3 de novembro de 2016

"Não me intimida estar ao lado de Sagan e Majka. Motiva-me. Só tenho a melhorar com a presença deles"

2017 será um ano especial para José Mendes. O ciclista português chega ao World Tour aos 31 anos, envergando a camisola de campeão nacional e ao lado de alguns dos melhores corredores do mundo, com destaque, claro, para Peter Sagan. Há quatro anos que José Mendes está nesta estrutura alemã que apostou muito forte com a chegada de um novo patrocinador, pois não só quer estar no escalão máximo, como quer rapidamente tornar-se numa formação vencedora. "O próximo ano promete muito. A equipa vai sofrer uma grande remodelação, vai dar um grande salto. Conseguiu o Peter Sagan - para mim um dos símbolos máximos do ciclismo actual - assim como Rafal Majka. Regressa o Leopold König... a equipa conseguiu formar um grupo muito forte e estamos muito entusiasmados com a próxima temporada", salientou José Mendes ao Volta ao Ciclismo.

O ciclista português tem sido uma das peças fundamentais no crescimento da então NetApp Endura, agora Bora-Argon 18 e que em 2017 será a Bora-Hansgrohe. José Mendes referiu precisamente a qualidade da estrutura ao longo dos anos, admitindo que se sente muito bem nela. Assistiu a todas estas mudanças nos últimos meses com "grande entusiasmo", sabendo que ia fazer parte do salto para o World Tour. O nível será outro, mas a função na equipa será idêntica. "O meu papel vai continuar o mesmo. Sou um trabalhador para os líderes, principalmente nas etapas de montanha, mas se surgirem oportunidades como as que a equipa me tem dado, tenho que corresponder dentro do possível. Não sou um ciclista ganhador, não tenho grandes vitórias, mas quando é para trabalhar penso que tenho ajudado. Quando a equipa precisa de mim no papel de líder, também consigo resultados no top 10. Penso que a equipa está satisfeita com o meu trabalho", afirmou.

E deverá estar certamente, perante a aposta em José Mendes para fazer parte de uma estrutura tão ambiciosa. Uma das maiores provas de confiança foi a atribuição do dorsal número 1 da formação na Volta a Espanha: "Foi um orgulho e uma responsabilidade que eu assumi. A equipa recebeu convite para duas grandes voltas num ano e apostou os líderes assumidos no Tour e deram-me essa oportunidade na Vuelta."

"A lesão no joelho não me impediu de terminar [a Vuelta], mas limitou-me muito. E aquelas chegadas muito inclinadas prejudicaram ainda mais"

Sem receio e com autoridade, José Mendes rapidamente se foi mostrando no difícil percurso da Volta a Espanha, mas um problema no joelho acabaria por lhe limitar e dificultar a possibilidade de atingir os objectivos traçados. "Penso que no início estava a corresponder com o que estava a ser pedido, mas depois surgiram alguns problemas físicos que me impediram de render o máximo", contou. A José Mendes tinha sido pedido tentar ganhar uma etapa e, se possível, juntar um top 20, sendo que o principal seria sempre a vitória numa das tiradas. Em alguns dias ainda se chegou a ver o português a fazer tudo para se manter no grupo dos favoritos, mas os dias foram passando e o joelho foi limitando cada vez mais as suas prestações.

"A lesão no joelho não me impediu de terminar, mas limitou-me muito. E aquelas chegadas muito inclinadas prejudicaram ainda mais porque era um esforço muito grande para o corpo, mas na parte do joelho senti ainda mais. Chegou a um certo ponto que percebi que não seria possível o top 20. Restava-me tentar entrar numa fuga e talvez conseguir a etapa. Havia essa esperança", referiu. José Mendes não conquistou a desejada etapa e ficou na 54ª posição na geral a 2:05 horas do vencedor Nairo Quintana. Porém, lutou até final, mesmo limitado, naquela que foi considerada por muitos uma das grandes voltas mais difíceis de sempre.

"Gostava de participar no Giro e assim ter a possibilidade de dizer que estive nas três grandes voltas"

"Esta foi a minha segunda Vuelta e foi mais dura do que a outra [em 2013]. Em conversas com colegas no pelotão, eles diziam que não havia o chamado descanso, a etapa tranquila, em que se fosse a um ritmo cómodo para depois disputar o sprint. Houve muitas chegadas em alto e quando assim não era, o percurso era muito sinuoso e havia sempre uma equipa que queria fazer alguma coisa... Foi sem dúvida dura também devido a isso", explicou. E depois da Vuelta e também de duas presenças no Tour, José Mendes tem esperança de estar no Giro: "É a única que ainda não fiz e gostava de participar e assim ter a possibilidade de dizer que estive nas três grandes voltas!"

E porque não um Giro ao lado de Rafal Majka, ou talvez Leopold König, dois possíveis líderes? Já Peter Sagan estará no Tour e nas clássicas. Perante estes nomes de respeito - König é um velho conhecido, pois esteve na estrutura antes dos dois anos na Sky - José Mendes garante que não ficará intimidado. "Não me intimida estar ao lado de Sagan e Majka. Motiva-me. Só tenho a melhorar com a presença deles. Espero fazer muitas corridas com eles e aprender e ajudar", realçou.

O sorriso que a camisola de campeão nacional provoca

Momento da vitória nos Nacionais em Braga
(Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo)
Quando a conversa muda para o título de campeão nacional, um enorme sorriso surge de imediato no rosto de José Mendes. De tal forma, que não seriam necessárias palavras para perceber o quanto o orgulha envergar aquela camisola. "Foi a melhor vitória da minha carreira. E não é só a vitória, é o vestir a camisola durante um ano." José Mendes diz que nunca esquecerá o momento em que venceu a corrida em Braga: "Vestir aquela camisola é especial. Todos os ciclistas que tiveram o privilégio de a vestir sentiram isso. Todos os dias que a visto tenho um sentimento muito especial e vou tentar usufruir ao máximo este ano em que a posso usar."

Um dos objectivos para 2017 será precisamente tentar repetir o triunfo no Campeonato Nacional, ainda que para já tenha de aguardar pelo planeamento da equipa. "Para mim o Campeonato Nacional é uma obrigatoriedade. Só se houver algum impedimento é que não correrei."

Foi também segundo no contra-relógio, mas tentar fazer uma dobradinha é algo que José Mendes considera muito complicado e o culpado chama-se Nelson Oliveira: "Enquanto ele estiver presente e na sua forma habitual será muito difícil contrariar a qualidade dele. É um especialista nato e eu vou tentar melhorar todos os anos, mas se o Nelson mantiver o nível será complicado. Vou tentar aproximar-me e manter-me pelo menos no pódio."

A chamada para os Jogos Olímpicos que o surpreendeu e o joelho que lhe tirou os Europeus

(Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo)
O início de temporada não foi fácil para José Mendes, mas aos poucos o português foi recuperando a forma e o sexto lugar na Volta à Noruega e o sétimo na Eslovénia antecederam o sucesso em Braga. O seleccionador nacional José Poeira confiou no recém sagrado campeão nacional e chamou-o para os Jogos Olímpicos. "Foi uma surpresa... um orgulho... uma honra! Fazer parte da missão olímpica, estar ali na aldeia olímpica... é uma experiência que vai ficar para sempre", confessou. José Mendes esteve ao lado de André Cardoso e Nelson Oliveira, com a responsabilidade de ajudar o líder Rui Costa.. No entanto, admitiu que a corrida no Rio de Janeiro "não decorreu como gostava". "Foi um dia em que as coisas não me saíram como eu penso que eu poderia ter feito."

"Fazer parte da missão olímpica, estar ali na aldeia olímpica... é uma experiência que vai ficar para sempre"

Seguiu-se a convocatória para os Campeonatos Europeus, os primeiros abertos à elite. Mas o joelho que lhe deu problemas na Vuelta acabou por o obrigar a ficar em casa. "Sei que normalmente quando se termina uma volta de três semanas, se não se acabar muito desgastado, a seguir pode-se alcançar um bom momento de forma. Os Europeus estavam num timing perfeito. Sentia-me um pouco cansado, mas com um pouco de descanso poderia recuperar a tempo. O que me impediu mesmo foi o problema no joelho", recordou. A sua equipa desaconselhou-o a competir para não correr o risco de agravar e colocar em causa o início de 2017. O médico da federação concordou com o diagnóstico, pois era necessário pensar que "o próximo ano vai ser, sem dúvida, muito importante".

Quanto aos Mundiais, mesmo a 100% fisicamente, José Mendes disse que dificilmente iria, pois o percurso não era de todo para as suas características. E agora o campeão nacional só pensa em preparar 2017, confessando sentir-se muito motivado para começar o ano na reestruturada e ambiciosa Bora-Hansgrohe.

José Mendes Bike Day

Dia 20 Novembro poderá pedalar ao lado do campeão nacional e de outros ciclistas profissionais. O José Mendes Bike Day realiza-se entre Pevidém e Guimarães e tem um propósito 100% solidário. A receita angariada pelas inscrições (cinco euros) irá reverter para os Bombeiros Voluntários de Guimarães. O próprio ciclista já fez o apelo na sua página de Facebook e as inscrições podem ser feitas neste link.

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