28 de dezembro de 2019

Como Jorgenson chegou ao World Tour. Inclui muitos e-mails

(Fotografia: © Team AG2R La Mondiale)
Quando muito se quer algo, há que ir à luta e Matteo Jorgenson quis ter a certeza que estava a fazer tudo o que lhe era possível para chegar ao World Tour. Por vezes, os resultados e as qualidades como ciclista podem não ser suficientes para chamar a atenção das grandes equipas, tendo em conta a enorme concorrência de jovens que partilham do mesmo sonho deste americano. Uns recorrem às redes sociais, mas este corredor optou por algo diferente. Na estrada, Jorgenson foi somando boas exibições, enquanto se aplicava nos treinos. Porém, no final de cada dia, sentava-se ao computador e escrevia às equipas de vários escalões a apresentar-se. A persistência deu os seus frutos. Jorgenson estagiou na AG2R na fase final da época de 2019 e prepara-se para vestir o equipamento da Movistar.

"Todos os dias tentava escrever três e-mails após os meus treinos porque estava a tentar muito em promover-me", contou numa entrevista ao VeloNews. Mas Jorgenson não se limitava a fazer fazer copy/paste do texto e enviá-los para as diferentes formações. "O que procura esta equipa num ciclista? Qual é o seu calendário? Demorava uma hora com cada e-mail", referiu. Ou seja, o ciclista tentava mostrar a mais valia que poderia ser se uma equipa fosse mais dedicada às clássicas, por exemplo, ou então apresentava os seus pontos fortes se fosse uma mais virada para as provas por etapas.

Jorgenson tinha então apenas 18 anos (estava-se em 2017), tinha evoluído na Hot Tubes Cycling, mas era nas várias chamadas à selecção dos Estados Unidos e nas viagens que tal lhe permita fazer à Europa, que procurava estabelecer mais contactos. "Tentava construir qualquer tipo de relação que pudesse levar-me à equipa. Falar com essas equipas e dizer-lhes para olharem para mim, fazer com que conhecessem o meu nome, foi incrivelmente positivo", realçou.

No imediato, o resultado da sua incessante procura até deu frutos no seu país. Recebeu um contrato de um ano da Jelly Belly p/b Maxxis, entretanto extinta. Continuou a ser chamado pela selecção, agora como sub-23, e manteve a postura de não desaproveitar qualquer oportunidade de se mostrar na Europa e de estabelecer contactos. A sua persistência seria ainda mais recompensada no ano seguinte. Em 2019 foi contratado pela francesa Chambéry Cyclisme Formation, o que lhe permitiu uma adaptação ainda maior à realidade ciclística que mais procurava integrar. Foi quarto na Ronde de l'Isard, com várias exibições de nota, que comprovaram as suas características de trepador. No Tour de l'Avenir voltou a mostrar-se e esteve perto de ganhar três etapas. Venceu a classificação dos pontos, tendo mostrado outra característica: bom a sprintar em grupos pequenos.

A AG2R chamou-o para estagiar na recta final da temporada. O sonho estava cada vez mais perto e concretizou-se quando a Movistar lhe apresentou uma proposta de contrato para 2020 e 2021. Uma pequena surpresa, pois se há equipa que pouco olha para o mercado americano é a Movistar. É preciso recuar a 1995 para encontrar o último a representar a formação espanhola e mesmo assim Andy Hampsten competiu muito pouco naquela temporada.

Agora com 20 anos, Jorgenson vê-se na posição de dar conselhos a quem, como ele, tanto ambiciona chegar ao mais alto nível. "Quando me pedem um conselho, digo aos miúdos para começar a fazer aqueles contactos na Primavera do segundo, ou mesmo do primeiro ano, como júnior. Tens de o fazer cedo, mesmo que não tenhas resultados. Houve muitos directores que me disseram que 'gostava de te dar um lugar, se tivesse um lugar para dar'", recordou o jovem americano.

Jorgenson será um dos 14 reforços de uma Movistar em fase de profunda mudança. Não é habitual que se façam tantas mexidas de uma vez nesta equipa e haverá várias entradas de ciclistas que não são espanhóis. Os italianos Dario Cataldo e Davide Villella deixaram a Astana, o norueguês Mathias Norsgaard (Riwal Readynez), o alemão Juri Hollman, o britânico Gabriel Cullaigh (Team Wiggins Le Col), o suíço Johan Jacobs (Lottou Soudal sub-23) e os colombianos Einer Augusto Rubio (Vejus Aran) e Juan Diego Alba (Coldeportes Zenu) fazem parte da lista de contratações.

E claro que não poderiam faltar ciclistas da casa. Sebastián Mora chegará da Caja Rural e Sergio Samitier da Euskadi-Murias. Aos 21 anos, Iñigo Elosegui (Lizarte) é um corredor que está a gerar muito interesse em Espanha, mas a estrela da equipa será Enric Mas, que deixou a Deuceninck-QuickStep à procura de uma estrutura que lhe dê ciclistas que trabalhem para o ajudar a ganhar uma grande volta, sempre com os olhos postos na Volta a França.


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