29 de março de 2019

Valverde marca despedida. Mas não é preciso entrar já em modo saudosista

(Fotografia: © Bettiniphoto.net/Movistar Team)
O inevitável está a chegar para Alejandro Valverde. O espanhol anunciou quando pensa retirar-se. É um "em princípio", mas o discurso do espanhol demonstra como até já vai pensando no que fará quando deixar o ciclismo, como atleta. Contudo, não é preciso entrar já em modo saudosista, pois ainda haverá muitas corridas com o ciclista, muitas vitórias por conquistar, com os Jogos Olímpicos a ser um dos principais objectivos (provavelmente o principal) nesta recta final da sua carreira.

Portanto, teremos Valverde até 2021. Já era conhecida a vontade de seguir até pelo menos 2020, para marcar presença nos Jogos Olímpicos de Tóquio, mas o ciclista pretende continuar por mais um ano, talvez para competir como campeão olímpico... Com a conquista de um título mundial que parecia não querer nada com ele - seis pódios e nenhum primeiro lugar até 2018 -, houve a tentação de se pensar que o espanhol poderia terminar a carreira este ano, despedindo-se como campeão do mundo. No entanto, Valverde sente-se demasiado bem para deixar tão cedo. Está perto dos 39 anos (celebra-os a 25 de Abril), mas quer a continuar a disputar as corridas com ciclistas que estão nos seus vintes, mostrando como a idade é um número que afinal pode demorar mais tempo do que se pensava a ter o seu peso.

Apesar de esta época estar num ritmo bem diferente quanto a vitórias, Valverde garante não sente uma baixa de forma. Apenas venceu uma etapa nos Emirados Árabes Unidos, algo que contrasta e muito com anos recentes. Em 2018, por exemplo, no final de Março somava nove triunfos. Já segundos lugares são seis. "Estar desde os 23 anos até aos 39 ao máximo nível é muito complicado", salientou ao El Periódico. Referiu ainda que se não estivesse bem, não estaria a lutar por vitórias, mesmo admitindo que a nova geração "aperta muito".

Valverde esteve doente após a Volta aos Emirados Árabes Unidos, com uma febre a obrigá-lo a mudar um pouco o seu calendário, falhando a Strade Bianche. Na Volta à Catalunha, que se está a disputar, tem estado longe do seu melhor, mas não daremos Valverde como um ciclista em fase descendente, mesmo que até diga que está a sentir os efeitos da chamada "maldição do arco-íris", ou seja, quem veste a camisola de campeão do mundo tem dificuldades em ganhar.

Não deverá ser preciso ir à bruxa, pois Valverde apenas sofre do que acontece com qualquer ciclista que vence muito: há momentos de quebra, seja pela idade, ou simplesmente porque o pelotão está recheado de corredores de talento e igualmente fortes. E é por isso que não vale a pena falar já de Valverde no passado, só porque marcou a despedida ou porque está numa fase menos ganhadora. As duas épocas e meia que teremos de Valverde, não serão certamente para andar a passear nas corridas. Será um quarentão à procura de sair em grande, a querer deixar uma última marca que o cimentará ainda mais na história do ciclismo.

Em Espanha vai passando aos poucos o pânico de não existirem sucessores para Valverde, Alberto Contador ou Joaquim Rodríguez. Eles existem, mas ainda estão no processo de amadurecimento. Se vai haver um novo Valverde? Não. Tal como nunca houve, nem haverá um novo Eddy Merkcx na Bélgica (quantas ciclistas já foram apelidados do novo Merckx?). Não haverá um novo Valverde porque este corredor é único, como todos os grandes o são. São mais de 100 vitórias, com quatro Liège-Bastogne-Liège, cinco Flèche Wallonne, uma Volta a Espanha, pódio no Tour e Giro e claro, aquele Mundial que tanto lhe custou a conquistar. 

Haverá tempo para recordar a carreira de Valverde, mas, para já, há que continuar a escrever os seus feitos, pois estranho seria se ficasse por aqui quanto a vitórias. Depois, lá para 2021, Valverde dirá adeus... talvez: "Em princípio, em 2021, retiro-me. Algum ano tinha de ser. Farei mais uma temporada após os Jogos Olímpicos de Tóquio. Creio que assim estará bem", afirmou. O pós-ciclismo deverá passar pela continuidade na modalidade, ou na equipa de jovens que criou ou então num papel dentro de uma estrutura cuja história recente se confunde com a de Valverde, pois desde 2005 que é leal ao director Eusebio Unzué na actual Movistar.

Começou em 2002 na Kelme, pelo que serão quase 21 anos de carreira se se retirar em 2021. Quase porque em 2011 esteve afastado devido à suspensão após o envolvimento no caso conhecido como Operação Puerto, com os resultados de 2010 a serem anulados.

No imediato, a sua história passará pela Volta a Flandres, onde fará a sua estreia e aposta em chegar e vencer, antes de regressar às suas queridas Ardenas. Depois regressará ao Giro e apostará na Vuelta. E ainda teremos 2020 e 2021. Então sim, ficar-se-á com saudades.

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