outros ciclistas do nível destes dois.

Para que tal possa acontecer, a transmissão televisiva poderá ter um papel relevante e Delmino Pereira garantiu que apesar de ser um investimento grande, compensa e é para manter.

Para o ano há mais e agora é altura do pelotão nacional concentrar-se na Volta ao Alentejo, que começa esta quarta-feira e que contará com uma equipa World Tour: a Movistar de Nelson Oliveira e Nuno Bico.

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