10 de dezembro de 2019

"Espero continuar a ser um ciclista atacante e não perder a minha identidade"

(Fotografia: © Team Katusha-Alpecin)
Foi apenas um ano na Katusha-Alpecin, mas Ruben Guerreiro considera que a experiência foi muito importante para a sua carreira e até o ajudou a redescobrir o potencial para ser um ciclista de topo nas provas por etapas, a pensar nas grandes voltas. A Vuelta marcou-o de tal forma que só pensa em regressar a uma corrida de três semanas. Prepara-se para mudar novamente para uma equipa americana. Na EF Education First não tem dúvidas que terá as suas oportunidades e é o próprio a dizer: "Porque não afirmar-me como corredor por etapas?"

Aos 25 anos (faz 26 em 2020) sorri ao recordar que já não vai contar mais para as classificações da juventude, mas rapidamente acrescenta que ainda é um jovem com muito para evoluir. Não esconde como as boas prestações na Volta a Espanha o motivaram ainda mais para trabalhar e alcançar os objectivos que tem na carreira. Um deles é ganhar uma etapa numa grande volta e olha também para a classificação geral: "Espero todos os anos fazer uma grande volta e porque não um dia fazer um top dez? Ficaria um palmarés bonito. Vou lutar por esse objectivo."

As fugas que integrou, estar por duas vezes perto de conquistar uma etapa na Vuelta (foi segundo na 15ª), mas principalmente a forma como o seu corpo reagiu à alta montanha e teve a recuperação necessária para estar ao mais alto nível durante três semanas, foram momentos decisivos para Ruben Guerreiro perceber que pode mesmo ambicionar a este tipo de corridas. "A certa altura da carreira não pensava que fosse possível, mas acho que depois da Volta a Espanha posso acreditar outra vez", admitiu ao Volta ao Ciclismo. O Tour recolhe a sua preferência, até porque realiza-se no mês em que faz anos, como realçou. Contudo, não se importa rigorosamente nada em ir ao Giro e/ou Vuelta, agora que inicia nova etapa na sua vida.


"Gostam da minha maneira de correr [na EF Education First]. Vou trabalhar imenso para os ajudar e espero que me ajudem também"

Com o final da Katusha-Alpecin - a licença World Tour foi comprada pela Israel Cycling Academy - e com vínculo apenas até ao final de 2019, a prestação na Vuelta tornou Ruben Guerreiro num ciclista mais pretendido, com a EF Education First a contratá-lo. Depois da então Axeon Hagens Berman e a Trek-Segafredo (equipa com que se estreou no escalão principal) é o regresso aos Estados Unidos. "Acho que me dou bem com a cultura e com o ciclismo americano", disse, acrescentando que os dois anos de contrato dão-lhe alguma tranquilidade para trabalhar, ainda que não tenha problema em competir sob pressão. "Acho que vou ter as minhas oportunidades e que foi a melhor opção."

Quando foi apresentado como reforço da equipa, o director Jonathan Vaughters descreveu o português como "ousado", mas com o talento para justificar essa forma de ser. Ruben Guerreiro espera precisamente poder manter a sua forma de ser e a sua forma de enfrentar as corridas. "Espero continuar a ser um ciclista atacante e não perder a minha identidade", salientou. E acrescentou: "Gostam da minha maneira de correr [na EF Education First]. Também não posso consigo mudar muito. Vou trabalhar imenso para os ajudar e espero que me ajudem também."

Apesar de desejar estar em pelo menos uma das grandes voltas na próxima temporada, o campeão nacional de 2017 não quer afastar-se das clássicas, pois referiu como uma Strade Bianche e as Ardenas lhe assentam bem.

Depois de duas temporadas na Trek-Segafredo com aspectos muito positivos, mas também com quedas ou problemas de saúde a impedirem Ruben Guerreiro de ser mais regular, o português escolheu mudar-se para a Katusha-Alpecin e não hesita em afirmar: "Acho que foi importante para perceber como estava como corredor. Na Trek-Segafredo acho que poderia ter o mesmo espaço, mas o apoio de José Azevedo foi fundamental. Podemos perceber inglês, mas ouvir português conta muito. Foi um ano para analisar, para tentar evoluir e reencaminhar a minha carreira outra vez."


"Foi uma pena que as coisas tivessem terminado assim, mas cresci mais um pouco como ciclista"

Havia mais um compatriota na equipa, o ciclista José Gonçalves, mas o director José Azevedo acabou por ser um apoio essencial para que Ruben Guerreiro chegasse à Vuelta a acreditar que poderia mostrar-se, depois da desilusão de ter ficado fora do Tour. Apesar de ter sido a época mais regular desde que chegou ao World Tour, ainda assim houve uma clavícula partida que contribuiu para adiar o sonho da Volta a França.

Azevedo também teve influência quando o futuro da Katusha-Alpecin começou a ficar muito incerto. A situação não foi fácil de lidar. "Notava-se muito com desenrolar do ano e muitos corredores foram afectados por isso. Eu fui fazendo o meu trabalho e os directores incentivaram-me bastante, tal como o fez José Azevedo. Tentei sempre fazer o meu caminho. Foi uma pena que as coisas tivessem terminado assim, mas cresci mais um pouco como ciclista e tenho de lhes agradecer por este ano na equipa", frisou.

Quando chegou ao World Tour foi considerado por muitos um dos jovens a seguir com atenção. Depois de prestações muito animadoras - dá-se muito bem com os ares da Austrália - a definitiva afirmação poderá ter começado com a estreia numa grande volta, que finalmente aconteceu este ano. Vai para uma equipa que está a apostar em vários ciclistas jovens, como são os casos dos colombianos Daniel Martínez e Sergio Higuita, Hugh Carthy, Sean Bennett e vai chegar Neilson Powless da Jumbo-Visma, assim como o sprinter da Ineos, Kristoffer Halvorsen. Rigoberto Uran, Michael Woods e Sep Vanmarcke, continuam a ser a voz da experiência de uma estrutura que encontrou estabilidade financeira desde que o actual patrocinador investiu no ciclismo e que em 2019 teve como um ponto alto a conquista de um monumento: a Volta a Flandres, por intermédio de Alberto Bettiol.

Ruben Guerreiro reforçará essa aposta nos mais jovens da EF Education First e depois do estágio de Dezembro, o ciclista português ficará a conhecer melhor o seu possível calendário que não passará pela Volta ao Algarve, já que a equipa não elegeu a corrida do sul do país para competir no arranque da temporada.

»»"Talvez seja das provas mais duras em que vou representar o meu país"««

»»Mais três equipas World Tour confirmadas na Volta ao Algarve««

Sem comentários:

Enviar um comentário