7 de janeiro de 2018

A pressão psicológica por um convite para a Volta a França

(Fotografia: Vital Concept)
A contagem decrescente para conhecer quem recebe os convites para a Volta a França aproxima-se do fim e a Vital Concept joga as suas cartas na tentativa de ganhar um. E pelo sim, pelo não, colocou na mesa o seu ás: Bryan Coquard. A nova equipa francesa, do escalão Profissional Continental, tem no sprinter a sua grande contratação e aponta boa parte da temporada a uma presença no Tour. Apesar de haver o discurso do "não faz mal se não formos", será certamente difícil esconder a desilusão se não houver um convite. E já que não haverá tempo para demonstrar na estrada que a Vital Concept merece estar entre as quatro eleitas, então sobram as palavras: "Se os organizadores da Volta a França derem os convites sem nos dar tempo para provar o nosso valor, eles podem arrepender-se."

O recado é de Bryan Coquard que tenta assim exercer uma pressão psicológica, que se junta à do director da equipa Jean-François Boulart. "Nós merecemos o nosso lugar", disse no final do ano ao jornal L'Equipe. Coquard tenta ganhar umas semanas que a Vital Concept poderá não ter para se mostrar. "Seria bom que eles esperassem um pouco e vissem o que nós podemos fazer. Espero que tenhamos tempo para nos mostrar. Quero dizer-lhes: 'Dêem-nos uma hipótese!'" O apelo tem razão de ser, pois Thierry Gouvenou, director do percurso do Tour já alertou que "é importante as equipas planearem as suas temporadas" e, por isso, não irá esperar por Março para decidir quem receber os quatro convites.

O anúncio poderá mesmo ser feito ainda em Janeiro e Bryan Coquard só começa a temporada na Sharjah Tour, no Dubai, entre 24 e 27 de Janeiro. Mesmo que até some algumas vitórias, dificilmente serão suficientes para convencer a organização do Tour, tendo em conta que o pelotão não terá a competitividade necessária para mostrar os pontos fortes de uma equipa que quer estar numa grande volta.

Coquard não tem de comprovar que é um dos melhores sprinters franceses, já se sabe, mas aos 25 ainda lhe falta uma vitória que o coloque ao nível de Nacer Bouhanni (Cofidis) ou Arnaud Démare (FDJ). O ciclista tomou a decisão de deixar a Direct Energie com o objectivo de dar um passo em frente na carreira. E ao anunciar publicamente a sua pretensão, acabou por ser excluído da equipa para o Tour em 2017. A Quick-Step Floors era um desejo, mas também era óbvio que se houvesse acordo, ficaria sempre em segundo plano devido a Fernando Gaviria. Se até Marcel Kittel optou por sair, não seria Coquard quem colocaria em causa o estatuto do colombiano. Bryan Coquard acabou seduzido por Jerome Pinaeu, antigo ciclista que está por de trás do nascimento da Vital Concept. O World Tour terá de esperar. Mas será que as principais corridas também vão ter de esperar?

Não há dúvidas quem é a estrela da equipa, que contratou outros nomes bem interessantes, como Kevin Réza e Johan le Bon (ex-FDJ), Kris Boeckmans (ex-Lotto Soudal), Steven Lammertink (ex-Lotto-Jumbo) e Jonas van Genecheten (ex-Cofidis).

Porque razão a Vital Concept corre o risco de não receber um convite para o Tour? Com as 18 equipas do World Tour a terem presença garantida, sobram quatro lugares para formações do segundo escalão, Profissional Continental. A Cofidis e a Direct Energie são presenças crónicas e têm demonstrado merecer, nem sempre com vitórias, mas têm equipas fortes, com bons resultados ao longo da temporada. E também têm capacidade comprovada em animar as etapas.

A agora Fortuneo-Samsic também tem recebido o convite nos últimos quatro anos e com Warren Barguil como a grande figura para 2018, seria estranho não ser uma das eleitas, tendo em conta que o francês venceu duas etapas e foi o rei da montanha na última edição do Tour. Sobra então um convite. Na lógica de ser entregue a uma equipa francesa, a Vital Concept teria como concorrente a Delko Marseille Provence KTM. Porém, o factor decisivo não é apenas a nacionalidade e a Delko que o diga, já que tem ficado de fora das escolhas. A concorrência vem mesmo da Bélgica. A Wanty-Groupe Gobert esteve pela primeira vez no Tour em 2017 e terá agradado aos organizadores.

E se os convites foram de facto decididos já no início do ano, então a Wanty-Groupe Gobert terá a vantagem de ter sido a melhor equipa do ranking europeu em 2017. A Vital Concept tem "apenas" a ambição de querer singrar no ciclismo, dependendo muito de Bryan Coquard para somar vitórias que permitam a equipa conquistar estatuto. O sprinter está com uma enorme vontade de estar nas principais corridas desde início do ano, mas enfrenta o mesmo problema do Tour: falta saber se haverá espaço para a Viltal Concept, se os organizadores vão abrir as portas à nova formação francesa.

"Quero estar na Milano-Sanreno, quer estar no Paris-Nice, quero estar na Amstel Gold Race e quero estar na Volta a França com a Vital Concept. Os organizadores podem ter a certeza: quando nós estivermos numa corrida, não estaremos lá para fazer número, será para ganhar", afirmou à AFP. Coquard realçou que a equipa pode não ter um currículo a apresentar, mas mostra-se confiante com os ciclistas que a compõem. Para si, tem o objectivo traçado: "Quero ser um grande sprinter. Todas as luzes estão verdes neste início de temporada. Estou muito, muito motivado."

Motivação é essencial, mas não deverá ser fácil viver na incógnita. A Direct Energie é uma presença habitual em grandes corridas, mas nada está garantido para a Vital Concept, pelo menos neste ano de estreia. Claro que os seus responsáveis e Coquard podem sempre esperar que aconteça uma surpresa como foi com a Aqua Blue Sport, equipa irlandesa que se estreou em 2017 e foi convidada para a Vuelta. E até ganhou uma etapa.



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