13 de agosto de 2019

Doença força fim de carreira, mas ciclista quer dedicar-se à vela e música. Até tem uma banda

(Fotografia: © EF Education First)
A carreira foi longa e até ao fim o gosto pelo ciclismo manteve-se intacto. Foi precisamente por isso que Matti Breschel tentou aguentar as dores e todo o mal-estar que uma doença sem cura lhe provocam. No entanto, rendeu-se ao facto de o melhor ser colocar um ponto final no ciclismo. Sem mágoas ou saudosismo, pois este dinamarquês não esconde que até é um alívio retirar-se e poder dedicar-se à vela e à música.

O corredor da EF Education First sofre de artrite psoriática e as dores têm acompanhado o ciclista durante esta temporada. A medicação que tomava para tentar controlar o problema acabava por ter efeitos que não ajudava nos seus objectivos profissionais. "Foi um grande alívio tomar finalmente a decisão de retirar-me porque estava a debater-me muito em encontrar uma boa forma. A medicação que estava a tomar deixavam-me k.o.. Estava a dormir 15 horas por dia, era super cansativo, especialmente para a minha cabeça", salientou Breschel, no anúncio da sua despedida.

"Para mim não fazia sentido ter uma doença como esta e continuar a ser um ciclista profissional. Especialmente nas duas últimas etapas da Volta a Itália que fiz, eu estava com muitas dores e pensei para comigo que 'se tivesse de parar o Giro, então deixaria de ser um ciclista profissional'. E foi quando tomei a decisão na quarta etapa, mas já andava a pensar muito entre Fevereiro e Maio", explicou.

Matti Breschel, de 34 anos, abandonou naquela quarta etapa, mas ainda fez um regresso recentemente, na clássica londrina Prudential RideLondon-Surrey, a 4 de Agosto. Apesar do entusiasmo por competir novamente, não terminou e agora vai mesmo pensar na próxima fase da sua vida. As ideias iniciais passam por dedicar-se a uma das suas paixões: música. Toca guitarra, bateria e baixo e até tem uma banda. Um trio chamado The Broom Wagons.

Qualquer inspiração no carro vassoura, não é pura coincidência, até porque todos os elementos são ou foram ciclistas: Christopher Juul-Jensen, dinamarquês da Mitchelton-Scott e Anders Lund, que se retirou em 2013 e quando foi filmado o único vídeo da banda que está no YouTubePorém, Breschel também quer aprender a velejar e explicou porquê: "É quase o mesmo sentimento de um longo treino de bicicleta nas montanhas, quando se está longe de tudo." Parece que ser novamente modelo está fora de questão, pois antes de ser ciclista desfilou em Milão, Londres e Nova Iorque.

No momento de fazer o balanço da carreira, Breschel realçou que está orgulhoso de tudo o que viveu, referindo como teve a possibilidade de conhecer o mundo com o ciclismo, como fez parte de grandes equipas, conhecendo tantas pessoas "porreiras" e como foi uma "experiência de vida".

Foi um homem de clássicas e venceu a Através das Flandres (2010), tendo alcançado top dez tanto na Volta a Flandres, como no Paris-Roubaix. Dos monumentos só não fez a Liège-Bastogne-Liège. O pavé sempre foi o seu terreno preferido. Participou nas três grandes voltas e ganhou uma etapa na Vuelta em 2008. O que poderia ter sido o grande momento da carreira escapou-lhe por tão pouco. A camisola do arco-íris de campeão do mundo acabou no corpo de Thor Hushovd, que bateu no sprint Breschel em Geelong, na Austrália (2010). Mas somou vitórias importantes, como etapas na Volta à Suíça, Catalunha, Luxemburgo e na "sua" Dinamarca, tendo ainda sido campeão nacional.

"Foi óptimo ter o Matti na equipa. Ele é uma pessoa inteligente e generosa e um ciclista incrivelmente astuto", afirmou o director da EF Education First, Jonathan Vaughters.  O dinamarquês representou durante quatro anos esta formação americana, interrompendo a estadia em 2017, quando esteve na Astana. Tinkoff, Robobank fazem parte do seu currículo, com a CSC a ser onde se afirmou depois de um ano na Team PH, ambas da Dinamarca.

artrite psoriática precipitou o final da carreira de Matti Breschel, que se junta assim a uma lista que conta com Mark Renshaw (Dimension Data) - eterno lançador de Mark Cavendish -, Laurens ten Dam (CCC), Markel Irizar (Trek-Segafredo), Lars Bak (Dimension Data), Steve Morabito (Groupama-FDJ), Roy Curvers (Sunweb) e Samuel Dumoulin (AG2R), entre outros, que vão terminar a carreira no final da temporada. Daan Olivier (Jumbo-Visma), de apenas 26 anos, também já abandonou a modalidade durante a época, depois de não ter conseguido recuperar de uma lesão provocada por uma queda.

O que é a artrite psoriática?

A explicação aqui transcrita é retirada do site da CUF: "A artrite psoriática é uma doença articular inflamatória crónica que afeta pessoas com história pessoal ou familiar de psoríase. Atinge as articulações e pode provocar dor, limitação e incapacidade funcional em graus variáveis. Evolui por surtos (crises com sintomas) intercalados por períodos de remissão (períodos sem sintomas), de forma imprevisível. Para já, não existe cura. Também não existe forma de prevenir."

Existem cinco tipos de artrite psoriática, que podem afectar diferentes parte do corpo e com diferentes consequências. "Além do envolvimento articular, outras estruturas podem também estar inflamadas, particularmente as unhas, o olho e as enteses (sítios de inserção dos tendões no osso). A artrite psoriática pode ainda estar associada a outras doenças importantes como diabetes mellitus, hipertensão arterial e dislipidemia", lê-se no site.

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