(Fotografia: © Federação Portuguesa de Ciclismo) |
Rui Costa não só está com os olhos postos no futuro próximo, como até já fez uma viagem a Tóquio para começar a prepará-lo muito bem. No entanto, houve tempo para regressar um pouco ao passado e aquele 29 de Setembro de 2013, dia em que o desporto português viveu um dos seus momentos mais importantes, foi recordado e originou mais uma homenagem. É a data marcante em que Rui Costa sagrou-se campeão do mundo. Na gala dos 120 anos da Federação Portuguesa de Ciclismo, o poveiro foi um dos destaques e não escondeu a emoção de rever as imagens de quando bateu ao sprint o espanhol Joaquim Rodríguez. No entanto, falou-se do futuro próximo e de como os Jogos Olímpicos estão entre as prioridades do ciclista, que inclusivamente está a ponderar se fazer a sua querida Volta a França é ou não a melhor opção a pensar em Tóquio2020.
"Tóquio é um bom objectivo. Vão ser uns Jogos muito complicados. Muito duros. Talvez seja das provas mais duras em que vou representar o meu país. É um percurso de 240 quilómetros com quase cinco mil metros de desnível positivo. Isso demonstra a dificuldade que vai ter a corrida e isso requer que se esteja na melhor condição física", realçou Rui Costa ao Volta ao Ciclismo. E o ciclista sabe bem do que está a falar, pois viajou com Nelson Oliveira (a aposta para o contra-relógio e preciosa ajuda para a prova de estrada) e o seleccionador José Poeira para fazer o reconhecimento.
A corrida olímpica está marcada para 25 de Julho, ou seja, seis dias após o final da Volta a França. Esta viagem foi assim muito importante para que Rui Costa pudesse perceber não só o que o espera, mas para melhor estudar o seu calendário para chegar a Tóquio na melhor forma. Fica claro como conquistar uma medalha olímpica (feito alcançado por Sérgio Paulinho em Atenas2004 - prata) é algo que vai concentrar muita da atenção de Rui Costa. "Ainda não sei ao certo que tipo de calendário vou fazer a nível de preparação para os Jogos, mas qualquer decisão vai ser certamente a pensar na melhor trajectória para chegar a Tóquio em boa condição física", salientou. E acrescentou: "No fundo, acho que uma coisa que me está a deixar talvez um pouco indeciso é se vou fazer o Tour ou não para chegar na minha melhor condição. Esse será o ponto que terei de reflectir bem."
"Acredito que o Tour seria bom [como preparação], mas nunca para o terminar"
Paixão vs razão. Ou seja, de um lado está o conhecido gosto que o português, de 33 anos, tem pela Volta a França, mas por outro está o facto de não haver muito tempo de recuperação entre o Tour e os Jogos Olímpicos. E há que contar com os quase 10 mil quilómetros que separam as duas cidades e a diferença horária de mais oito horas na cidade japonesa, comparativamente com Paris. Rui Costa realçou como será necessário um maior período de adaptação precisamente por essa última razão, mas não significa que irá excluir a Volta a França do seu calendário em 2020: "Acredito que o Tour seria bom [como preparação], mas nunca para o terminar."
A decisão será feita no próximo estágio da UAE Team Emirates, com a Volta a Itália a ser uma hipótese que não estará afastada. Certo será a aposta nas clássicas que tanto aprecia, com o monumento da Liège-Bastogne-Liège, no qual já fez pódio, sempre entre as principais preferências: "É uma das clássicas que as pessoas que me conhecem sabem que gostava de ganhar e para o ano não vai fugir aos meus objectivos. Este ano devido a uma queda que tive na preparação para as clássicas, atrapalhou-me a condição e a minha forma física veio a sair depois na Romandia." A corrida Suíça foi dos seus melhores momentos de 2019, sendo segundo em duas etapas e repetindo essa posição no final, atrás de uma das grandes figuras da época: Primoz Roglic (Jumbo-Visma).
Questionado se estaria a perder protagonismo na UAE Team Emirates, Rui Costa recordou como tem sido difícil ter temporadas sem percalços, com a de 2019 a ficar marcada com o acidente com um camião durante um treino, em Março. "Eu acredito que quando se faz uma certa preparação para certas competições, para se chegar nas melhores condições aos nossos objectivos, requer que até lá tudo corra bem. Muitas vezes, ou por doença ou por uma queda, não chegamos nas melhores condições. Nos últimos anos isso tem acontecido muito. Mas pronto, é passado. Tenho uma nova temporada e estou já a prepará-la. O que quero é definir os meus objectivos e prepará-los da melhor maneira", afirmou.
E será que essa preparação vai passar pela Volta ao Algarve? Desde 2014, quando vestia a camisola do arco-íris, que Rui Costa não inclui a Algarvia nos seus planos: "Possivelmente o próximo ano pode ser o meu regresso à Volta ao Algarve. Gostava muito. Ainda não sei o meu calendário, mas acredito que em 2020 possa ser uma das provas que irá estar no meu calendário." Há que esperar pela confirmação oficial, não esquecendo que a UAE Team Emirates é uma das sete equipas World Tour já confirmadas na corrida.
"[Os gémeos Oliveira] são jovens com muito talento. Certamente que na estrada vão dar um salto de qualidade muito maior"
É um regresso desejado para os adeptos portugueses, que ainda recentemente elegeram a sua vitória em Florença em 2013 como um dos oito momentos mais importantes do desporto nacional. A votação online realizada pelo jornal Record deu origem a uma exposição no NewsMuseum, no Centro Histórico de Sintra, em que a conquista de Rui Costa surge ao lado do golo de Éder que deu a Portugal o título europeu de futebol em 2016 e as medalhas olímpicas de ouro na maratona de Carlos Lopes (1984) e Rosa Mota (1986), por exemplo.
Rui Costa foi um dos quatro ciclistas homenageados pela Federação Portuguesa de Ciclismo, na gala dos 120 anos que decorreu no último sábado, no Fórum Lisboa. O nome do poveiro surgiu ao lado de José Bento Pessoa, Alves Barbosa e Joaquim Agostinho. "São nomes de peso do ciclismo português, que deram muito ao país. São motivo de orgulho para todos nós. Um exemplo para esta nova geração. Sinto-me muito feliz com este reconhecimento e é mais um motivo de força para continuar a fazer o meu trabalho diariamente", afirmou.
No vídeo que recordou a história do ciclismo nacional focado nestas figuras e sem esquecer José Maria Nicolau, Alfredo Trindade, Ribeiro da Silva, ou mais recentemente, Sérgio Paulinho e José Azevedo, entre outras, o momento da conquista do Mundial de 2013 finalizou as imagens, recordando as emotivas palavras de Rui Costa após a vitória. "São sempre imagens muito giras... Boas recordações. Foi dos momentos mais altos da minha carreira, um momento lindo com a camisola de Portugal, por isso, para mim diz tudo. Foi um orgulho enorme ter vencido o campeonato do mundo pelo nosso país", disse, agradecendo ainda o reconhecimento da Federação Portuguesa de Ciclismo.
Mas depois de se celebrar o passado, é para o futuro que se olha e ao seu lado na UAE Team Emirates, Rui Costa tem dois dos ciclistas portugueses de quem muito se espera: os gémeos Oliveira. E não tem dúvida que vão ser apostas importantes na equipa: "São jovens com muito talento. Deu para ver pelos resultados que obtiveram na pista e certamente que na estrada vão dar um salto de qualidade muito maior. Este ano já deu para ver que, principalmente o Rui, demonstrou ter evoluído muito até ao final da temporada. O Ivo teve um acidente que lhe dificultou os seus objectivos, mas tanto um como o outro são talentos muito importantes para Portugal e a equipa aposta muito neles. Tanto que tiveram um contrato de três anos e essa preparação com ambos vai ser feita da melhor maneira. Certamente que no próximo ano vão ser cartadas bem importantes."
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