23 de agosto de 2019

Jumbo-Visma à procura do topo numa Vuelta com muitos jovens candidatos

(Fotografia: © Sarah Meyssonnier/La Vuelta)
E cá estamos na última grande volta da época. Nos últimos anos a Vuelta tem sido uma salvação no que a espectáculo diz respeito nas corridas de três semanas, mas desta feita chega-se à Volta a Espanha com a sensação que se vive um bom 2019. O Giro teve os seus momentos, mas foi o excelente Tour que marca, para já, a temporada. É melhor jogar pelo seguro e dizer "para já". É que a Vuelta não tem desiludido e nos últimos anos tornou-se na mais emotiva. Os ingredientes estão todos novamente presentes - infelizmente menos Richard Carapaz -, agora falta comprovar na estrada a partir deste sábado.

Ontem escreveu-se neste blog como esta é uma Vuelta com um fortíssimo toque latino. Com a lesão do equatoriano, ficam os colombianos como grandes candidatos (pode ler aqui), mas não estão sós. Curiosamente, no ano em que a corrida finalmente terá uma classificação da juventude com direito a camisola e não apenas uma referência, há uns sub-25 que podem repetir um pódio muito jovem, tal como em 2018.

Mas comecemos pelos mais velhos, por assim dizer. Primoz Roglic (29 anos) fará a sua estreia na Vuelta e surge novamente entre os principais favoritos numa grande volta, mas sem o entusiasmo que o rodeou no Giro. Mas até há uma diferença para melhor A Jumbo-Visma que está a tornar-se numa super equipa - contratou Tom Dumoulin para 2020 - e leva a armada quase completa. Steven Kruikswijk irá partilhar a liderança com Roglic e aos 32 anos fará a sua quinta Vuelta, enquanto George Bennett, Robert Gesink, e Tony Martin serão os homens de trabalho de luxo. Lennard Hofstede, Sepp Kuss e Neilson Powless serão os jovens à procura de se formarem entre os mais experientes. Depois de dois pódios este ano, a Jumbo-Visma quer ficar no topo.

De Fabio Aru (29 anos, UAE Team Emirates) pouco se espera, mas quer-se esperar tudo. Foi ao Tour para ganhar forma, depois de uma paragem devido ao tratamento de um problema na perna. A Vuelta será o início de uma fase muito importante na carreira do italiano, que se estenderá a 2020. Aru tem de mostrar resultados.

Com Rafal Majka (29 anos, Bora-Hansgrohe) a sensação é idêntica. Já pouco se espera do polaco, mas sabe-se que pode fazer muito. Fez pódio em 2015, ganhou uma etapa em 2017 e está na altura de ser mais do que um candidato a top dez se não quiser perder estatuto numa equipa que está a crescer nas grandes voltas, mas a pensar cada vez menos em Majka. O estreante em Espanha Felix Grobschartner (25) terá a sua oportunidade para começar a ganhar espaço na Bora-Hansgrohe neste tipo de prova.

Wilco Kelderman (28, Sunweb) e Louis Meintjes (27, Dimension Data) são mais dois ciclistas à procura de comprovar umas expectativas constantemente adiadas. Já para Wout Poels (31) é a oportunidade por que tanto aguardou. Será uma Ineos a dar alguma liberdade aos seus ciclistas, não se concentrando tanto num ou dois, mas Poels não pode desperdiçar um momento que poderá não repetir-se. David de la Cruz (30) falhou por completo há um ano quando foi líder. Foi chamado à última hora, saindo Kenny Elissonde e a Vuelta poderá definir o futuro do espanhol para 2020.

Jakob Fuglsang (34) assume um discurso mais de actor secundário numa equipa com Miguel Ángel López. Porém, nesta Astana há um espírito ganhador e o dinamarquês abandonou o Tour com um ego ferido. Está a ser a sua melhor temporada, mas a Volta a França não quis nada com ele. Se estiver bem, dificilmente ficará a pensar apenas em preparar os Mundiais de Yorkshire.

A nova geração

Muito se tem falado como a nova geração está a tomar conta do World Tour. A Vuelta poderá muito bem confirmar essa tendência. Roglic e Kruijswijk quase se pode dizer que são veteranos, pois terão como rivais ciclistas que são candidatos à classificação da juventude, mas que podem também lutar pela geral.

Tadej Pogacar (20 anos, UAE Team Emirates) é um ciclista que faz sonhar com grandes embates com Egan Bernal, o vencedor do Tour e ausente da Vuelta. Era suposto só fazer a sua estreia em grandes voltas em 2020, mas perante os resultados  - ganhou a Volta ao Algarve e a Volta à Califórnia - e as exibições de enorme nível, aí está ele, preparado para arrancar uma carreira nas provas de três semanas que se espera de muito sucesso.

Tao Geoghegan Hart (24) terá uma oportunidade para se libertar das amarras de gregário. É um britânico talentoso, mas na Ineos não terá vida fácil para sair da sombra de Bernal e Pavel Sivakov (e ainda não está confirmada a possível contratação de Carapaz). Não lhe falta potencial e esta Vuelta é o momento para mostrar que tem o que é preciso para também ele ser visto como candidato a líder.

De quando em vez já se viu o que Mark Padun poderá fazer. Este ucraniano de 23 anos tem mostrado potencial, mas tem estado algo "tapado" na Bahrain-Merida. A equipa está em fase de mudança, com Vincenzo Nibali de saída e Mikel Landa a chegar. É altura para os mais novos tentarem ganhar o seu espaço e Padun não deverá ter dificuldades em alcançá-lo. A dúvida é se vai tentar lutar por um bom lugar na geral, ou se irá atrás de etapas. Seja qual for o objectivo, Padun pode ser uma das jovens figuras da Vuelta.

Will Barta (23) tem a escola Hagens Berman Axeon. Só por isso tem o selo de garantia de qualidade. Fará a sua estreia em grandes voltas numa CCC sem um líder forte para as grandes voltas. Contratou Ilnur Zakarin para 2020, mas Barta tem o potencial para ser o futuro mais risonho da formação polaca. Estará sem pressão. É uma Vuelta para aprender, mas é um ciclista que não gosta de passar despercebido, ainda mais quando tem três semanas para escolher o momento em que se falará dele.

James Knox (23) fez a sua estreia em grandes voltas no Giro, mas não teve sorte. Caiu e acabou por abandonar. Saiu frustrado e vem há Vuelta com muita vontade de mostrar o que é capaz de muito, numa Deceuninck-QuickStep sem pretensões à geral. Contudo, depois do pódio de Enric Mas há um ano (não estará presente nesta edição) e da exibição de Julian Alaphilippe no Tour, Knox tem toda liberdade para ir à procura do seu resultado, mesmo que o tenha de fazer sem ajuda. É um emergente talento britânico que, dado o historial recente do ciclismo daquele país (três ciclistas venceram as três grandes voltas em 2018) vai receber alguma atenção.

Casper Pedersen (23) é mais um dos estreantes em provas de três semanas. Não se espera que esteja na luta pela geral, mas merece que se o siga com atenção. É um dinamarquês com potencial, numa Sunweb a precisar mais do que nunca começar rentabilizar a aposta nos seus jovens, agora que Dumoulin está de saída. Se Kelderman voltar a não confirmar expectativas, que pelo menos seja um mentor para Pedersen.

Estava difícil, mas 2019 está a ser o ano da confirmação de Hugh Carthy (25), mais um talentoso britânico. Com Rigoberto Uran e Daniel Martínez na EF Education First, além de Sergio Higuita, Carthy terá um papel de gregário, ainda que seja de esperar que possa tentar ganhar uma etapa.

Pierre Latour (25) foi o melhor jovem em 2018 no Tour, mas este ano a falta de forma afastou-o da corrida já perto do seu início. Vai tentar redimir-se na Vuelta, esperando mostrar que poderá ser uma alternativa a Romain Bardet, com a AG2R a precisar de alargar o seu leque de opções no que a líderes diz respeito.

Para terminar, Ben O'Connor (23). Passou ano e meio desde a sua revelação na Volta aos Alpes, mas após a queda no Giro de 2018, o australiano ainda não conseguiu repetir as exibições. Será desta? A Dimension Data bem precisa e Meintjes não dá garantias. A equipa sul-africana precisa desesperadamente de vitórias, tal como há um ano. Então Ben King (30) salvou a honra com duas etapas e foi novamente chamado com a mesma missão.

1ª etapa: Salinas de Torrevieja - Torrevieja (13,4 quilómetros), contra-relógio por equipas


Como tem sido habitual, a Vuelta arranca com um contra-relógio colectivo. Não são esperadas grandes diferenças, mas uma Jumbo-Visma, por exemplo, vai tentar tirar vantagem naquela que se tornou uma especialidade para a equipa holandesa.

Partida das equipas (hora de Portugal Continental e Madeira, menos uma nos Açores):

17:56 Dimension Data
18:00 AG2R
18:04 Euskadi-Murias
18:08: CCC
18:12 Burgos-BH
18:16 EF Education First
18:20 Groupama-FDJ
18:24 Caja Rural
18:28 Katusha-Alpecin
18:32 Ineos
18:36 Cofidis
18:40 Mitchelton-Scott
18:44 Bahrain-Merida
18:48 Sunweb
18:52 Trek-Segafredo
18:56 Astana
19:00 Lotto Soudal
19:04 UAE Team Emirates
19:08 Bora-Hansgrohe
19:12 Jumbo-Visma
19:16 Deceuninck-QuickStep

19:20 Movistar

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