Dion Beukeboom é um nome que tem provocado uma reacção consensual, ou seja, quem? Quando se explica que pretende tentar bater o recorde da hora que actualmente pertence a Bradley Wiggins, a reacção que se segue é: quem é o ciclista que pensa que pode fazer melhor que um dos maiores especialistas? Beukeboom sorri perante estas reacções que têm surgido nos meios de comunicação social e diz compreender que se faça essa pergunta. Não está à procura de fama, nem de dar um impulso na carreira, que tem sido feita no escalão Continental e também na pista: "Não ganho mais nada por pensar nisso. Primeiro tenho de o fazer, mas já há muitas pessoas que me estão respeitar só por tentar. Não preciso do mediatismo, só preciso da melhor preparação e de um dia bom."
Jim van den Berg, que em 2015 esteve ao lado de Thomas Dekker quando o holandês fez a sua tentativa, foi um dos que desafiou Beukeboom, contudo, inicialmente, o ciclista de 28 anos não ficou muito convencido. "Disseram-me que eu podia [bater o recorde] e eu pensei: 'Não sou o Bradley Wiggins. Ele ganhou tantas medalhas [na pista], a Volta a França, contra-relógios nos Mundiais...', contou ao Volta ao Ciclismo. Porém, depois de ter feito uns testes aerodinâmicos e de ver a análise aos seus números, começou a convencer-se que talvez seja mesmo possível. "Agora estou a ficar mais confiante. Muito terá de acontecer muito mais até ganhar mais confiança, mas começámos há apenas dois meses", salientou.
"[Em altitude] é mais fácil ter velocidade. Perde-se um pouco de potência, mas a única oportunidade que tenho de bater este recorde é em altitude"
Desde Outubro que quase tudo o que tem feito é a pensar no recorde da hora que irá atacar em Agosto. No entanto, explicou como vai tendo objectivos mais próximos, principalmente na pista. Pelo meio, vai fazendo treinos aerodinâmicos, realçando a importância de se habituar a estar na posição perfeita durante uma hora: "É essencial. Não me posso levantar senão... lá se vai o recorde!" Mas há mais treino a fazer: Grande parte é o básico, mas antes fazia muito estrada, endurance, agora faço mais treino intenso", referiu.
Em Dezembro essa preparação passou por Portugal. Dion Beukeboom esteve uns dias em Anadia, aproveitando para competir no Troféu Internacional do município, que se disputou no velódromo durante três dias. "É a minha quarta ou quinta vez em Anadia e gosto muito de estar aqui", realçou, referindo como se consegue treinar bem nas estradas locais, além da pista. Contudo, a meteorologia de vez em quando prega umas surpresas: "Às vezes há um micro-clima e fica muito mau tempo, mas normalmente está bom [para treinar]."
Beukeboom vai fazer a sua tentativa no México, no mesmo velódromo escolhido por Dekker, Aguascalientes, que se situa a 1887 metros de altitude. "Se o fizesse em Londres [no mesmo local de Wiggins] não seria possível. [Em altitude] é mais fácil ter velocidade. Perde-se um pouco de potência, mas a única oportunidade que tenho de bater este recorde é em altitude", frisou.
Alex Dowsett, detentor da marca antes de Wiggins, quer voltar a tentar e fala-se que o poderá fazer em 2018. Porém, Beukeboom não sente mais pressão por isso: "Quando fizemos os planos, ninguém o ia tentar. Acho que o Dowsett disse que queria fazer, mas não disse quando."
"O caminho até à tentativa também é muito emocionante para mim"
Mas afinal porque acha Beukeboom que pode superar Wiggins: "Também me pergunto porque acho que posso bater o Bradley Wiggins. Eu percebo que façam essa pergunta." O holandês espera que o facto de escolher um velódromo situado em altitude possa fazer a diferença e os seus treinos e testes demonstram que é possível superar 54,526 quilómetros feitos pelo britânico, segundo o próprio. Com o ciclismo holandês a estar novamente no centro das atenções depois de Tom Dumoulin ter conquistado a Volta a Itália, Beukeboom não se quer colocar ao nível dos grandes nomes da modalidade, sendo o primeiro a recordar que não tem resultados de grande destaque na estrada (o principal foi uma etapa na Volta à Normandia, em 2012), mas conta com medalhas europeias na pista, na perseguição individual. Porém, acaba por admitir que se conseguir a marca, será mais um momento importante para a modalidade no país.
Ainda assim, considera que não é só o recorde que é relevante: "O caminho até à tentativa também é muito emocionante para mim." Mas claro, quando o dia chegar: "Terá de estar tudo perfeito".
A tentativa de Thomas Dekker acabou por não ter sucesso, quando a marca pertencia a Rohan Dennis (52,491 quilómetros). O australiano foi o primeiro a ultrapassar os 52 quilómetros nesta "era moderna" do recorde da hora, que começou com Jens Voigt, a 18 de Setembro de 2014 (51,110). O suíço Mathias Brändle fez 51,852 cerca de mês e meio depois. A 7 de Junho de 2015, Alex Dowsett tornou-se o novo recordista com 52,937. A 13 de Setembro, Wiggins conseguiu a impressionante distância de 54,526, mas com alguma polémica à mistura. Dowsett sempre criticou o facto do guiador ter sido criado através da tecnologia 3D, algo que considerou não respeitar as regras.
O recorde foi mesmo validado e mantém-se desde então, até porque parece que depois de uma onda de interesse - houve mais tentativas, mas sem sucesso - a marca de Wiggins pode ter desmotivado possíveis interessados. Ou talvez não. Beukeboom é o senhor que se segue. Pode ser pouco conhecido, mas que está a gerar muito curiosidade, isso está.
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