17 de janeiro de 2018

"O Barbio e o Meireles vão ter um papel ingrato, mas muito importante"

(Fotografia: Facebook Miranda-Mortágua)
O Miranda-Mortágua pode agora ser do escalão Continental, pode ter uma logística melhorada, pode ter mais responsabilidade, mas este passo dado - e há muito pensado e preparado - não significa alterações na génese da equipa. O que sempre foi importante nesta estrutura, vai continuar a sê-lo: a formação de jovens ciclistas portugueses. Ser Continental abre as portas a outras competições no país e no estrangeiro. Por cá, destaca-se logo a Volta ao Algarve e a Volta a Portugal, por exemplo. Para Pedro Silva, a opção de pedir a licença do terceiro escalão só irá beneficiar os jovens que tem na equipa, pois ganharão outra experiência, mais cedo nas suas carreiras. O director desportivo destacou de imediato que o Miranda-Mortágua não quer ser apenas mais uma equipa, pois, como salientou nunca o foi. Mesmo com 10 sub-23 dos 12 ciclistas que compõem o plantel, a ambição não diminuiu, apenas se irá adaptar a uma nova realidade, tentando tirada proveito da qualidade e da sede de vencer daqueles que sonham num futuro próximo singrar ao mais alto nível do ciclismo.

Há quase duas décadas que Pedro Silva vê este projecto tornar-se num dos mais importantes para os jovens corredores. Porém, não hesita em considerar que se irá viver em 2018 um ano zero, apesar de querer manter a sua linha de trabalho. "Vamos continuar a trabalhar praticamente como temos feito até agora. Claro que há alterações a nível do orçamento, da logística e no acompanhamento dos ciclistas. Se as nossas condições já eram muito boas, vão ser melhoradas, tanto a nível de bicicletas, material de contra-relógio, todos vão ter uma bicicleta para treinar, comprámos um camião oficina e uma auto-caravana nova. Os nossos ciclistas vão ter as mesmas condições que as outras equipas Continentais portuguesas. Isso tudo faz com que os nossos ciclistas não se vão sentir inferiores, nem vamos ser apontados por ter uma logística de amadores no meio de equipas profissionais", salientou Pedro Silva ao Volta ao Ciclismo. Perante esta realidade, o responsável considera que depois de dois anos a ver os seus atletas "conseguirem resultados de relevo junto dos profissionais", em 2018 "vão render ainda mais".

Francisco Campos foi um dos ciclistas que se destacou no ano passado quando ganhou na Prova de Abertura Região de Aveiro com apenas 19 anos. Um feito para o sprinter que viria mais tarde na temporada a sagrar-se campeão nacional de sub-23. "O Francisco s
abe muito bem o que quer e o que vale e nós vamos apostar naquilo que ele consegue fazer melhor", afirmou o responsável, que recordou como o ciclista teve uma temporada muito positiva a nível de evolução, tendo contribuído a chamada à selecção nacional, que lhe permitiu competir em algumas corridas importantes para o seu escalão no estrangeiro.


"Penso que a pressão em ciclistas jovens é contraproducente. Os nossos ciclistas sabem que têm valor. Quando as coisas começam a correr bem... as coisas acontecem, como tem sido nos últimos anos"

Pedro Silva realçou que além de Francisco Campos há mais valores no Miranda-Mortágua e os dois ciclistas de elite contratados vão ter também a função de os ajudar a evoluir: "O Barbio e o Meireles vão ter um papel ingrato, mas muito importante. Vão ter de olhar por eles próprios e pelos mais novos. Têm de ser capazes de ser profissionais a 100%, mas depois também de vigiar os mais novos em competição e fora dela. Só com bons exemplos é que se pode progredir." António Barbio tem apenas 24 anos, esteve os últimos dois na Efapel e ganhou uma etapa na Volta a Portugal. Nuno Meireles será o "veterano" com 26 anos e depois de passar pela LA Alumínios, viveu uma experiência menos boa na Equipo Bolivia, estrutura que fechou portas a meio de 2017. Ambos já tinham passado pelo Miranda-Mortágua e preencheram os requisitos que Pedro Silva procurava para dois corredores de elite em quem pudesse confiar.

"O facto de ter dois ciclistas com quem trabalhei e conhecendo a capacidade deles como homens e ciclistas, vai facilitar este processo [de ajudarem os mais novos]", referiu o responsável. E se Pedro Silva não pretende colocar pressão nos seus jovens, já Barbio e Meireles vão ter de se apresentar bem logo no arranque da temporada. Isto não significa que não irá procurar bons resultados com os sub-23, até porque, avisa, alguns já estão a apresentar-se a bom nível, enquanto outros espera que venham a atingir o seu melhor mais adiante na época. "Penso que a pressão em ciclistas jovens é contraproducente. Os nossos ciclistas sabem que têm valor. Quando as coisas começam a correr bem... as coisas acontecem, como tem sido nos últimos anos. Sabemos que temos de trabalhar, ser humildes, saber o que nos espera e fazer o que temos de fazer para cumprir nossos objectivos."

Repetir o momento de Francisco Campos, não necessariamente na Prova de Abertura, é naturalmente um desejo. Porém, revalidar o título nacional de sub-23 ou a Taça de Portugal do escalão estão entre os principais planos. Claro que há a presença na Volta a Portugal, de grande importância para os ciclistas e para os patrocinadores e que estará nas prioridades para o Miranda-Mortágua tentar mostrar-se e, principalmente, mostrar os seus jovens valores. "Será o auge da época."

Mudança de filosofia no ciclismo português

Além do Miranda-Mortágua, também a Liberty Seguros-Carglass seguiu o caminho até ao escalão Continental. Ou seja, duas das principais equipas sub-23 darão agora acesso à elite a muitos jovens ciclistas, com a LA Alumínios a criar uma nova equipa também dominada pela juventude. Para Pedro Silva esta possibilidade de subir a Continental vem alterar o que estava a acontecer no ciclismo nacional. "Até agora as nossas equipas Continentais quase nunca apostavam num ciclista sub-23, por muito bom que ele fosse. Deixavam-no ganhar maturidade, experiência, o que não deixava de ter lógica numa perspectiva de resultados imediatos. Isto vai mudar completamente essa filosofia", destacou.

O director desportivo recordou como era mais com a selecção nacional que os sub-23 acabavam por ter acesso a melhores corridas. No entanto, muitos ficavam de fora, apesar de terem qualidade. Agora, são muitos mais que passam a competir ao lado da elite todo o ano. "Deixou de ter lógica contratar ciclistas de 40 anos em detrimento dos nossos jovens. É reconhecido a nível internacional que Portugal tem dos melhores sub-23 da Europa. Alguns estão lá fora e dá-se destaque a esses, mas outros estão aqui no país." Pedro Silva afirmou mesmo que quer que o Miranda-Mortágua contribua para dar outra imagem do ciclismo português, a nível dos sub-23, esperando conseguir estar também em corridas no estrangeiro, onde poderá encontrar estruturas idênticas da Bélgica e Holanda, por exemplo, países com uma forte presença na modalidade. Ou seja, mais experiência essencial para quem está numa fase de aprendizagem e à procura de se mostrar a outro nível.


"As pessoas ainda não se aperceberam bem do que é uma equipa Continental. Perguntam se vamos à volta. Digo que sim e dizem: 'Tens a certeza?'"

Espera um dia ver os seus ciclistas conseguirem grandes contratos, mas frisou a necessidade de os "deixar crescer", recordando como tem corredores que estão a entrar na universidade, por exemplo. As principais corridas nacionais e as que procurará lá fora são as que diz ser necessário para que estes jovens se desenvolver como ciclistas e "não passem ao lado de uma carreira porque não evoluíram como deveriam". "Lembro-me há uns anos que o Paulinho e outros não podiam passar a profissionais como sub-23 porque não podiam queimar degraus de maturidade, mas isso passou à história. Agora no World Tour chegam a passar de juniores para as principais equipas. Se têm qualidade, é para lá estar. Porque não há de acontecer cá e estarem na Volta a Portugal, como lá fora alguns ciclistas de 20 anos estão na Volta a França?", questionou.

O mediatismo que deverá chegar na Volta a Portugal

Ser Continental não se está a traduzir em mais reconhecimento na região da equipa. Pedro Silva realçou como o Miranda-Mortágua será a primeira equipa na Volta a Portugal que estará a representar um concelho do Interior do país, mas talvez seja só nessa altura que o mediatismo vá de facto ter significado. "As pessoas ainda não se aperceberam bem do que é uma equipa Continental. Perguntam se vamos à volta. Digo que sim e dizem: 'Tens a certeza?' Por muito que se fale, penso que só quando se chegar à Volta a Portugal, ou talvez na Volta ao Algarve, se tivermos algum tipo de resultado, ou fugas, e alguém estiver atento às transmissões, é que a mente das pessoas se irá abrir um pouco", explicou.

Para o director desportivo tem ainda mais significado poder representar uma região do Interior na Volta a Portugal. "Estou muito orgulhoso que passado tantos anos de batalha no ciclismo de formação, ter conseguido este feito. Foi à custa de muito trabalho, muitas reuniões, angariação de patrocinadores..." 2018 será então um ano zero, depois de muitos a criar condições para o passo que agora se dá. Pedro Silva disse que até estava tudo a tornar-se numa rotina, apesar do muito trabalho que teve em construir a estrutura. A rotina foi claramente quebrada: "É entusiasmante, mas dá muita dor de cabeça!" Em 2019 espera que esteja tudo mais oleado, contudo, não é ao crescimento que aponta: "Este é um projecto que, quanto a mim, é para continuar neste registo, com os jovens ciclistas que têm capacidade e que querem trabalhar connosco para os levar a um patamar mais alto do ciclismo. Também não quero que cresça muito mais, mas quero consolidá-lo."

Os ciclistas que estarão em 2018 a representar o Miranda-Mortágua são: António Barbio, Nuno Meireles, Francisco Campos, Jorge Magalhães, Hugo Nunes, Gonçalo Carvalho, Artur Chaves, Damien Cordeiro, João Rocha, José Sousa, Tiago Leal e Pedro Teixeira.

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