28 de agosto de 2019

De um incidente caricato ao momento mais esperado de uma carreira

(Fotografia: © Sarah Meyssonnier/La Vuelta)
Miguel Ángel López foi um autêntico Super-Homem em Javalambre. O colombiano fez jus à alcunha e pareceu voar rumo à recuperação da camisola vermelha. Porém, se de López não há dúvidas que ainda muito se há-de falar nesta Vuelta, é justo que o destaque do dia seja para Ángel Madrazo. Há uma frase difícil de esquecer, da autoria de Rui Vinhas. Após ganhar a Volta a Portugal, o ciclista disse que "todos os gregários deveriam viver um momento assim". Madrazo, de 31 anos, certamente concordará. Tem uma carreira a trabalhar para outros e quando encontrou uma equipa que lhe deu liberdade, foi à procura do seu momento. Teve logo um muito bom no segundo dia da Vuelta, quando vestiu a camisola da montanha, o que lhe permitiu subir ao pódio. Mas agora venceu uma etapa numa grande volta, um triunfo muito especial para o ciclista e extremamente importante para a Burgos-BH.

"O triunfo da raiva, sacrifício e perseverança", escreveu a equipa no Twitter. A festa foi efusiva, pois não só a Burgos-BH alcançou uma vitória histórica para o projecto, como Jetse Bol foi segundo. A vontade era tanta que o carro até tentou dar um empurrãozinho! Agora já se pode dizer uma piada, mas a 24 quilómetros do fim da etapa, não houve vontade nenhuma de rir. A dar o apoio a Bol, quem conduzia o carro da Burgos-BH distraiu-se e acabou por tocar em Madrazo que seguia à frente. O espanhol evitou a queda a muito custo e quase que José Herrada (Cofidis) sofria por "tabela". É caso para dizer, que susto!


Um incidente caricato que poderia ter custado o momento que dá nova vida a uma Burgos-BH a precisar urgentemente de uma boa notícia. Estamos a falar de uma equipa que começou o ano a auto-suspender-se devido aos casos de doping, ainda antes da UCI a sancionar. Grande parte da estrutura foi alterada, desde ciclistas a staff, tudo para apostar num recomeço que limpasse a má imagem deixada, um ano depois de ter subido ao escalão Profissional Continental.

Este é um projecto com mais de dez anos de existência. A ambição de estar na Vuelta fez com que os seus responsáveis apostassem na mudança de nível. Mas não tem sido fácil e o futuro não irá ficar mais facilitado só porque ganhou uma etapa na Volta a Espanha. Se a UCI manter o novo regulamento quanto à atribuição de convites para as grandes voltas, as organizações passaram a ter apenas dois em vez de quatro. A Burgos-BH sabe que dificilmente receberá um em 2020 se não subir o nível das exibições e resultados.

Até ao triunfo em Javalambre, só por duas vezes a equipa havia vencido em 2019. Primeiro no Alto de Montejunto, no Troféu Joaquim Agostinho, por intermédio do português José Neves. Depois foi à China ganhar uma etapa na Volta ao Lago Qinghai com Matthew Gibson. Curiosamente, nenhum dos ciclistas foi chamado para a Vuelta.


Ficou rapidamente bem claro como a Burgos-BH ia dar o tudo por tudo para dar nas vistas na Vuelta. Madrazo tinha o objectivo de vestir a camisola de líder da montanha. Já a tem e agora quer levá-la até Madrid. Difícil, mas há que tentar. Depois queria ganhar uma etapa. Já está. Vuelta feita para Burgos-BH? De certa forma sim, mas quanto mais conseguir melhor, pois em causa pode estar um projecto que sem a presença na Volta a Espanha, poderá deixar de fazer sentido existir como Profissional Continental. Madrazo - que chegou a representar a Movistar durante cinco épocas e a Caja Rural em três, antes das duas na francesa Delko Marseille Provence KTM - irá tentar continuar a ser figura, mas quem sabe ainda se veja também os portugueses Ricardo Vilela e Nuno Bico em destaque.

López vs Roglic

Apenas com cinco etapas cumpridas e esta Vuelta já teve a capacidade para deixar exposto quem está em melhor condições para lutar pela vitória. Contudo, tendo em conta a muita montanha que ainda há pela frente, o que é verdade hoje, poderá não ser bem assim amanhã...

Após a primeira chegada em alto, Miguel Ángel López foi o Super-Homem nos 11,1 quilómetros da estreia da subida de Javalambre na Vuelta. Local muito interessante e que não surpreenderá se regressar em percursos futuros. O colombiano comprovou o que já tinha demonstrado e mesmo sem ter uma Astana a ajudá-lo, sozinho deu conta de tudo e todos. Só não apanhou o trio da frente, que chegou a ter mais de dez minutos de vantagem.

Primoz Roglic (Jumbo-Visma) não é tanto de "explosões" nas subidas, mas ao seu ritmo não deixou escapar Alejandro Valverde e com 14 segundos a separá-lo de López, tem o colombiano debaixo de olho. Poderá revelar-se uma luta muito interessante entre o esloveno e o colombiano, uma que não se viu no Giro, mas está a começar a aquecer na Vuelta.

E Valverde? Lá vai dizendo que Nairo Quintana é que é o líder, mas continua a atacar por ele, sem se preocupar com o colombiano. Quintana cedeu um pouco, mas está a 23 segundos. Valverde ficou a 28. Na Movistar vive-se mais do mesmo e não se aprendeu a lição da Volta a Itália: foi difícil, mas a equipa lá se uniu em redor de Richard Carapaz e venceu a corrida.

Rigoberto Uran, Johan Esteban Chaves, Fabio Aru, Pierre Latour, Rafal Majka, Sergio Higuita e a lista continua, todos quebraram. Aconteceu o mesmo com Nicolas Roche. Perdeu a camisola da liderança para López, mas o ciclista da Sunweb realizou uma prestação que o coloca como número um da Sunweb, pois Wilco Kelderman também entra na tal lista. Roche ficou a 57 segundos de López, enquanto o holandês já tem 1:50 minutos para recuperar.


Há um destaque português. Este é um Ruben Guerreiro (Katusha-Alpecin) que se espera ver mais vezes e ainda com margem para melhorar. Subiu 18 posições na geral, é 18º, a 3:18 minutos de López, depois de um excelente 15º lugar em Javalambre.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

6ª etapa: Mora de Rubielos - Ares del Maestrat (198,9 quilómetros)



Será um dia mais longo na bicicleta e, para não variar, com muito sobe e desce. Tendo em conta que no sábado a etapa apresenta-se mais difícil, é possível que na geral não se tente fazer grandes diferenças nesta sexta-feira. Será mais um bom dia para uma fuga triunfar. A subida final é uma terceira categoria com 7,8 quilómetros, com uma pendente média de 5%.




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