10 de dezembro de 2016

Afinal podemos mesmo despedir-nos de Joaquim Rodríguez. Espanhol terminou a carreira

(Fotografia: Facebook de Joaquim Rodríguez)
Primeiro anunciou o final da carreira durante a Volta a França, depois o empresário disse que talvez ainda pudesse voltar, Joaquim Rodríguez confirmou no final da Il Lombardia que era a última corrida, mas depois assinou pela Bahrain-Merida (confirmando rumores que duravam há algumas semanas), ainda que, se inicialmente parecia que ia mesmo continuar a competir, acabou por dizer que estava a ponderar o seu futuro. Perante tanta indecisão, Purito e a equipa não se livraram de suspeitas que a contratação estava relacionada com os pontos necessários para a formação do Médio-Oriente garantir a licença World Tour. Mas esta novela da despedida de Rodríguez conheceu o seu fim e parece que agora é de vez: "Depois de tirar o tempo suficiente para pensar e também de ter tentado regressar à rotina do trabalho, percebi que não era possível [voltar à competição]."

Decidir terminar uma carreira não pode ser uma decisão fácil. Talvez, por isso, este tipo de indefinição possa acontecer. Nem foi caso único. Alberto Contador também pretendia terminar em 2016 e o ano nem ia a meio quando voltou atrás numa afirmação que tinha convencido pouca gente (há que dizê-lo). Rodríguez chorou quando na conferência de imprensa, durante o Tour, anunciou que tinha chegado o momento de terminar uma longa carreira, com alguns sucessos, mas também com algumas frustrações de vitórias que estavam ali tão perto e que acabaram por lhe escapar.

Talvez o facto da Katusha o ter contrariado nas suas pretensões de terminar a carreira nos Jogos Olímpicos (foi quinto), obrigando-o a competir, mesmo já não estando em forma - fez três corridas em Itália e não acabou nenhuma -, tenha deixado Purito com vontade de continuar a procurar outra forma de se despedir, mais digna daquilo que o espanhol foi e representou para o ciclismo durante os 16 anos de profissionalismo.

Rodríguez (37 anos) não poderá alterar a forma estranha com que colocou um ponto final na carreira. Nem poderá fugir às teorias da conspiração que defendem que esta decisão já acontece quando a Bahrain-Merida já não precisa dos tais pontos do espanhol, primeiro porque a UCI tinha confirmado que daria a licença World Tour a todas as 18 equipas (se cumprissem os requisitos, o que falta acontecer com a TJ Sport, de Rui Costa) e não apenas a 17 e em segundo porque a formação já tem mesmo a sua licença confirmada.

Purito nos Campos Elísios, na sua última etapa
de sempre no Tour (Fotografia: Facebook Katusha)
Mas no momento em que admitiu que já não dava mais e mesmo depois de tanta indecisão, Rodríguez merece que se escreva como foi um ciclista sempre interessante de se ver em prova. Afinal era um homem de ataque, que teve momentos explosivos espectaculares que deixou alguns dos melhores do mundo em dificuldades. Porém, na carreira de Purito parece ter faltado sempre aquele bocadinho para alcançar as grandes vitórias. Não que não tenha nenhuma, mas faltou uma grande volta. Conquistou dois monumentos, ambos na Lombardia (2012 e 2013), ganhou a clássica Flèche Wallonne (2012), venceu três etapas na Volta a França e nove na Vuelta. Foi ainda campeão espanhol em 2007. Ao todo foram 44 vitórias, participou em 24 grandes voltas e 29 clássicas.

Tudo começou na ONCE em 2001. Convenceu como estagiário no ano antes e juntou-se a uma equipa que contava com o português José Azevedo. As primeiras vitórias chegaram em 2003 e foi logo em grande: uma etapa no Paris-Nice, outra na Volta à Catalunha e depois uma na Vuelta, depois de ter conquistado com a equipa a primeira tirada na competição, no contra-relógio colectivo. O ano marcaria também o adeus à ONCE, mas foi nesta equipa que ficou com a alcunha de Purito, por ter fingido estar a fumar um charuto depois de ultrapassar os colegas durante um treino. O autor: Laurent Jalabert.

Esteve três anos na Saunier Duval-Prodir, passando depois para a Caisse d'Epargne, onde evoluiu muito, mas percebeu que com Alejandro Valverde na equipa dificilmente teria o protagonismo desejado. A Katusha abriu-lhe as portas e Rodríguez viveu os seus melhores momentos na carreira na equipa russa e já depois dos 30 anos. Terminar no top dez nas grandes voltas tornou-se vulgar, tendo subido ao pódio nas três. Faltou a vitória. E ela esteve perto primeiro em 2012 no Giro e depois em 2015 na Vuelta. Neste último caso, foi Fabio Aru quem lhe "tirou" o triunfo por 57 segundos. Mas foi aquele Giro de 2012 que mais frustrou Rodríguez. Sempre teve problemas com o contra-relógio e foi isso que o fez perder a Volta a Itália. Ryder Hesjedal alcançou uma vitória histórica para o Canadá, com 16 segundos a separá-lo de Rodríguez.

E depois ainda há aqueles Mundiais de 2013, em Florença. O português Rui Costa foi mais forte no final e mais uma vez Purito viu fugir-lhe uma grande vitória, depois de Alejandro Valverde não ter ajudado (a relação entre os dois espanhóis não foi a melhor).

Apesar de tantas frustrações e por ver os anos passarem sem conseguir ganhar uma grande volta, Rodríguez nunca deixou de lutar. Sempre que estava bem numa corrida, estava para ganhar e muito ele gostava daqueles muros de inclinação brutal que lhe assentavam tão bem à sua postura muitas vezes explosiva nas provas.

Despediu-se em 2016 sem vitórias, mas com um sétimo lugar no Tour e o quinto nos Jogos Olímpicos. Despediu-se sem uma festa como teve Fabian Cancellara. Despediu-se com uma última frustração da equipa o obrigar a competir quando já não queria. Se calhar é difícil haver despedidas perfeitas, mas Rodríguez merecia mais. Um adeus para recordar e sem polémicas de pontos à mistura.

No discurso que ficará então como o da despedida, disse que se apercebeu que não estava "nem física nem mentalmente preparado para regressar a 100%". Agradeceu à equipa a oportunidade e vai agora fazer parte do staff, que, segundo o director desportivo Brent Copeland, foi a razão que levou a Bahrain-Merida a contratar Rodríguez. Purito irá trabalhar principalmente na formação de jovens ciclistas, ficando também ligado à associação de turismo para ajudar a promover o Bahrein e será ainda um dos rostos da marca de bicicletas Merida.

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