12 de agosto de 2019

As equipas da Volta a Portugal uma a uma

(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
Terminada a 81ª edição da Volta a Portugal e dado o peso que tem na época das formações nacionais, é o momento de fazer balanços. W52-FC Porto, Rádio Popular-Boavista e LA Alumínios-LA Sport são as que ficaram mais felizes, enquanto o Sporting-Tavira falhou novamente e a Aviludo-Louletano pagou o preço por apostar tudo num ciclista. Entre as estruturas estrangeiras, como sempre acontece, algumas mal se viram, mas Fundação Euskadi será sempre bem-vinda, com Euskadi-Murias e Amore & Vita-Prodir a conquistarem etapas. A formação suíça SRA também foi interessante de ver. (As equipas estão pela ordem da classificação colectiva.)

W52-FC Porto: Começou desde cedo a mostrar que continuava a ser a equipa mais forte. Porém, a queda de Bragança fez a estrutura tremer, com Joni Brandão a conseguir inclusivamente tirar a camisola amarela que a equipa não estava habituada a perder com a corrida tão avançada. Sem o vencedor das duas últimas edições, Raúl Alarcón (lesionado), foi o seu substituto que, de certa forma, surpreendeu ao mostrar um nível que não se via há dois anos. Gustavo Veloso (terceiro) voltou a sonhar com a terceira vitória, andou de amarela, mas a tal queda deixou-o limitado. João Rodrigues estava a ser preparado para assumir responsabilidade um dia. Esse dia chegou mais cedo e o algarvio de 24 anos foi brilhante. Também apanhou um susto ao cair em Bragança, mas não foi nada de grave. Ganhou na Torre, foi segundo na Senhora da Graça e avassalador no contra-relógio Gaia-Porto. Partiu com o mesmo tempo que Brandão e ganhou por 27 segundos. Foi o líder que a W52-FC Porto precisava. Samuel Caldeira foi o homem de trabalho que a equipa precisava e ainda ganhou o prólogo e vestiu a amarela no início. Daniel Mestre também ganhou uma etapa e trabalhou muito até partir uma costela em Bragança. Depois foi aguentar para conquistar a camisola verde dos pontos. Sobre Ricardo Mestre faltam palavras para descrever a sua importância, enquanto Edgar Pinto (quinto) foi novamente azarado com uma queda na Torre após toque com Vicente García de Mateos, mas foi essencial na luta pela vitória acabaria por ser de Rodrigues. António Carvalho começou bem, fraquejou a meio e foi um senhor na Senhora da Graça, terminando a Volta na quarta posição. Com uma equipa assim era difícil não ganhar, mas teve rival à altura para valorizar ainda mais a conquista, a sétima consecutiva da formação do Sobrado.

Rádio Popular-Boavista: Há um ano, a vitória de etapa e o top dez de Domingos Gonçalves já tinha sido muito positivo, mas em 2019, José Santos levou a sua equipa a um patamar que há muito não se via. João Benta e Luís Gomes ganharam etapas e este último ainda foi o rei da montanha. No contra-relógio final, a equipa deixou escapar a vitória por equipas, mas terminou com Benta (sexto), David Rodrigues (sétimo) e Daniel Silva (nono) no top dez. A influência na corrida foi tal, que tanto a W52-FC Porto e principalmente a Efapel procuraram alianças com esta equipa. Luís Mendonça não conseguiu a vitória que esteve perto, mas todos os ciclistas destacaram-se pelo trabalho feito para o sucesso alcançado, numa Volta a Portugal que a equipa tão cedo não esquecerá. Esperava-se a habitual equipa lutadora, mas desta feita a Rádio Popular-Boavista conseguiu traduzir em mais resultados essa forma de enfrentar as corridas.

Sporting-Tavira: Falta a confirmação oficial, mas terá sido a despedida do Sporting da Volta a Portugal. O clube deverá abandonar a modalidade, depois de ter regressado há quatro anos. Então, Jesus Ezquerra venceu uma etapa, mas a partir daí pouco correu bem à equipa de Vidal Fitas nesta corrida. 2019 não foi excepção. Tiago Machado foi uma aposta falhada, José Mendes, o campeão nacional, andou desaparecido. Alejandro Marque ainda parecia poder lutar pelo top dez, mas a etapa da Torre acabou com essa ideia. Frederico Figueiredo teve finalmente a oportunidade de procurar o seu resultado (há muito que merece ter um papel principal), mas o azar perseguiu-o. Sofreu quedas e a última, na etapa da Senhora da Graça, resultou num pulso partido. Foi quinto nesse dia, mas já não participou no contra-relógio final e o "senhor regularidade" não alcançou mais um top dez. Outro destaque foi um dos mais combativos da Volta: David Livramento. Chamado para substituir Rinaldo Nocentini, o algarvio esteve muito bem. Trabalhou tanto em fugas, que merecia ou ganhar uma etapa ou que um companheiro (Marque, por exemplo) o tivesse feito. Porém, o Sporting-Tavira terminou a Volta novamente sem qualquer conquista.

Efapel: Tudo pela Volta com Joni Brandão. E foi quase. Para uma equipa que teve um líder que deu luta a uma W52-FC Porto que tem dominado a corrida, não se pode dizer que tenha feito uma Volta aquém do desejado. Porém, os resultados não traduziram a ambição. Joni Brandão esteve três dias de amarelo, contudo, claudicou por completo no contra-relógio final. Partiu em igualdade pontual, mas perdeu 27 segundos. Sofreu duas quedas, perdeu tempo, foi penalizado em dez segundos quando os comissários consideraram que foi empurrado pelo mecânico, mas a derrota na Volta deveu-se àquela última prestação... E com influência da etapa na Torre. Era a subida que melhor assentava a Brandão, mas foi o dia em que não esteve ao nível desejado. Reagiu bem, mas ficou desperdiçou ali a oportunidade de ganhar tempo valioso e até perdeu para João Rodrigues. Colectivamente a Efapel não foi tão forte quanto se esperava. Henrique Casimiro foi de luxo, mas pagou o esforço na Senhora da Graça. Porém, nenhum dos companheiros teve uma exibição perto do nível de Casimiro. Às primeiras acelerações nas montanhas, rapidamente Brandão só ficava com Casimiro. Rafael Silva cumpriu o seu trabalho no terreno mais plano, mas esperava-se mais de Sérgio Paulinho, Bruno Silva, Fabricio Ferrari e Nikolay Mihaylov. A Efapel saiu da Volta sem a camisola amarela e sem etapas ganhas. Ainda assim, fez algo que há muito não se via, fez a W52-FC Porto suar bem mais para ganhar.


Miranda-Mortágua: Gaspar Gonçalves entrou com tudo na Volta a Portugal, à procura da camisola da montanha ou dos pontos. Quando chegaram as etapas mais difíceis, foi o experiente Hugo Sancho que assumiu protagonismo. O grito de frustração na Serra do Larouco revelou bem como o ciclista apostou forte naquela etapa, tendo sido batido com a meta à vista por Luís Gomes. Tentou de novo nas duas últimas tiradas em linha, mas foi naquela que teve a grande oportunidade de ganhar e dar uma vitória a esta equipa Continental sub-25. O director desportivo Pedro Silva nunca desistiu de procurar subir ao pódio na Volta e Sancho fê-lo no Porto ao receber o prémio da combatividade.

UD Oliveirense-InOutBuild: Aquela queda de Rafael Lourenço em Bragança... Momento de enorme frustração para a outra equipa Continental sub-25 do pelotão nacional (há ainda a LA Alumínios-LA Sport). É um dos mais recentes jovens a despontar na formação de Manuel Correia e conseguiu ficar no grupo reduzido que ia disputar a vitória de etapa. Caiu numa curva, numa estrada molhada pela chuva. Foi uma pena para o ciclista e para a equipa que tentou mostrar-se em fugas. Contratou o colombiano Juan Filipe Osorio para dar um pouco mais de experiência a um plantel tão jovem e o antigo ciclista da Manzana Postobón, sem equipa desde o fim da estrutura, tentou aparecer na montanha. Porém, aquele momento de Rafael Lourenço marcou a corrida de uma UD Oliveirense-InOutBuild que esteve tão perto da possibilidade de lutar por uma etapa.

Medellin: Com pouco tempo para recuperar de uma corrida feita na China, não surpreendeu quando a maioria dos ciclistas da formação colombiano começaram rapidamente a eclipsar-se. Foi o caso de Fabio Duarte, mas não de Cristhian Montoya. A equipa até começou com menos um ciclista, pois o vencedor da Volta ao Lago Qinghai, Robinson Chalapud, acabou por ficar de fora. Aos 42 anos, Óscar Sevilla até arrancou a Volta a Portugal muito bem, mas uma queda limitou-o fisicamente. Ainda lutou por uma etapa, mas os problemas físicos e o cansaço da corrida e viagem chinesa tiveram o seu peso nas prestações. Já Montoya conseguiu ser o único corredor de uma equipa estrangeira a intrometer-se no top dez, sendo oitavo, a 5:24 minutos de João Rodrigues. Nunca esteve na disputa sequer do pódio, mas foi muito regular nas etapas mais difíceis.

Aviludo-Louletano: Apostar tudo num só ciclista tem destas coisas. A corrida estava a correr bem, com Vicente García de Mateos não só na luta por um terceiro pódio consecutivo, mas também pela vitória. Estava a 34 segundos da liderança, então de Joni Brandão, antes da etapa da Senhora da Graça. Passou mal a noite e a indisposição acabou mesmo por obrigá-lo a abandonar no penúltimo dia de corrida, com Oscar Hernandez e André Evangelista a fazerem o mesmo. Fim de Volta para a equipa algarvia. Depois de dois anos com pódio, camisola verde e etapas, a Aviludo-Louletano saiu sem nada. Luís Fernandes, que realizou uma boa corrida, ainda andou no top dez (terminou na 12ª posição) e deu tudo o que tinha para ganhar na Senhora da Graça, mas não conseguiu. Volta frustrante para o director desportivo Jorge Piedade.

Vito-Feirense-PNB: Já era expectável que seria uma Volta complicada para a equipa de Joaquim Andrade. Sem Edgar Pinto - agora na W52-FC Porto -, não houve uma referência para a geral, sendo o objectivo procurar uma vitória de etapa. João Matias tentou ao sprint e ainda procurou a solução de uma fuga. Sem sucesso. Filipe Cardoso procurou a mesma táctica da fuga, mas também sem resultado. Óscar Pelegrí esteve apagado e o principal destaque acabou por ser um Jesus del Pino que se tornou no exemplo de perseverança da corrida. Caiu na etapa da Senhora da Graça e ficou muito, mas mesmo muito mal tratado. Partiu para o contra-relógio cheio de ligaduras, mas terminou.

Caja Rural: Domingos Gonçalves está longe da forma que apresentava há um ano, então na Rádio Popular-Boavista e quando venceu uma etapa. O gémeo de Barcelos ainda entrou em fugas, incluindo na etapa da Torre, mas abandonou na sexta etapa, por motivos de saúde. Se o português era inevitavelmente uma das figuras da equipa espanhola do segundo escalão do ciclismo mundial, havia mais corredores com potencial para aparecerem na corrida. Matteo Malucelli ainda procurou os sprints, mas David González López (também abandonou no mesmo dia de Gonçalves) e o veterano Sergio Pardilla, por exemplo, estiveram muito discretos.

LA Alumínios-LA Sport: Segundo ano do projecto Continental sub-25 e uma grande conquista para a equipa de Hernâni Brôco. Emanuel Duarte estreou-se na Volta vencendo a classificação da juventude, que segurou no conta-relógio final por apenas dois segundos. Todos os ciclistas da equipa 100% portuguesa chegaram ao fim e com razões para celebrar. Um prémio para o trabalho que está a ser realizado nesta formação, destacando-se ainda David Ribeiro, que andou em fugas, procurou incessantemente vestir a camisola da montanha, que conseguiu durante um dia.

Fundação Euskadi: Sempre uma atitude de lutar, de dar espectáculo. Esta Euskadi recuperou as populares camisolas laranjas da saudosa Euskaltel-Euskadi e os seus jovens ciclistas nunca desperdiçam uma oportunidade para conquistar bons resultados. A equipa foi presença assídua nas fugas, procurou vencer uma etapa, foi líder da montanha nos primeiros dias com Peio Goikoetxea e uma queda na tirada da Senhora da Graça atirou para fora da corrida Unai Cuadrado, que liderava a classificação da juventude. A competir assim, é uma equipa muito bem-vinda.

Israel Cycling Academy: A formação Profissional Continental esteve pelo terceiro ano na Volta a Portugal, mas excluindo em 2017 quando Krists Neilands venceu a classificação da juventude, a equipa tem tendência a passar relativamente despercebida. O australiano Zak Dempster ainda foi terceiro na Guarda, mas a Israel Cycling Academy tinha ciclistas para se mostrar um pouco mais.

Euskadi-Murias: É presença assídua em Portugal, mesmo depois de subir ao segundo escalão e não costuma desiludir. Não trouxe o ciclista que este ano tem ganho por cá, Enrique Sanz, mas Mikel Aristi (segunda etapa) e Hector Saez (sexta) conquistaram etapas, com a equipa a estar ainda na luta pela juventude, com Urko Berrade, que perdeu por dois segundos. Seis das sete vitórias que a formação basca tem em 2019 foram alcançadas em provas portuguesas. Procurou mais destaque, participando em algumas fugas, valorizando a sua presença na Volta.

Arkéa Samsic: Esperava-se um pouco mais desta equipa Profissional Continental. Se era expectável que alguns dos ciclistas pudessem ter uma atitude mais de rodar em Portugal, ainda assim também se esperaria ver um pouco das suas capacidades. Excepto dois, um deles, um dos nomes mais sonantes da corrida. Brice Feillu procurou uma boa classificação na geral, mas nunca teve pernas para pensar num top dez. Ficou na 16ª posição, a 13:33 minutos do vencedor. Mas quem mais sobressaiu foi um jovem de 22 anos. Prestações interessantes de Thibault Guernalec. Foi quarto e quinto classificado nos contra-relógios e ainda fez outro quarto lugar na etapa de Braga. Mas ainda assim, soube a pouco para esta Arkéa Samsic, que, sem surpresa, não trouxe nenhum grande estrela (Warren Barguil e André Greipel, por exemplo, representam esta formação francesa), mas tinha potencial para mais e melhor.

Amore & Vita-Prodir: Duas vitórias de etapa e a procura por mais. Atitude de valorizar desta equipa com licença da Letónia, ainda que seja de raízes italianas. Davide Appollonio foi o actor principal de umas das histórias iniciais da Volta a Portugal. Foi a sua primeira corrida após uma suspensão de quatro anos por doping e venceu logo a primeira etapa, em Leiria. A equipa ficou ainda mais motivada e Marco Tizza conquistou o difícil final da Guarda. A procura por mais continuou, com Tizza em destaque.

Swiss Racing Academy: Equipa interessante de ver. Ciclistas muito jovens, mas com vontade de aproveitar a oportunidade de mostrarem-se numa corrida tão exigente. Por centésimos de segundo, Gian Friesecke quase surpreendeu no prólogo e foi sexto no contra-relógio final. Mathias Reutimann foi outro dos destaques positivos, mas na montanha. Foi terceiro na Serra do Larouco, faltando forças para um sprint final com Luís Gomes e Hugo Sancho. A SRA foi uma equipa muito activa que entrou em várias fugas. Prestação muito positiva.

Bai-Sicasal-Petro de Luanda: Só o estar na Volta a Portugal foi uma vitória para a equipa angolana. Conseguir entrar em fugas e mostrar a camisola na televisão foi uma considerado uma conquista. Porém, viu-se pouco dos ciclistas angolanos e foi mesmo um português a assumir algum protagonismo, como já era esperado. Depois de duas temporadas mais dedicado ao BTT, Micael Isidoro conseguiu regressar à estrada aos 37 anos. Procurou fugas e mostrar-se no terreno onde se sente mais à vontade, na montanha, tendo uma liberdade que raramente encontrou numa carreira passada como gregário. O destaque foi para a etapa da Bragança, com Micael a terminar no oitavo lugar.

ProTouch: A equipa 100% sul-africana pretendeu dar aos ciclistas a possibilidade de experimentar uma corrida por etapas mais longa e com grande dureza. Não foi fácil para os corredores e só três chegaram ao fim, com James Fourie a ser o "lanterna vermelha" ao terminar a 3:21:04 horas do vencedor João Rodrigues. Tentou as fugas, mas pouco se viu desta formação.

»»João Rodrigues cumpriu o plano mais cedo do que o previsto««

»»Regressou após quatro anos de suspensão e agradeceu à equipa com vitória em Leiria««

Sem comentários:

Enviar um comentário