6 de dezembro de 2019

Época quase perfeita de uma Jumbo-Visma que se afirmou como ameaça à Ineos

(Fotografia: © Team Jumbo-Visma)
Época perto da perfeição e que consagrou a determinação e paciência para ver esta equipa renascer quase das cinzas para se tornar naquela que mais ameaça a supremacia da Ineos. Com os resultados nas três grandes voltas, ficou-se com a certeza que esta é uma formação que não só tem potencial para ganhar, mas que o pode mesmo fazer. Todo o potencial que vinha a demonstrar nas últimas temporadas foi transformado em resultados que tornaram a Jumbo-Visma numa equipa definitivamente de topo.

Não é fácil poder dizer que subiu ao pódio nas três grandes voltas (dois terceiros lugares e um primeiro), ganhou etapas (cinco no Tour!), mostrou ter um bloco capaz de controlar as corridas e além disso pode dividir as atenções entre o sprinter Dylan Groenewegen e apoiar na montanha Steven Kruijswijk. Mas foi a posta total em Primoz Roglic que deu os maiores frutos a nível do grande sonho para 2019. Roglic falhou no Giro, mas aprendeu as lições e o esloveno fez história na Vuelta. O primeiro ciclista do seu país a ganhar uma prova de três semanas.

Roglic foi avassalador quase toda a temporada. Competiu sempre com a vitória em mente. Vencei a Volta aos Emirados, Tirreno-Adriatico e Volta à Romandia e ainda fechou a época com duas clássicas italianas: Giro dell'Emilia e Tre Valli Varesine. A desilusão acabou por ser nos Mundiais, onde esteve visivelmente esgotado, sendo apenas 12º no contra-relógio - cortou a meta ao lado do campeão Rohan Dennis que tinha partido três minutos depois - e abandonou na prova em linha. Recuperou para ganhar depois as clássicas italianas e ser sétimo na Lombardia.

Claro que entrar tão forte na temporada fez com que começasse o Giro num pico de forma muito acima dos adversários e acabou por aprender que deveria ter guardado esse pico para um pouco mais tarde na corrida. Na Vuelta foi bem mais calculista tanto na preparaçã como na prova e resultou. Mereceu a vitória e agora já olha para o Tour. Não apenas para um lugar no pódio. Pode ter chegado tarde ao ciclismo, tendo começado como desportista como um promissor saltador de esqui, mas está mais do que confirmada a sua qualidade como ciclista.
Ranking: 3º (13128,07 pontos) 
Vitórias: 51 (geral e duas etapas da Volta a Espanha, cinco etapas na Volta a França e duas no Giro) 
Ciclista com mais triunfos: Dylan Groenewegen (15)
E o que dizer de Dylan Groenewegen... Cada vez mais um sprinter que vai conquistando o seu lugar entre os grandes da especialidade. 15 vitórias em 2019 (mais duas que Roglic), mais uma no Tour (tem quatro em três anos) e também ganha por cá, na Volta ao Algarve. Por mais que a Jumbo-Visma olhe para as classificações gerais, com um sprinter desta qualidade e com este ritmo de vitórias, é impossível a equipa não continuar a dar condições para que Groenewegen esteja sempre na discussão de qualquer corrida que participe.

Depois houve aqueles que não venceram tanto ou mesmo nada, mas que são peças essenciais em elevar a Jumbo-Visma a um nível que a Ineos parecia ter colocado como inatingível. Kruijswijk conseguiu um pódio no Tour há muito devido numa corrida destas. George Bennett pode não estar a tornar-se no líder que se chegou a pensar que seria, mas lidera o bloco de gregários com autoridade, Sepp Kuss segue esses passos, Mike Teunissen (mais dotado para terrenos menos inclinados) até recebeu um prémio pelo seu trabalho ao ganhar a primeira etapa do Tour e vestir a camisola amarela e claro, Tony Martin. O alemão pode não conseguir ser o contra-relogista de outros tempos, mas é novamente aquele que faz um trabalho incansável para os seus líderes.

A muita juventude em redor de Roglic acabou por não ser a melhor escolha no Giro, mas quando a Jumbo-Visma conjugou o talento dos mais novos com a experiência de um Tony Martin ou Robert Gesink, ganhou uma Vuelta. Ainda há seis anos, a então Rabobank correu o risco de acabar, mas está agora no topo, e depois de Denis Menchov em 2009 no Giro, a agora Jumbo-Visma ganhou novamente nas três semanas.

E não, não se pode esquecer de Wout van Aert. Não foram as exibições esperadas nas clássicas, mas no Critérium du Dauphiné resolveu mostrar na sua época de estreia no World Tour outras qualidades: também sabe sprintar e é um forte contra-relogista. Foi destas duas formas que venceu duas etapas na corrida francesa, conquistando no final a classificação dos pontos. Chegou ao Tour e estava a ser uma das figuras. Ganhou uma etapa e era o favorito para o contra-relógio. A temporada foi interrompida nesse dia devido a um toque numa grade e uma queda gravíssima. Ainda está a recuperar. Ter-se-ia gostado de ver muito mais do belga em 2019, mas pelo menos ficou-se a saber que Van Aert é muito mais que um excelente ciclista para as clássicas do pavé.

Depois de anos a apostar em ciclistas que estão actualmente a ter os resultados que se desejava e que são figuras não só da equipa, mas da modalidade, a Jumbo-Visma quer dar mais um passo de consolidação e destronar a Ineos na Volta a França, mas olhando com ambição total para um Giro e Vuelta, sem esquecer as clássicas (Wout van Aert) e sprints (Groenewegen). Tem equipa para se dividir pelos vários objectivos e a chegada de Tom Dumoulin dá mais uma alternativa para as grandes voltas.

Ao contrário do que se poderia esperar, não vai haver luta de egos por um Tour. Dumoulin procura o título olímpico, pelo que prefere regressar a Itália e a um Giro que já ganhou, a ir a um Tour que pouco lhe assenta e arriscar chegar a Tóquio desgastado. Roglic vai a França, faltando saber como vai juntar esforços com Kruijswijk. Ambos acreditam mais do que nunca que podem ir mais longe no Tour. A Ineos já sente a pressão da Jumbo-Visma e os ciclistas da equipa britânica já vão falando desta aproximação que só pode ser boa para o espectáculo do ciclismo.


Sem comentários:

Enviar um comentário