28 de dezembro de 2016

Wiggins anuncia um adeus rodeado de suspeitas

'Wiggo' termina carreira aos 36 anos (Fotografia: Facebook Bradley Wiggins)
Quando no ano passado Bradley Wiggins decidiu colocar um ponto final na carreira em 2016, o objectivo era sair em grande, com uma medalha olímpica no seu regresso às origens, ou seja, à pista. Conseguiu o objectivo, ao mesmo tempo que foi tornando a sua equipa de estrada Team Wiggins, numa referência na formação de jovens ciclistas. Porém, as últimas semanas ficaram marcadas por suspeitas que o britânico recorreu à Autorização de Utilização Terapêutica - a muito falada TUE (na sigla em inglês) - para tomar substâncias que de outra forma seriam ilegais. E claro que há ainda o pacote mistério que tanta curiosidade gerou. No entanto, perante a carreira que teve, Wiggins será recordado como um dos melhores ciclistas britânicos, vencedor de uma Volta a França, campeão do mundo de contra-relógio, sendo um único ciclista a ter uma medalha de ouro olímpica na estrada (também em contra-relógio) e na pista.

Em Abril de 2015, Wiggins terminou uma ligação de quase seis anos com a Sky, equipa que ajudou a tornar numa das mais poderosas na história do ciclismo e que, por sua vez, o ajudou a vencer a tão desejada Volta a França. Na pista, Wiggins cedo conquistou o respeito, mas na estrada despontou já depois dos 30 anos. Parecia destinado a ser mais um dos muitos pretendentes a querer ganhar uma grande volta - o Tour, principalmente - e com qualidade para tal, mas que iria passar ao lado do sonho. Apesar de ser um bom trepador, Bradley Wiggins não era um trepador puro, o que o prejudicou em alguns momentos importantes. Uma queda tirou-lhe a hipótese de lutar pelo Tour em 2011 (abandonou), mas no ano seguinte, Wiggins alcançaria o seu objectivo, assim como o da Sky que quando foi formada, os responsáveis sempre apontaram a Volta a França como a principal ambição.

Porém, a vitória não lhe deu o estatuto esperado e normalmente alcançado por um vencedor do Tour. A seu lado esteve um Chris Froome a quem deve grande parte do seu triunfo e devido a quem percebeu que ou ganhava em 2012, ou não teria mais oportunidades. Wiggins saborou o momento e abriu a vaga de líder a Froome, apostando no ano seguinte no Giro. Será uma corrida que o britânico dificilmente esquecerá, pois foi das raras ocasiões que ter a super equipa da Sky não fez a diferença, pois foi impossível evitar o descalabro do seu líder, cujas limitações a descer numa corrida marcada pelo mau tempo fez com que caísse umas quantas vezes e para evitar cair umas mais, via os adversários afastarem-se. Quando do quarto lugar, passou para 12º, desistiu na 13ª etapa.

Bradley Wiggins soube analisar bem a sua carreira. Tomou as opções correctas para conseguir um triunfo que poucos achavam possível no Tour e tomou a decisão ainda mais correcta em sair da ribalta quando percebeu que estava em segundo plano na equipa. Criou a Team Wiggins com o objectivo de dar oportunidades a jovens, aproveitando para escolher as competições de estrada que lhe apetecesse fazer, enquanto regressava à pista.

Pelo meio foi nomeado Sir, numa cerimónia em Dezembro de 2013, e é também o detentor do recorde da hora com a distância de 54.526 quilómetros, marca alcançada a 7 de Junho de 2015.

A mudança de objectivos em 2015 foi como uma nova vida para Wiggins. Reencontrou-se com a melhor forma (na pista), de tal forma que há um ano dizia estar arrependido de ter anunciado o final da carreira para 2016. Durante este ano, Wiggins voltou a admitir que poderia continuar, ainda mais depois de todo o sucesso na pista, com um título mundial (ao lado de Mark Cavendish) e o ouro olímpico. Wiggins até foi incluindo no programa olímpico britânico.

Agora chegou a confirmação que perante a polémica das TUE tornou-se inevitável. Wiggins diz adeus aos 36 anos, depois de uma longa carreira. "Tive a sorte de viver um sonho e cumprir a aspiração que tinha desde criança de ter uma carreira na modalidade pela qual me apaixonei quando tinha 12 anos. Conheci os meus ídolos e corri com e ao lado dos melhores durante 20 anos", lê-se na mensagem publicada no Facebook.



A questão das substâncias que tomou recorrendo à Autorização de Utilização Terapêutica (o atleta pode tomar substâncias proibidas desde que sejam para efeito terapêutico, no caso de Wiggins as razões apontadas foram as alergias e asma) acaba por ensombrar a sua despedida. Não ajuda Wiggins pouco ou nada falar sobre o assunto e ter outros ciclistas a considerarem que houve uma conduta suspeita por parte do britânico e da Sky. O famoso pacote misterioso entregue na última etapa do Critérium du Dauphiné em 2011 (que Wiggins venceu) alimentou ainda mais as suspeitas e as declarações do director desportivo, Dave Brailsford, que disse que o pacote era Fluimucil, não foram convincentes, até porque, anteriormente Brailsford tinha afirmado que não tinha sido entregue qualquer pacote naquele dia. Fluimucil ajuda a eliminar as secreções produzidas nos pulmões, tornando-as mais líquidas, o que facilita a sua eliminação das vias respiratórias, melhorando a respiração. Não é uma substância ilegal.

31 vitórias como profissional, as mais importantes foram no fantástico 2012, ano durante o qual ganhou o Paris-Nice, Volta à Romandia, Critérium du Dauphiné, a Volta a França e o ouro olímpico no contra-relógio, nos Jogos de Londres. É por estes resultados e todos os outros que tem na pista (quatro medalhas de ouro olímpicas e sete vezes campeão do mundo, por exemplo) que Sir Bradley Wiggins quer ser recordado, olhando para o futuro na tentativa de ser um exemplo para os mais jovens na sua equipa. E claro, ninguém irá esquecer as patilhas que foram a sua imagem de marca durante muito tempo!

»»Afinal podemos mesmo despedir-nos de Joaquim Rodríguez. Espanhol terminou a carreira««

»»Houve festa de despedida, mas o adeus de "Spartacus" ainda não parece real... #ciaofabian««

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