23 de agosto de 2019

Danke Marcel!

Não houve qualquer hesitação em viajar 300 quilómetros para ver Kittel
em acção de perto, na Volta ao Algarve (Fotografia: © João Fonseca Photographer)
Quantas vezes respondi à pergunta "quem vai ganhar hoje" com o nome Marcel Kittel? Impossível lembrar-me! Foram tantas! Quando era ao sprint e quando estava Kittel era no alemão que recebia quase sempre o voto, depois de anos a escolher Mark Cavendish. E muitas vezes acertei. Outras ficou aquela frustração de perder por milímetros. Mas Kittel estava quase sempre lá, na luta.  Ver etapas que vão acabar ao sprint vale a pena quando existem sprinters como Kittel. Aqueles breves segundos de pura intensidade, de poder, de força, de risco, de velocidade... Com Kittel era emoção certa.

Foi um prazer e um privilégio ver Kittel competir. Sim, foi. O verbo está no tempo certo. Chegou ao fim uma carreira brilhante, mas também marcada por dois maus momentos. A pausa feita em Maio torna-se permanente. Ao segundo Kittel resolveu parar. Primeiro o homem, depois o ciclista. Mentalmente Kittel não já não tem a força, a vontade e a ambição que as suas pernas tantas vezes tiveram! Se a cabeça não acompanha, então está na altura de mudar.

Kittel vai ser pai. A novidade chegou já depois de ter saído da Katusha-Alpecin Diz que não quer ver o filho crescer por Skype, em alusão ao sacrifício que esta modalidade exige, às viagens, ao tempo de treino, estágios, corridas... Tantos não querem deixar de ver o grande Kittel sprintar, mas todos têm de compreendem a opção.

Kittel fala de um desporto exigente, capaz de tirar tempo para as amizades, para a família, para os pequenos prazer vida. Fala de rotina, a dedicação necessária para quem quer estar entre os melhores... Aos 31 anos já chega para Kittel. É tempo de mudar, tal como ele mudou e marcou uma era no sprint.

Objectivamente ficam os números. Mais de 80 vitórias como profissional, 14 na Volta a França, só cinco em 2017. Fez da Scheldeprijs sua, com outra mão cheia de vitórias na clássica belga. No Giro somou quatro etapas, faltou-lhe a Vuelta para fazer o pleno nas grandes voltas. Mas Kittel deixou marca em muitas das corridas por que passou, incluindo na Algarvia. O seu porte, a sua classe... o seu estilo (utilizar chapéu, nem pensar que estragava o penteado), Kittel nunca passou despercebido.

Fica também o ano negro de 2015 em que uma doença o limitou tanto e o fez querer sair da Giant-Alpecin e mudar de ares. A ida para a então Etixx-Quick Step fez-lhe tão bem. Contudo, fica também uma mudança madrasta para a Katusha-Alpecin que dificilmente poderia ter corrido pior. E tudo porque não quis discutir estatuto com Fernando Gaviria. Merecia uma saída do ciclismo por uma porta bem maior. O alemão tornou-se em mais um exemplo de quem sai da Quick-Step não consegue repetir o nível, perdendo uma luta psicológica que tantos ciclistas se debatem. 

Mas também ficarão as recordações de sprints inacreditáveis. Por vezes deixou os rivais a ver as suas costas. Por vezes ganhou a precisar do photo finish. Também ficará a recordação de ver Kittel ali tão perto na Volta ao Algarve e vê-lo ganhar em Tavira, depois de o ter feito em Albufeira. Ficou ainda com a classificação dos pontos. Naquele 2016, não houve qualquer hesitação. Ao estar confirmada a presença de Kittel, a única coisa a fazer era viajar 300 quilómetros para ver um dos melhores sprinters do mundo. Assim foi e, claro, o alemão não desiludiu.

Há ciclistas que nunca serão esquecidos. Em tempos mais recentes foi Kittel quem se tornou num deles.

Danke Marcel!





Dear friends, fans and companions, I would like to tell you all today that I am ending my career as a pro cyclist. I have thought long and hard about this decision and discussed it with my closest friends and my family. This decision process has not been a quick one, but has taken place over a longer time: During my nearly 20 year sports career there have been not only incredible successes but also difficult times. I have always been one to openly question and reflect when such things happen, so that I can learn and become better. That, together with the people around me, has made me the successful athlete that I now am, but this method has also taught to leave my old ways and learn new ones. I know that there is much more than just sport, for example my own future family. Recently the thought on this future without cycling has grown, as has the awareness of the sacrifices that such a beautiful but also very difficult sport like cycling brings with it. The biggest question of the last few months was: Can I and do I want to continue to make the sacrifices needed to be a world-class athlete? And my answer is: No, I do not want that any more, because I have always found the limitations on a top athlete as an increasing loss of quality of life. That is why I have a very happy and proud that at this point in my life I can make the decision to follow my heart in a new direction. At this point I would like to thank all the people who have supported me in my career: my former teammates, my trainers, my friends, and my family, but above all my fans for the incredible support in the last few years. I look forward to the future with much anticipation. Yours, Marcel
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