19 de agosto de 2019

Mudança de Dumoulin mexe muito com a Sunweb e cria dúvidas na Jumbo-Visma

(Fotografia: Facebook Sunweb)
A relação chegou a parecer inquebrável. A meio de 2017, pouco depois da vitória de Tom Dumoulin na Volta a Itália, a Sunweb fez uma renovação pouco vista no ciclismo: o holandês assinou até 2022. A equipa deixava definitivamente no passado o seu historial de apostar em etapas e clássicas, querendo construir uma estrutura cada vez mais forte em redor de Dumoulin para as grandes voltas, a sonhar com o Tour. Em dois anos a relação azedou, ao ponto de acabar. Os rumores foram ganhando força nas últimas semanas e a confirmação é agora oficial: Dumoulin assinou pela Jumbo-Visma precisamente até 2022.

Para a Sunweb quebra-se radicalmente um ciclo no qual os responsáveis esperavam tornar a equipa numa das potências nas grandes voltas. Para a Jumbo-Visma é mais um passo rumo à consolidação de um projecto que tem precisamente esse objectivo para as três semanas. Esta mudança de Dumoulin irá provocar alterações em ambas as equipas.

Começando pela Sunweb. A equipa tinha um conjunto de ciclistas experientes no apoio a Dumoulin e estava a juntar um grupo de jovens muito interessante. Havia um equilíbrio e que, sem ser uma equipa que pudesse medir forças de igual para igual com uma Sky (agora Ineos), a Sunweb conseguiu, além da vitória no Giro em 2017, um segundo lugar em Itália e em França em 2018. O descontentamento de Dumoulin começou a ganhar forma com as saídas de dois homens de confiança do holandês: Laurens ten Dam e Simon Geschke foram para a CCC esta temporada.

Com um Giro com três contra-relógios, o campeão do mundo da especialidade de 2017 não resistiu em regressar a Itália, deixando uma aposta mais exclusiva do Tour para talvez 2020. No entanto, caiu e abandonou muito cedo. A lesão no joelho acabou por ser mais grave do que o inicialmente diagnosticado. Dumoulin foi ao Critérium du Dauphiné fazer um teste e não passou. O estágio em altitude foi cancelado porque não aguentou. Acabaria por falhar o Tour. Este tratamento da lesão por parte da equipa terá sido uma machada se não final, lá perto.

Esta Sunweb tem sabido reagir às saídas dos seus líderes e até tem ficado mais forte. Foi assim quando Marcel Kittel deixou a formação, com John Degenkolb a seguir mais tarde o exemplo. A equipa concentrou-se em construir a sua estrutura para as grandes voltas, sem abanar ao perder as suas estrelas. E agora? Numa primeira análise às contratações já garantidas, são as clássicas que poderão tornar-se novamente um forte aposta. Vai chegar Tiesj Benoot (Lotto Soudal) e mais dois homens que poderão ser um excelente apoio ou até outra possibilidade para ganhar, como é o caso de Nico Denz (AG2R). Jasha Sütterlin (Movistar) é um excelente homem de trabalho, tanto para as corridas de um dia, como para as provas por etapas.

Quanto às grandes voltas, há a prata da casa, com Sam Oomen à cabeça (acabou a temporada muito cedo devido a um problema numa perna) e ainda Lennard Kämna, Soren Kragh Andersen (esteve em destaque na Volta ao Algarve), Marc Hirschi, Max Kanter e Casper Pedersen, entre outros jovens que muito prometem e que em breve se poderão tornar certezas. E sem esquecer Wilco Kelderman, o holandês que ou é perseguido por azares ou fica aquém do esperado. Tem qualidade, mas aos 28 anos já se começa a desesperar por ver o melhor deste ciclista, como aconteceu na Vuelta de 2017. E isto é quanto a voltistas, pois há mais um nome que é bom não esquecer: Cees Bol. É um ciclista que poderá tornar-se num bom sprinter e num temível homem de clássicas. Já o experiente Michael Matthews, mais do que nunca, terá de assumir um maior protagonismo.

A Sunweb poderá atravessar um período em que não será vista como uma candidata a discutir uma grande volta, mas se conseguir que alguns dos seus jovens se afirmem, poderá regressar à ribalta e até lá, as clássicas e os sprints poderão render alguns triunfos, tal como aconteceu com Kittel e Degenkolb, antes da ascensão de Dumoulin.

Como se organizará a Jumbo-Visma?

A equipa holandesa está definitivamente a querer enfrentar olhos nos olhos a Ineos. No Giro, não foi colectivamente tão forte como desejaria, mas no Tour deixou uma excelente imagem, chegando a funcionar bem melhor do que a rival britânica. A equipa viu o seu líder subir ao terceiro lugar do pódio em ambas as corridas, primeiro com Primoz Roglic e depois com Steven Kruijswijk e ambos vão atacar a Vuelta. Onde entra Dumoulin?

O holandês não foi contratado a pensar na Volta a França. Roglic e Kruijswijk poderão ter de trabalhar para Dumoulin, ficando com o Giro e Vuelta para tentar ganhar. A grande questão será precisamente como irá funcionar este trio. E claro, tal como a Ineos, a Jumbo-Visma poderá ganhar um plano B e C e que acabou por resultar bem na Ineos, mas muito mal na Movistar.

A Jumbo-Visma renasceu das cinzas e tem hoje bons líderes e um conjunto de homens de trabalho de enorme qualidade (George Bennett é um deles e poderá perder definitivamente espaço para ser líder numa grande volta). Parecia haver o equilíbrio perfeito. Com a chegada de Dumoulin haverá uma maior necessidade em controlar os egos, precisamente para que possa ser um exemplo mais à imagem da Ineos e bem longe do da Movistar.

Dumoulin diz que sente que vai regressar a casa aos 28 anos, depois de oito temporadas na Sunweb (nem sempre com este nome). No início da carreira representou a equipa de desenvolvimento da Rabobank, que serviu de base para a estrutura de elite agora com o nome de Jumbo-Visma. A casa acabou de ficar bem preenchida de voltistas, agora há que arrumá-la.

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