10 de fevereiro de 2017

Orçamentos muito mais altos, falta de garantias e insegurança. Organizadores das novas corridas do World Tour questionam benefícios da subida de categoria

(Fotografia: Facebook Prudential RideLondon)
O acréscimo de dez corridas no calendário World Tour continua a não ser pacífico. Primeiro foram as equipas que não ficaram agradadas com tantas competições e a UCI cedeu, tornando as presenças facultativas. Por outro lado, os organizadores estão obrigados a garantirem pelo menos dez equipas do principal escalão caso queiram manter-se na categoria mais alta. Além disso, os custos aumentaram substancialmente e há quem comece a pensar se realmente compensa a presença no calendário World Tour. E ainda há o problema específico da Volta à Turquia, pois a insegurança que se vive no país afastou as grandes equipas.

A Volta ao Qatar foi a primeira "vítima". A falta de patrocinadores fez com que fosse cancelada, ainda que a federação queira recuperar a competição em 2018. A Turquia começa a ameaçar também não ter condições para ficar no principal calendário. Na apresentação da Omloop Het Nieuwsblad - corrida que abre a 25 de Fevereiro a época das clássicas - foi revelado o orçamento: 180 mil euros. Três vezes mais do que nos anos anteriores.

Segundo  explicou o director das Clássicas da Flandres, Wim Van Herreweghe, ao jornal belga Het Nieuwsblad, do valor total, 40 mil euros foram direitinhos para as passagens aéreas e os hotéis das equipas. O aumento de custos e das preocupações estão a levantar questões sobre se a decisão de mudar a categoria foi a mais acertada.

Mick Bennet, director da Prudential RideLondon, afirmou: "Os custos de ser uma corrida World Tour são incríveis e os benefícios são escassos." A prova londrina terá um orçamento de cem mil euros. Maurizio Evangelista, do Giro del Trentino (agora Volta aos Alpes) já havia questionado se ter um orçamento de 120 mil euros compensaria o risco. "Não há garantias", realçou ao Cycling News

Omloop Het Nieuwsblad "só" terá mesmo de se preocupar em ter o dinheiro necessário, pois já atraía algumas das grandes equipas e este ano tem 15 inscritas (só faltam a UAE Abu Dhabi, Movistar e a Dimension Data), mais três que no ano passado. A clássica conta com vencedores como Greg van Avermaet (em 2016), Ian Stannard, Luca Paolini, Sep Vanmarcke, Juan Antonio Flecha, Thor Hushvod, Philippe Gilbert e, recuando um pouco mais no tempo, o inevitável Eddy Merckx.

Ninguém quer ir à Volta à Turquia, mesmo que a data seja alterada

Durante alguns anos a Turquia foi um destino preferencial de grandes equipas. Porém, o ano em que subiu de categoria está também marcado pela insegurança que se tem vivido no país. Os atentados são uma assustadora realidade que os ciclistas não conseguem ignorar. A precisar de dez equipas para garantir a continuidade, só uma equipa World Tour confirmou a presença. Os organizadores querem alterar a data de Abril para Outubro, para assim evitar a coincidência com a época das clássicas, mas mesmo que a UCI venha a aceitar o pedido, o resultado poderá ser o mesmo.

Patrick Levefere, director desportivo da Quick-Step Floors, admitiu ao Het Nieuwsblad que em Outubro, quando preparava a temporada de 2017, a Volta a Turquia estava no seu calendário. Porém, no estágio de Dezembro, acabou por retirá-la. "Perguntámos aos ciclistas e ninguém, mesmo ninguém, queria ir", referiu.

A Lotto Soudal esteve na corrida turca em 2016, sendo uma das duas equipas World Tour presentes, juntamente com a Lampre-Merida. Porém, o responsável da formação belga, Marc Sergeant, confessou que o receio acompanhou os ciclistas e restantes membros da equipa durante toda a competição. "Não houve incidentes no ano passado e houve muita atenção à segurança. A cada cem metros via-se um agente [da polícia]. No entanto, desde então muito aconteceu: novos ataques, uma tentativa de golpe de Estado... Li que cem mil pessoas foram presas. Por todas estas razões decidimos não ir este ano", explicou ao Het Nieuwsblad.



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