21 de janeiro de 2018

Os portugueses no World Tour e as expectativas para 2018

São seis os portugueses que este ano estão no World Tour e todos estiveram em acção na primeira prova do ano, no Tour Down Under. Em 2018 não haverá nenhuma estreia lusa no principal escalão, mas houve duas saídas. José Mendes terminou contrato com a Bora-Hansgrohe e está agora na espanhola Burgos-BH. Já André Cardoso continua provisoriamente suspenso enquanto espera pela resolução do processo sobre o teste positivo de doping, que foi conhecido pouco antes da Volta a França. O ciclista de Gondomar tinha apenas um ano de contrato com a Trek-Segafredo. Rui Costa, Tiago Machado e Nelson Oliveira são os mais experientes que continuam no World Tour, enquanto o campeão nacional Ruben Guerreiro (que bem que começou a época), Nuno Bico e José Gonçalves iniciam o segundo ano junto da elite do ciclismo mundial.

O que se pode esperar destes ciclistas?

Rui Costa (31 anos, UAE Team Emirates)
(Fotografia: UAE Team Emirates)
Será um ano muito importante para o campeão do mundo de 2013. Está em final de contrato e o seu estatuto na equipa sofreu um forte revés com a chegada de Fabio Aru e Daniel Martin. Tanto o italiano como o irlandês serão os líderes nas grandes voltas e mesmo nas clássicas das Ardenas, poderá não ser fácil a Rui Costa ter o seu espaço. Para o poveiro é essencial mostrar que sabe jogar em equipa, mas também que podem continuar a contar com ele para lutar por vitórias, como aconteceu no ano passado, quando teve um arranque de temporada muito forte, com triunfos na Volta a San Juan (na etapa rainha) e em Abu Dhabi (etapa e geral).

Ainda se desconhece qual das grandes voltas irá estar, pelo que para já terá como um dos principais objectivos lutar na clássica e monumento que tanto gosta e onde já fez pódio: Liège-Bastogne-Liège.

Depois do 35º lugar na Austrália, a 3:11 minutos do vencedor, o sul-africano Daryl Impey (Mitchelton-Scott). Rui Costa segue para Omã, Abu Dhabi, Paris-Nice, País Basco e o trio das Ardenas: Amstel Gold Race, Flèche Wallonne e Liège-Bastogne-Liège. Chegou o momento de Rui Costa puxar dos galões de campeão do mundo.

Tiago Machado (32 anos, Katusha-Alpecin)
(Fotografia: Katusha-Alpecin)
Aquele Tiago Machado lutador, que tanto animava corridas, deu lugar a um homem de confiança para os líderes da Katusha-Alpecin. É esse o papel que continuará a desempenhar, mas é impossível mantê-lo "fechado" nessa função e certamente que terá a oportunidade para se mostrar, como sempre o fez. Porém, com a equipa liderada por José Azevedo a ficar mais forte com a chegada de Marcel Kittel e com Ilnur Zakarin a ter expectativas redobradas depois do pódio na Vuelta, Machado tanto terá de ajudar a preparar terreno para os sprints do alemão, como ser um dos homens ao lado do russo.

É precisamente por esta capacidade de fazer diferentes tipos de trabalho que Tiago Machado continua a ser tão valorizado na equipa. Claro que esperamos sempre vê-lo novamente na luta por vitórias, como aconteceu em 2017 na Liège-Bastogne-Liège, mas não haverá dúvidas que será dos mais felizes quando um dos seus companheiros triunfar. É o ciclista de equipa por excelência.

O seu contrato foi renovado apenas por um ano, mas não é algo que abane a convicção de Machado, que cada dia que vive no ciclismo e que tanto partilha nas redes sociais, é um dia de alegria contagiante. Depois da Austrália, onde terminou na 58º posição e 13:50, o português vem até à Volta ao Algarve.

Nelson Oliveira (28 anos, Movistar)
(Fotografia: Movistar)
A queda no Paris-Roubaix estragou boa parte da temporada a Nelson Oliveira, que apareceu forte a terminar o ano, com o quarto lugar nos mundiais de contra-relógio como destaque (e que destaque!). Em condições normais, o ciclista português deverá regressar ao seu papel de fiel homem de trabalho seja para Nairo Quintana, Alejandro Valverde e agora Mikel Landa. Porém, as clássicas do pavé são uma paixão e deverão ser novamente uma aposta. Foi 18º na Volta a Flandres e tem capacidade (e principalmente muita vontade) para estar na luta por melhor.

Claro que também se espera por ver onde mais poderá levar as suas qualidades de contra-relogista. Se não tiver de poupar esforços a pensar noutras etapas para ajudar os líderes, a Movistar poderá muito bem tirar o melhor partido de um corredor que já pede uma nova grande vitória, depois da etapa na Vuelta em 2015.

O contrato foi renovado até 2019, o que demonstra a confiança da equipa espanhola em Nelson Oliveira que quererá realizar um ano forte depois de um 2017 prejudicado pela tal queda. Para já, o corredor está claramente a ganhar forma, como comprova o 58º posto no Tour Down Under, a 14:18 minutos de Impey.

José Gonçalves (28 anos, Katusha-Alpecin)
(Fotografia: Katusha-Alpecin)
O World Tour pode ter chegado mais tarde do que se esperava, mas José Gonçalves rapidamente conquistou o seu lugar na equipa e, principalmente, o respeito como um ciclista de qualidade, tanto a trabalhar para os líderes, como a estar na frente da corrida. Vencer a Ster ZLM confirmou um estatuto de ciclista a dar oportunidades e ganha a experiência que o próprio admitiu que lhe faltou, por exemplo, na Strade Bianche, 2018 é um ano que promete.

Em perspectiva está uma estreia na Volta a França. Ilnur Zakarin vai apostar no Tour e depois de ter estado tão bem ao lado do russo no Giro - na Vuelta caiu e abandonou muito cedo - é possível que seja um dos eleitos. Depois é esperar para saber como será organizada a equipa nas provas de uma semana e clássicas. Há líderes para quase todas as corridas, mas depois da época de estreia, será difícil o gémeo Gonçalves não ter a sua oportunidade.

Se não houvesse total confiança de tudo o que pode dar à Katusha-Alpecin, não teria visto o seu contrato ser renovado por dois anos. A tranquilidade que daí advém poderá ser mais um factor importante nas exibições do ciclista. No Tour Down Under foi 85º, a 24:58 de Daryl Impey. A ganhar forma, certamente, quem sabe para a Volta ao Algarve...

Nuno Bico (23 anos, Movistar)
(Fotografia: Movistar)
Começar a temporada com uma queda que deixou marcas bem visíveis, nunca é o desejado. Porém, foi também uma forma de demonstrar o carácter de Nuno Bico. Aguentou, terminou esse dia debaixo de um calor insuportável e ficou mesmo até final do Tour Down Under. A Movistar deu tempo e espaço para o jovem ciclista se adaptar ao mais alto nível do ciclismo em 2017. A época teve alguns altos e baixos, com lesões, mas o melhor de Nuno Bico ainda está para vir.

É o último ano de contrato, o que pode sempre provocar alguma pressão. No entanto, o ciclista deverá concentrar-se em mostrar aquele lado decidido com que enfrenta as corridas, sempre acreditando que o melhor pode acontecer. Agora que já passou a fase de deslumbre por estar ao lado das referências mundiais do ciclismo, Bico não tem a obrigatoriedade de começar a ganhar, longe disso, contudo, há que mostrar que está a evoluir como é esperado.

A equipa espanhola valoriza muito esta fase dos seus jovens ciclistas. Aponta para uma evolução cuidada, com timings certos para soltar o talento. Pede-se consistência, demonstração de qualidade, como o tentou fazer na Austrália antes da queda. Bico foi 67º, a 17:15 minutos, no Tour Down Under.

Ruben Guerreiro (23 anos, Trek-Segafredo)
(Fotografia: Trek-Segafredo)
Tendo em conta o que aconteceu na Austrália, pode-se dizer que se guardou o melhor para o fim! Ruben Guerreiro parece dar-se bem com o calor daquele país, pois há um ano começou por destacar-se ao chegar a liderar a classificação da juventude. A época sofreu uns percalços, mas houve tempo para ser campeão nacional de elite, na primeira vez que participou na corrida neste escalão. E foi com esta camisola vestida que foi fazer top 10 no Tour Down Under. Uma prova World Tour, é preciso não esquecer. Foi nono, a 23 segundos de Impey e a apenas três de Egan Bernal (Sky) na classificação da juventude.

Ruben Guerreiro figura nas listas dos meios de comunicação social especializados de um dos jovens a seguir com atenção. É mais um "produto" da equipa de Axel Merckx e precisa de encontrar alguma estabilidade, ou seja, uma época sem problemas físicos, que o permita manter a forma e apontar às corridas que melhor lhe assentam resultados bem positivos. O campeão nacional vai continuar pela Austrália para a Cadel Evans Great Ocean Race e Herald Tour e depois do que fez a abrir, a Trek-Segafredo vai querer ver o que mais poderá render o português.

Volta ao Algarve, Settimana Internazionale Coppi e Bartali, Volta ao País Basco, Amstel Gold Race, Flèche Wallonne, Liège-Bastogne-Liège, Volta à Califórnia e Critérium du Dauphiné são as corridas previstas no seu calendário. Em final de contrato, Guerreiro tem tudo para singrar no World Tour e o próprio estará mais do que entusiasmado para que todos comecem a conhecer bem o seu nome. Se assim for, uma renovação chegará com naturalidade.

»»Fabio Aru na UAE Team Emirates. Que papel terá Rui Costa em 2018?««

»»"Gostaria muito de voltar a trabalhar com o Nelson Oliveira"

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