25 de agosto de 2019

Eis Nairo Quintana!

(Fotografia: © Sarah Meyssonnier/La Vuelta)
Lembra-se daquele Nairo Quintana que mexia com as corridas, arriscava, atacava sem ficar a olhar constantemente para trás? Aí está ele! Afinal ainda há algo do bom velho Quintana - salvo seja, já que só tem 29 anos - nesta versão que, em anos recentes, se deixou dominar mais pelo receio de perder do que optar por arriscar para tentar ganhar. A vitória na segunda etapa da Vuelta foi muito mais do que um triunfo, foi um aviso a todos que veio discutir a corrida. Aviso para os rivais e internamente, para a Movistar.

Não foi uma etapa de alta montanha - até o próprio admitiu ter ficado surpreendido por vencer numa tirada assim - e sim, os rivais da fuga ficaram literalmente a olhar uns para os outros, não se entendendo na perseguição a Quintana. Mas lá está, arriscou e ganhou. E ganhou mais do que uma etapa, ganhou uma palavra forte dentro de uma Movistar que já olha mais para 2020 sem Quintana do que em dar tudo nesta Vuelta para Quintana.

A prova que mais uma vez esta Movistar não está assim tão unida em redor de Quintana, foi a forma como Alejandro Valverde tentou mexer na corrida. Ataques para beneficiar ele próprio, não Quintana. Chegou a ver-se uma aceleração, com Nelson Oliveira a ter de trabalhar para Valverde, enquanto Quintana, um pouco mais atrás, teve de se desenrascar sozinho para não sair da frente da corrida. Valverde disse que ia à Vuelta para lutar por etapas. Até pode ser, mas esta forma de correr demonstra que coloca os seus objectivos à frente de uma possível conquista de Quintana, tal como em 2018. 

Amanhã tudo pode mudar, é certo. Quintana não tem sido o ciclista mais constante nas grandes voltas. Mas, no imediato, o colombiano venceu a etapa com categoria, ainda que as bonificações tenham dado a liderança a Nicolas Roche por dois segundos. Quintana pode até quebrar noutra etapa, numa de alta montanha, como tantas vezes se tem visto, mas esta foi uma mensagem forte do colombiano, talvez com vontade de sair da Movistar com um último impacto. Um daqueles que ninguém esquece. Para isso, terá de ganhar a Vuelta. Quer sair mostrando que ainda pode ser o Quintana que venceu o Giro em 2014 e a Vuelta em 2016. Quer sair mostrando ser o Quintana que tanto se pensou que seria o primeiro colombiano a ganhar o Tour. 

Isso já não será possível. Mas com 29 anos, custava pensar que o melhor deste ciclista já tinha passado. Talvez a perspectiva de sair da Movistar esteja a "acordar" Quintana. Mas ainda falta muita corrida e muita luta com rivais... e internamente.

Um suspiro de alívio para a Sunweb

(Fotografia: © Sarah Meyssonnier/La Vuelta)
Para uma equipa que de repente passa de um objectivo de consolidação em redor de Tom Dumoulin, para ter de reprogramar os seus projectos com a anunciada saída do holandês para a Jumbo-Visma, ver Nicolas Roche liderar a Vuelta é um momento importante de uma época muito aquém do esperado.  Apenas seis vitórias, ainda que uma no Giro, por Chad Haga (contra-relógio final) e sem grande expectativa de ver o palmarés aumentar muito mais até ao final de 2019.

Porém, enquanto a Sunweb vai repensando a sua estratégia para 2020, Nicolas Roche tenta, aos 35 anos, saborear um momento que repete seis anos depois. É a segunda vez que o irlandês veste a camisola vermelha da liderança na Volta a Espanha e o que mais deseja é tentar assim permanecer mais do que um dia, o tempo que durou em 2013.

Numa segunda etapa com alguma montanha (Benidorm - Calpe, 199,6 quilómetros), a segunda categoria, a cerca de 30 quilómetros do final, partiu por completo o pelotão, eliminou os sprinters e proporcionou que alguns dos candidatos tentassem recuperar o tempo perdido no acidentado contra-relógio inicial. Assim foi com Primoz Roglic (Jumbo-Visma) e Fabio Aru (UAE Team Emirates) e foi muito animador ver o italiano mostrar-se em forma depois da complicada temporada que teve até ao momento, não esquecendo que foi dos que caiu no sábado.

O que não foi tão animador foi ver a Astana. Miguel Ángel López está bem, é certo. Não surpreende que tenha perdido a camisola vermelha, já que seria um desgaste grande ter de controlar uma Vuelta desde tão cedo. No entanto, perdeu 33 segundos muito por culpa da falta de ajuda dos companheiros. Os que trabalharam mais cedo, quebraram na referida subida, o que era expectável. O problema é que Jakob Fuglsang comprovou que não vai lutar pela geral e quer "rodar" para os Mundiais e Ion Izagirre atacou a pensar no seu resultado e não no de López. O espanhol poderá não conseguir esconder a frustração de não ter recebido uma liderança numa grande volta nesta sua mudança para a Astana.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

3ª etapa: Ibi. Ciudad del Juguete - Alicante (188 quilómetros)


Senhores sprinters, eis a vossa oportunidade. Não são muitos, com destaque para Sam Bennett (Bora-Hansgrohe), Fabio Jakobsen (Deceuninck-QuickStep), Luka Mezgec (Mitchelton-Scott) e, claro, Fernando Gaviria (UAE Team Emirates). Porém, não será uma etapa nada plana, inclusivamente com duas terceiras categorias já na segunda metade do dia. Caso algum descole, fica a consolação que ainda poderá ter tempo de chegar à frente da corrida.




»»Início muito acidentado de Vuelta««

»»Os portugueses na Vuelta««

Sem comentários:

Enviar um comentário