25 de novembro de 2019

Versão avassaladora da Astana desaparece nas grandes voltas

(Fotografia: Facebook Astana Pro Team)
Durante a primeira fase da temporada foi uma disputa entre Astana e Deceuninck-QuickStep. Quando uma ganhava, a outra não demorava a responder. A equipa cazaque dominava nas provas por etapas, entre triunfos em tiradas e gerais. A belga foi implacável nas clássicas, mas também foi ganhando muitas etapas. Porém, quando chegou o grande momento de mostrar que de facto é uma equipa forte para as grandes voltas, a Astana ficou mais uma vez muito aquém. Miguel Ángel López não conseguiu disputar o Giro. Na Vuelta ainda foi líder por três vezes, mas acabou fora do pódio. Já Jakob Fuglsang continua na difícil relação com a Volta a França. Dos irmãos Izagirre esperava-se mais, principalmente de Ion, mesmo estando em segundo plano para o colombiano e dinamarquês.

Das 37 vitórias em 2019, 30 foram alcançadas até ao final de Junho. Foi uma primeira metade de temporada avassaladora, mas ainda assim com uma Volta a Itália em que a Astana não ficou plenamente satisfeita. Pello Bilbao (duas) e Dario Cataldo conquistaram vitórias em etapas, mas a Astana quer regressar ao topo do pódio de uma grande volta. López não demorou a começar a ver a possibilidade de liderança escapar e quando tentou lutar por uma posição pelo menos de top cinco ou mesmo o pódio, um espectador provocou uma queda ao ciclista, que respondeu com uma chapada, num dos momentos mais insólitos do ano.

A López aconteceu um pouco de tudo de mau e o pouco de bom que se viu, não chega para tentar ganhar um Giro - venceu a juventude, mas nesta fase não chega - ou uma Vuelta. Em Espanha a irregularidade das exibições custaram-lhe o pódio. Mas são mais dois top dez nas três semanas e a Astana não adiar mais: López vai atacar o Tour em 2020.

Jakob Fuglsang parecia que aos 34 anos se tinha reinventado mais uma vez e seria desta que ajustaria contas com o Tour. Sempre que foi como líder, a tendência foi para correr mal. Chegou à corrida depois de meses fenomenais. Já tem o seu o monumento, numa semana das Ardenas sempre em crescendo: terceiro na Amstel Gold Race, segundo na Flèche Wallonne e depois primeiro na Liège-Bastogne-Liège. Antes já tinha sido segundo na Strade Bianche (foi uma disputa particular nas clássicas com Julian Alaphilippe, da Deceuninck-QuickStep), terceiro no Tirreno Adriatico e ainda uma vitória na Ruta del Sol, em Fevereiro. E houve mais excelentes resultados.
Ranking: 5º (11474,5 pontos) 
Vitórias: 37 (incluindo a geral da Ruta del Sol, Volta à Catalunha, Volta ao País Basco, Critérium du Dauphiné, três etapas no Giro e duas na Vuelta) 
Ciclista com mais triunfos: Alexey Lutsenko (10)
No Tour acabou por abandonar devido a problemas físicos devido a uma queda. Mas Fuglsang mostrou como mentalmente estava forte neste 2019 e foi à Vuelta conquistar uma etapa. Para o ano deverá trocar de calendário com López e vai pela segunda vez ao Giro, na esperança que talvez seja mesmo azarado.

Mas esta equipa não se resume a López e Fuglsang. Bilbao e Luis León Sánchez são sempre garantia de boas exibições e vitórias, mas o primeiro está de saída para a Bahrain-Merida, uma perda grande para o bloco de apoio a López. Contudo, uma da principais figuras da Astana é um homem da casa: o campeão cazaque Alexei Lutsenko.

Aos 27 anos é um ciclista muito à imagem do director da equipa, Alexander Vinokourov. Extremamente combativo, capaz de se mostrar em corridas por etapas (venceu a Volta a Omã e Artic Race, foi sétimo no Critérium du Dauphiné e quarto na Alemanha) e sempre perigoso nas clássicas, Lutsenko somou dez vitórias. Este corredor já tem um papel de total liberdade, pois tornou-se numa garantia de sucesso.

Do lado oposto de performance esteve Ion Izagirre, cuja troca da Bahrain-Merida para a Astana acabou por significar perda de estatuto. Não foi fácil para o espanhol assimilar que nem na Vuelta seria o número um, sendo que o grande momento chegou na Volta ao País Basco e já tinha ganho a Volta à Comunidade Valenciana. Ion, tal como o irmão Gorka, vão querer mais destaque em 2020, mas não será fácil.

Mesmo com os bons ciclistas que tem, a Astana necessita de fortalecer a sua aposta nas grandes voltas, pois começa a tornar-se frustrante ser tão ganhadora antes de chegar ao Giro e depois falhar nas três semanas (Tour e Vuelta incluídos). O basco Óscar Rodríguez (Euskadi-Murias e vencedor de uma etapa na Vuelta em 2018) e o russo Aleksander Vlasov (Gazprom-RusVelo) chegarão para este tipo de corridas, mas não será fácil substituir Bilbao e Dario Cataldo (está a caminho da Movistar).

Vinokourov pode querer ganhar e muito uma grande volta, mas tal não significa que não vai querer continuar a querer vencer tudo o que puder, pelo que foram contratados Alex Aranburu (um dos mais combativos na última Vuelta ao serviço da Caja Rural) e Davide Martinelli (Deceuninck-QuickStep) para serem reforços no sprint, tal como Fabio Fellinne (Trek-Segafredo), que também irá ser aposta nas clássicas.

Independentemente de não conseguir conquistar uma grande volta, há algo que é inegável nesta Astana: é uma equipa completamente feita à imagem do seu director. Dá espectáculo e quer ganhar seja em que corrida for.


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