15 de agosto de 2019

Parecia ser inevitável e foi mesmo: João Almeida entra no World Tour por uma porta enorme

(Fotografia: © João Fonseca Photographer)
Há ciclistas que parece ser inevitável que as portas do World Tour se abram mais cedo ou mais tarde. A sua mentalidade, a sua qualidade, a sua dedicação ao trabalho e os resultados que acompanham tudo isto, contribuíam para que se acreditasse que João Almeida chegaria ao mais alto nível. E vai fazê-lo pela porta grande. Uma das maiores. A Deceuninck-QuickStep contratou-o para as próximas duas temporadas.

As palavras de aprovação ao potencial do ciclista das Caldas da Rainha vem do próprio Patrick Lefevere, o director da equipa belga: "Somos conhecidos pela nossa habilidade em detectar jovens corredores, promovê-los ao World Tour e com o tempo, transformá-los em ciclistas de sucesso. O mais recente nesta longa linhagem é João Almeida, que andamos a seguir há alguns anos, tendo assim uma ideia do que ele é capaz. Os resultados bons e consistentes que ele tem realçam o talento e ambição. Saber que vai representar a equipa dá-nos grande satisfação."

O antigo júnior da equipa da Bairrada, que juntamente com Daniel Viegas (Kometa), não dava qualquer hipótese no seu escalão, não quis passar a sub-23 em Portugal. Seguiu para a equipa búlgara, mas de raízes italianas, Unieuro Trevigiani-Hemus 1896, antes de, um ano depois, mudar-se para uma das equipas mais desejada entre os jovens ciclistas: a Hagens Berman Axeon.

No anúncio da contratação é dada a referência como o português é o 160º ciclista a ser contratado no longo historial desta equipa histórica. As clássicas são a maior aposta, mas nas provas por etapas também vai sempre atrás de vitórias, principalmente em etapas, mas não só. Nas gerais das grandes voltas, Julian Alaphilippe e Enric Mas foram as recentes excepções, com a saga de amarelo do francês este ano no Tour e com o pódio na Vuelta do espanhol em 2018.

João Almeida vai entrar numa equipa ganhadora. E com espaço para todos ganharem. Somar mais de 50 vitórias por época é algo normal: vai em 54, com 14 ciclistas a vencerem. E até muito se fala de quando um ciclista sai da Deceuninck-QuickStep, não consegue atingir o nível que teve na equipa belga...

Por esta fortíssima estrutura - que nem a incerteza da presença de um patrocinador principal, como aconteceu há um ano, abala a qualidade do plantel - já passaram alguns nomes que marcaram a modalidade: Paolo Bettini, Tom Steels, Johan Museeuw, Tom Boonen, Gert Steegmans, Mark Cavendish... Este último ainda no activo, na Dimension Data, mas já numa fase de menor fulgor. E depois há ainda nomes como Marcel Kittel (está numa espécie de licença sabática), Tony Martin (agora na Jumbo-Visma), Fernando Gaviria (UAE Team Emirates), Philippe Gilbert e claro a grande figura do momento, Julian Alaphilippe.

A menção de Lefevere em referir como a equipa contrata muitos jovens não é por acaso. A Deceuninck-QuickStep não se deixa abater quando alguma grande figura decide sair. Os dois casos mais recentes são Marcel Kittel e Fernando Gaviria. A equipa não quebrou o ritmo de vitórias só por ter perdido dois ciclistas responsáveis por tantos. Há sempre alguém preparado a assumir a responsabilidade.

Álvaro Hodeg e Fabio Jakobsen, por exemplo, são dois jovens sprinters a despontar, mas entre os benjamins, a referência é Remco Evenepoel. 19 anos de puro talento! João Almeida (21) e Andrea Bagioli (20) são os dois jovens já garantidos para 2020. O italiano está na Colpack, enquanto o português é mais um a formar-se com distinção na maior referência da formação internacional.

A lista de ciclistas que passam pela Hagens Berman Axeon de Axel Merckx e que acabam no World Tour é impressionante e com João Almeida, serão quatro os portugueses a comprovarem como é uma estrutura ideal para evoluir rumo ao World Tour. Ruben Guerreiro deu o salto em 2017 para a Trek-Segafredo, estando actualmente na Katusha-Alpecin. Seguiram-se este ano os gémeos Oliveira, com Ivo e Rui a assinarem pela UAE Team Emirates. Agora é a vez de João Almeida, com outro português a já estar a cumprir a formação com Merckx: André Carvalho. Curiosamente, todos estiveram dois anos na equipa antes de passar ao World Tour.

Em 2018, João Almeida venceu a Liège-Bastogne-Liège de sub-23, foi quinto na Ronde de l'Isard, segundo no Giro para o seu escalão e sétimo no Tour de l'Avenir. Esta temporada, João Almeida está a aparecer mais forte na segunda metade da época. Conquistou os títulos nacionais de sub-23 de contra-relógio e de fundo e está em destaque na Volta ao Utah, que ainda decorre, sendo o líder da juventude. Isto tudo, além de outras excelentes prestações que já o tinham levado a estagiar com a Deceuninck-QuickStep em duas ocasiões.

"Foi sempre a minha primeira escolha e juntar-me a eles é um sonho tornado realidade. O ambiente é óptimo e pude ver durante os estágios que há uma grande ligação entre todos, ciclistas e staff, e isso é um aspecto que eu aprecio muito. E também, quando tomei a minha decisão, foi importante que a Deceuninck-QuickStep seja uma equipa conhecida por ajudar os jovens a evoluir. Estou ansioso para a minha primeira época como profissional e espero ajudar a equipa, aprender e melhorar o máximo possível", disse João Almeida.

O que parecia inevitável aconteceu mesmo e o futuro de João Almeida está aí, pronto para a 1 de Janeiro vestir um equipamento que tem levado tantos ciclistas ao topo.

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