11 de agosto de 2019

João Rodrigues cumpriu o plano mais cedo do que o previsto

(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
Não era para ser já. João Rodrigues estava a ser preparado para assumir a responsabilidade de liderar a W52-FC Porto na Volta a Portugal em breve. Mas não já. A equipa acreditava que estava perante um ciclista que tinha tudo para ganhar a Volta. Mas não já. O ano começou com o algarvio a ser testado nesse papel de líder. Passou exemplarmente, com destaque para a vitória na Alentejana, mas não só. A Volta era para Raúl Alarcón. Contudo, uma queda trocou as voltas ao espanhol, vencedor das últimas duas edições. Não era para ser já, mas teve mesmo de ser e não havia razões para hesitar. Rodrigues foi eleito um dos líderes. Gustavo Veloso acabou por estar muito tempo na linha da frente, mas mais uma queda trocou mais umas voltas, mas não a Volta de João Rodrigues. Venceu justamente a Grandíssima que em 2019 fez jus ao nome, tal como teria sido justo se Joni Brandão a tivesse conquistado. Numa Avenida dos Aliados vestida de azul e branco, levantou o troféu o algarvio que conquistou o norte.

Um jovem Rodrigues, de apenas 18 anos, viveu uma experiência que não esqueceu quando em 2015 fez a estreia na Volta a Portugal. Sofreu, mas terminou. Desde logo ficou a vontade de trabalhar mais e melhor para um dia regressar e cumprir o sonho de ser o campeão. Deixou a equipa da sua região, o Tavira, quando a W52-FC Porto o chamou para lhe permitir evoluir e explorar o potencial que os responsáveis viam em Rodrigues. Durante duas temporadas, o algarvio foi sendo preparado, em corridas em que tinha a responsabilidade de trabalhar para colegas, mas sem a pressão de apresentar resultados.


(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
João Rodrigues preferiu dar este passo em detrimento de procurar uma equipa de clube, por exemplo, onde, como sub-23, talvez pudesse ter mais destaque. No entanto, não só nunca se arrependeu da escolha, como em 2018 ficou claro como tinha sido a mais correcta. Finalmente regressou à Volta a Portugal. Um João tão diferente do jovem inexperiente de 2015. Apareceu em grande na fase decisiva da corrida, contribuindo e muito para que Alarcón vencesse pela segunda vez. O verdadeiro gregário de luxo, mas que mostrava que podia ser mais.

Esta época deram-lhe liberdade na "sua" Volta ao Algarve e João Rodrigues fez nono, um ano depois de até ter ido ao pódio para vestir a camisola azul da montanha, ainda que só por um dia. Nesse top dez ficaram nomes como Wout Poesl (Ineos), Enric Mas (Deceuninck-QuickStep) e Sam Oomen (Sunweb), por exemplo, sem esquecer o vencedor Tadej Pogacar (UAE Team Emirates), um dos jovens que este ano se afirmou no World Tour.

Rodrigues continuou a afirmar-se por cá. Por agora... A W52-FC Porto apostou nele para a Clássica da Arrábida, mas um azar na subida final, tirou-o da discussão. Foi à Volta ao Alentejo alcançar finalmente a sua primeira vitória como profissional. Um contra-relógio, uma especialidade que nos últimos dois anos tanto tem trabalhado. Venceu mesmo a geral e até lhe custava acreditar no que tinha acabado de alcançar. Mal ele sabia que um fantástico 2019 estava apenas a começar! Seguia-se a possibilidade de se mostrar numa corrida World Tour. Ficou doente e a Volta a Turquia ficou fora do seu calendário, para sua enorme desilusão.


(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
Mas ainda tinha tanto por ambicionar. Seria sempre um dos planos da equipa para a Volta a Portugal, mesmo com Raúl Alarcón como primeira escolha. Uma fractura na clavícula no Grande Prémio Abimota afastou o esapnhol. Rodrigues acabou como provável número um, mesmo que Gustavo Veloso, o suplente chamado à última hora, surgisse numa forma como já não se esperava. Rodrigues respeita a hierarquias e sempre colocou Veloso como líder, ainda mais com o espanhol de amarelo. No entanto, foi o algarvio que foi rei na Torre, um sinal que estava mesmo muito bem. A queda em Bragança foi um enorme susto. Rodrigues ainda foi ao hospital, mas estava tudo bem. Veloso ficou pior, além de Daniel Mestre ter partido uma costela.

A Volta deu mesmo uma volta, com Joni Brandão a aparecer em grande e a W52-FC a fraquejar um pouco. Só um pouco. Rodrigues respondeu na Senhora da Graça ao segundo de desvantagem e partiu de igual para igual com Brandão para o contra-relógio. A especialidade que tanto tem trabalhado acabou por lhe render duas conquistas no ano em que se tornou definitivamente uma figura do pelotão nacional.  27 segundos ficaram a separar os dois após 19,5 quilómetros entre Gaia e Porto. Não ficaram dúvidas de quem era o mais forte, tal como não ficam dúvidas que Rodrigues é o mais recente valor nacional a despontar e logo com a vitória mais desejada.


(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
E não esquecer, além das duas etapas do algarvio, Samuel Caldeira ganhou o prólogo, Daniel Mestre a terceira etapa e ainda conquistou a classificação dos pontos, mesmo com a costela partida. António Carvalho venceu na Senhora da Graça e a W52-FC Porto foi novamente a vencedora por equipas.

João Rodrigues tem 24 anos, faz 25 a 15 de Novembro. Vão colocar-se questões sobre o seu futuro. Vai a W52-FC Porto colocá-lo como líder indiscutível para a Volta de 2020, ou irá partilhar o estatuto de Alarcón? Irá Rodrigues ficar por Portugal? Apesar de sair para equipas com outros potenciais ser objectivo para qualquer ciclista, também é verdade que alguns valores nacionais têm feito carreira por cá: Joni Brandão (Efapel) e Frederico Figueiredo (Sporting-Tavira) são dois exemplos disso mesmo.

Haverá tempo para responder às questões sobre o futuro deste ciclista tão completo e ainda com margem para continuar a evoluir. Agora é altura de celebrar um triunfo especial por ser a Volta a Portugal, por ser a primeira conquista em apenas três participações e por ter sido numa das melhores, mais difícil e mais emocionante edições dos últimos anos. Não era para ser já, mas para a W52-FC Porto e para o seu director desportivo, Nuno Ribeiro, acabou por ser o momento certo! Ficou a confirmação que a aposta e a crença no potencial do jovem Rodrigues foram completamente acertadas.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

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