(Fotografia: © Podium/Paulo Maria) |
É o primeiro a admitir que cometeu um erro que lhe poderia ter custado a carreira. Davide Appollonio conseguiu uma oportunidade já pouco vista para quem cumpriu quatro anos de suspensão por ter testado positivo por Eritropoetina (EPO). O seu regresso dá-se precisamente na Volta a Portugal e aquele que outrora foi considerado um promissor ciclista italiano, que esteve duas épocas na Sky e outras tantas na AG2R, tenta recuperar o tempo perdido, não querendo esconder o seu passado, mas esperando que possa ser um exemplo do que os jovens não devem fazer e do alto custo que a escolha que fez teve na sua vida.
Appollonio venceu sem discussão ao sprint a primeira etapa da Volta a Portugal, 174,5 quilómetros entre Miranda do Corvo e Leiria. Não foi um dia fácil para os sprinters, tendo em conta que tiveram de ultrapassar uma primeira categoria, duas quartas e uma segunda em pouco mais de 100 quilómetros. O ciclista foi contratado no final de Junho pela Amore & Vita-Prodir, equipa com licença da Letónia, mas de raízes italianas. Tem 30 anos feitos pouco antes de assinar pela formação que lhe está a dar uma inesperada segunda oportunidade e que o corredor agradeceu já com uma vitória.
Ao ser suspenso, Appollonio caiu em depressão, chegou a pesar mais de 100 quilos e a bicicleta só voltou a fazer parte da sua vida por influência da mulher e de Riccardo Forconi, o seu mentor, um antigo ciclista, companheiro de Marco Pantani na Mercatone Uno e que antes representou precisamente a Amore & Vita. Forconi teria também um papel importante em convencer o director Ivano Fanini em contratar Appollonio.
"Não é uma questão de simplesmente regressar às corridas, acima de tudo é uma questão de fazer com Davide um caminho fundamental contra o doping. O Davide cometeu um erro e pagou por ele. Ele regressa com o reconhecimento que cometeu um grande erro. Agora deve ser uma figura de referência e ensinar os jovens, mesmo aqueles de grande talento como ele, que não devem sequer pensar em certas práticas ilegais. Davide tem muito a dizer e muito pode fazer para se progredir na guerra contra o doping", explicou Fanini numa entrevista ao site italiano Valdinievolve Sport, antes da Volta a Portugal.
Appollonio reitera essa ideia de querer ajudar a combater o doping, depois de ele próprio ter caído nas suas malhas quando representava a Androni Giocattoli-Sidermec. O director da equipa, Gianni Savio, chegou mesmo a ameaçar em processar o ciclista por danos à imagem da equipa.
Quatro anos depois, Appollonio procura uma redenção que não é fácil de encontrar num pelotão internacional que vê cada vez menos com bons olhos ciclistas com o passado como o do italiano. Ainda mais numa altura em que a batalha para passar a imagem de uma modalidade limpa está longe de estar ganha, com a EPO a continuar a ser um problema.
É um ciclista que já sabia o que era ganhar e até esteve perto de o fazer na Volta a Itália quando então tentava afirmar-se ao mais alto nível. Esperou quatro anos para regressar à competição. Esperou oito para voltar a vencer, num triunfo muito celebrado pelo corredor, mas que deixou Fanini extasiado. Para o director foi uma aposta ganha e em boa altura, pois é apenas a segunda vitória do ano para a Amore & Vita-Prodir.
Classificação da primeira etapa, via ProCyclingStats.
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