3 de agosto de 2019

Subida à Torre será enfrentada com ânimos diferentes

(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
De um lado temos uma W52-FC Porto sem líder assumido, mas com duas vitórias em quatro etapas e dona da camisola amarela desde o primeiro dia, dividida entre Samuel Caldeira e Gustavo Veloso. Por outro, temos uma Efapel ambiciosa, com o ciclista que ninguém hesita em considerar que chegou à Volta a Portugal em grande forma e como sendo um, senão o, principal candidato à vitória: Joni Brandão. Porém, quatro dias volvidos, está comprovado que pouco importa o que aconteceu até ao arranque da corrida, pois o que interessa agora é que Brandão teve um bom prólogo, mas depois tem sido um dos exemplos de como as coisas podem começar a correr mal. Este domingo há que subir à Torre, numa chegada que estava difícil regressar à Volta. É a etapa que vai começar a colocar todos no seu lugar e vai ser encarada de ânimos bem diferentes pelas duas equipas mais fortes e até mesmo por aquelas que "jogam" por fora.

Brandão teve um prólogo muito positivo, só perdendo para Gustavo Veloso e António Carvalho, da W52-FC Porto, entre os possíveis adversários na luta pela geral. Mas a Volta rapidamente tornou-se complicada. Na primeira etapa caiu juntamente com quase toda a equipa já perto da meta, mas foi salvo pela regra dos três quilómetros, não perdendo tempo. Não houve ferimentos, o que foi o mais importante. No segundo dia, nova queda, mas Brandão não foi afectado e pensava ele que o dia teria corrido bem. Mas não. Antes da partida para a terceira etapa, ficou a conhecer a penalização de que foi alvo por parte dos comissários. O líder da Efapel tinha precisado de receber assistência por problemas mecânicos na bicicleta e chegou mesmo a trocá-la. Num desses momentos, foi considerado que Brandão foi empurrado pelo mecânico. Resultado: 10 segundos de penalização que não caíram nada bem na Efapel.

Brandão foi de poucas palavras quando questionado, sendo difícil esconder o descontentamento. Já o director desportivo Rúben Pereira foi bem directo: "Considero que foi uma medida muito pesada e injusta. Já demonstrámos o nosso desagrado, porque para nós esta foi uma decisão que não foi ponderada. O nosso mecânico teve uma atitude normal. Não houve nenhum impulso nem houve mudança de velocidade no nosso carro. Além disso havia um comissário próximo de nós que de certeza impediria esse tipo de actos. Acredito que se o Colégio de Comissários continuar com este tipo de decisões o pelotão acaba muito reduzido, tendo em conta que 99% das equipas tem o mesmo tipo de procedimento."

Mas para piorar, Joni Brandão perdeu mais seis segundos na chegada a Castelo Branco, já que houve um corte no pelotão. Resultado, num dia perdeu 16 segundos para Veloso e são 23 os que tem para recuperar. Nada de impossível, mas é bem diferente do que ter apenas sete, como era o caso quando na quarta-feira quando cortou a meta em Santo António dos Cavaleiros.

Joni Brandão é o favorito a ganhar na Torre, numa subida que lhe assenta bem, mas irá enfrentar a etapa sabendo que tem de recuperar tempo. Mas este é um ciclista que tem capacidade para recuperar 23 segundos e até ganhar tempo. Contudo, será um dia essencial para que Henrique Casimiro, Sérgio Paulinho e Bruno Silva sejam gregários de luxo. O problema pode mesmo chamar-se W52-FC Porto.

A equipa do director Nuno Ribeiro está habituada a assumir o favoritismo. Este ano vai empurrando-o para Joni Brandão, numa estratégia de tentar aumentar a pressão num rival que está bem claro que a formação azul e branca respeita e muito. No entanto, a W52-FC Porto tem mostrado o seu domínio na Volta. A forma como abordou a fase final da terceira etapa (Santarém - Castelo Branco, 194,1 quilómetros) é mais um exemplo disso mesmo.

Ainda antes de Mestre cortar a meta, Veloso e Caldeira já festejavam efusivamente
(Fotografia:© Podium/Paulo Maria)
Os ciclistas entraram quase todos juntos na recta, quase a preencher toda a frente do pelotão. Por um lado preparavam o sprint de Daniel Mestre, por outro protegiam-se mutuamente, pois Edgar Pinto, João Rodrigues, António Carvalho e, claro, o camisola amarela Gustavo Veloso, vão todos para a Torre como candidatos, num autêntico jogo do adivinha quem é líder! Veloso até deu um exemplo de liderança, assumindo com Samuel Caldeira - o vencedor do prólogo - o lançamento para o sprint vitorioso de Daniel Mestre. Trabalho de equipa perfeito e se se mantiver na montanha, vai ser uma dor de cabeça para os adversários.

A Torre vai também ajudar a perceber quem das outras equipas vai tentar disputar a amarela, ou pelo menos um lugar no pódio.

Vicente García de Mateos (Aviludo-Louletano) tem andado discreto, não tentando disputar etapas como nas edições anteriores. Mas tem feito o seu trabalho, pois, é quarto classificado a oito segundos e Mikel Aristi (Euskadi-Murias) e Daniel Mestre, que estão à sua frente, não são adversários para a geral. O espanhol apontou tudo esta época à Volta a Portugal, pelo que a etapa da Torre será um teste muito importante.

O Sporting-Tavira enfrenta também um dia essencial. Não está a ser uma Volta fácil, com Tiago Machado a não ter todos os dias calmos e já perdeu algum tempo (49 segundos). Não é um trepador puro, pelo que a subida a Torre não será uma missão fácil, mas também se sabe como adora um bom desafio. Contudo, é Alejandro Marque que vai tentar garantir de vez o lugar de líder da equipa, pois está a 17 segundos de Veloso - também perdeu seis segundos na terceira etapa - e se conseguir manter-se perto, poderá tornar-se no ciclista a proteger na formação algarvia. Frederico Figueiredo é sempre uma peça essencial na equipa, mas na sexta-feira sofreu duas quedas, pelo que falta saber como estará fisicamente.

Ciclistas como João Benta (Rádio Popular-Boavista) e mesmo Domingos Gonçalves (Caja Rural) vão procurar colocar-se na luta pelo top dez. O ciclista de Barcelos tem estado discreto, mas depois de há um ano ter ficado num nono lugar, que até o surpreendeu um pouco, se Gonçalves estiver bem, não irá recusar a oportunidade de fazer melhor. O senão é a etapa acabar mesmo na Torre, o que não beneficia tanto, ao contrário do que acontece com João Benta.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

4ª etapa: Pampilhosa da Serra - Covilhã (Torre), 145 quilómetros



Quatro anos depois, a Torre será palco de uma chegada de etapa e não "apenas" local de passagem. Serão quase 20 quilómetros, com uma pendente média de 6,6% e para aquecer haverá uma segunda categoria praticamente logo a abrir a etapa, duas terceiras e uma quarta. A Torre é de categoria especial, não estivéssemos a falar do ponto mais alto de Portugal Continental: 1993 metros. Depois de um sábado bem quente, as previsões do Instituto Português do Mar e Atmosfera apontam para 16/17 graus de temperatura máxima, com o vento a rondar os 12/13 quilómetros por hora.

O último ciclista a vencer na Torre, em 2015, foi o espanhol Delio Fernández, da então W52-Quinta da Lixa, actual W52-FC Porto. Rui Sousa foi o último português, no ano antes e, aquando da apresentação da Volta a Portugal, recordou ao Volta ao Ciclismo esse momento, que pode ler no link em baixo.


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