4 de agosto de 2019

João Rodrigues perfeito, Veloso de amarelo, Mestre de verde. Domínio da W52-FC Porto intocável após a Torre

(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
Depois de se afirmar como elemento essencial de trabalho na W52-FC Porto, João Rodrigues não demorou em confirmar a sua capacidade para ser um líder. Já assim o tinha demonstrado ao vencer a Volta ao Alentejo e fê-lo novamente numa das duas etapas míticas da Volta a Portugal. Três vitórias na carreira como elite, todas em 2019. O algarvio não se limitou a vencer na Torre. Foi imperial. Fez uma subida de qualidade, plena de confiança, com direito a um teste antes de o ataque decisivo. Ninguém o apanhou. Aos 24 anos, João Rodrigues vive uma época de sonho e colocou-se definitivamente na posição para disputar a Volta. Mas haverá hierarquias a respeitar, pois a Torre colocou, como se esperava, todos no seu lugar e colocou Gustavo Veloso como um sério candidato a uma vitória já pouco esperada nesta fase da carreira. É o espanhol que está de amarelo e portanto a primeira opção, mas sabendo que haverá alguém pronto a assumir a responsabilidade se ceder.

Dos quatro possíveis líderes, faltou pernas a António Carvalho, enquanto Edgar Pinto viveu mais do mesmo: o azar não larga este ciclista! Ainda assim, a 1:07 minutos da amarela, poderá sempre ser um joker, agora que Veloso e Rodrigues serão os protegidos. A Torre foi mais um exemplo do que há muito se sabe. A W52-FC Porto é a mais poderosa, com mais do que uma solução para controlar a Volta e ir ganhando etapas, enquanto vai mantendo a camisola amarela que detém desde o primeiro dia, primeiro com Samuel Caldeira antes de Veloso a vestir. Em cinco etapas, ganhou três, com três ciclistas diferentes: Caldeira, Daniel Mestre (líder da classificação dos pontos) e agora João Rodrigues.


João Rodrigues foi perfeito na subida à Torre
(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
Apesar deste regresso da Torre como final de etapa, quatro anos depois - o último vencedor havia sido Delio Fernández, da então W52-Quinta da Lixa -, ter colocado todos no seu lugar, não ditou grandes diferenças. No entanto, deixou claro algumas debilidades e também como há quem não queira virar a cara à luta, apesar de não ter as armas da W52-FC Porto. Foi o caso da Aviludo-Louletano. Tomou, algo surpreendentemente, as rédeas na derradeira subida de cerca de 19 quilómetros (145 no total, que começaram na Pampilhosa da Serra), partindo de imediato o grupo. Excelente trabalho de Óscar Hernández, com Luís Fernandes a tentar escapar, obrigando a que o ritmo se mantivesse alto para o perseguir. O líder, Vicente García de Mateos, esteve bem, mas, tal como aconteceu nas últimas duas edições em que foi terceiro, não consegue atacar os rivais de forma a fazer diferença. Mas está a 20 segundos de Veloso e é um bom contra-relogista. A equipa algarvia sai da Torre com a ambição intocável.

O espanhol perdeu alguns segundos ao estar envolvido num incidente que deitou as aspirações de Edgar Pinto ao chão, literalmente. Num ziguezague numa altura em que ninguém ia com muita força, com a meta à vista, os ciclistas tocaram-se. O corredor da W52-FC Porto caiu e teve de acabar a etapa a pé, pois a bicicleta não ficou em condições. Ficou ainda com feridas visíveis na perna e braço esquerdo. Vicente García de Mateos também quase teve de parar, o que o fez perder ritmo e cinco segundos, bem mais simpático do que os 56 de Edgar Pinto. Este é um ciclista que tem uma carreira marcada por incidentes que o foram afastando de lutar por bons resultados.

Outra equipa a destacar-se pela positiva foi a Rádio Popular-Boavista. Audaz, sem medo de arriscar, não colheu o fruto desejado da vitória de etapa, mas tem João Benta a 1:06 e David Rodrigues a 1:08 - muito atacou este ciclista -, ambos no top dez. Para uma equipa que aposta sempre forte em vencer etapas, sai da Torre a olhar para um possível pódio.


(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
Já pela negativa esteve a Efapel. A equipa desfez-se como um castelo de cartas no primeiros quilómetros da subida à Torre. Até Joni Brandão pareceu sofrer um pouco, mas acabou bem e até tentou um ataque, ainda que pouco convincente. Valeu ao líder um Henrique Casimiro em boa forma, que foi um apoio essencial e o braço direito que Brandão precisa. Esperava-se um pouco mais da equipa, que parecia ser a única a ter argumentos para enfrentar a W52-FC Porto, mas no primeiro teste de fogo, claudicou.

Derrotado saiu o Sporting-Tavira. Alejandro Marque era o melhor classificado, mas pouco antes do início da Torre, ficou para trás devido a um incidente com um ciclista da Vito-Feirense-PNB. Numa táctica estranha e provavelmente falta de comunicação, a equipa atacava na frente, enquanto tentava recolocar o espanhol no grupo principal. Perdeu mais de oito minutos. Tiago Machado pode até ter feito uma boa subida, mas cortou a meta a 1:57 minutos e já são 2:45 para recuperar. Porém, há Frederico Figueiredo. O senhor regularidade. Há dois dias foi o azarado ao cair duas vezes, mas ali esteve junto ao grupo principal na Serra da Estrela, apenas cedendo já perto da meta. Está a 2:01 de Veloso. Será desta que este excelente ciclista vai ter a sua oportunidade?

Há muito que a merece. É um dos melhores ciclistas do nosso pelotão. Um exímio gregário, com capacidade para constantemente terminar entre os melhores, mesmo que não seja a escolha número um da equipa. Há que esperar que o Sporting-Tavira solte as amarras de trabalho a Frederico Figueiredo e o deixe procurar o seu resultado. A equipa não deverá ficar desiludida e bem precisa que alguém se destaque.

Agora começa-se a olhar muito para o próximo fim-de-semana, com a Senhora da Graça e o contra-relógio final entre Gaia e Porto. No entanto, há uma etapa que ainda poderá fazer diferença. Na quinta-feira, haverá duas primeiras categorias em 45 quilómetros, com um difícil final na Serra do Larouco.

Veloso, Rodrigues e Mateos são bons contra-relogistas e poderão sempre ter essa arma final. Já Joni Brandão, ou os homens da Rádio Popular-Boavista, têm de ganhar tempo na montanha. Brandão melhorou substancialmente no esforço individual, mas se 27 segundos podem ser recuperáveis numa boa exibição na montanha, será bem mais complicado bater qualquer dos três ciclistas referidos no contra-relógio. Com as diferenças tão pequenas, está-se, por agora, a perceber que por um segundo se pode ganhar ou perder esta Volta.


Uma referência à LA Alumínios-LA Sport. Mesmo com a luta pela geral a centrar as atenções, não pode ficar de parte como esta equipa está na luta pela montanha com David Ribeiro e conseguiu vestir a camisola branca da juventude com Emanuel Duarte. Falta muita Volta, mas a equipa sub-25 está a encontrar o seu lugar não só de destaque, mas também no pódio. Excelente trabalho dos ciclistas de Hernâni Brôco.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

5ª etapa: Oliveira do Hospital - Guarda, 158 km



Na teoria, esta é uma etapa que até pede movimentações nos últimos 20/25 quilómetros. São duas subidas consecutivas, uma de segunda e outra de terceira categoria, que coincide com a meta na cidade da Guarda. Falta saber se resta força depois de uma Serra da Estrela capaz de desgastar o mais resistente dos ciclistas. Terça-feira é dia de descanso, pelo que poderá ajudar a que alguém tente recuperar algum tempo perdido.

A tirada arranca no Largo Ribeiro do Amaral, em Oliveira do Hospital, às 13:10, com chegada prevista ao Largo General Humberto Delgado por volta das 17:20.

»»Subida à Torre será enfrentada com ânimos diferentes««

»»Terminou a longa espera de Gustavo Veloso««

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