8 de dezembro de 2019

A imparável Deceuninck-QuickStep

(Fotografia: © Deceuninck-QuickStep)
Palavras para quê? É a Deceuninck-QuickStep! 68 vitórias em 2019. 15 dos 25 ciclistas ganharam corridas e quando chegou um estagiário, também esse corredor venceu. A equipa ganhou mais dois monumentos, foi a rainha das clássicas, mas também esteve no topo no Tour e vitoriosa na Vuelta. O que falta a esta equipa? Quem ganha assim, falta pouco ou nada. Julian Alaphilippe pode ter sonhado com uma vitória na Volta a França, mas nem o ciclista, nem a equipa têm esses objectivos, pelo que de todos os delineados para esta temporada falhou uma melhor prestação no Giro (até parece estranho não ter ganho nenhuma etapa) e um Enric Mas mais ao nível do épocas anteriores.

Nem tudo é perfeito e só assim esta equipa continua todos os anos em busca de ser melhor. Às vezes parece impossível, mas, tal como Alaphilippe demonstrou, não o é. O francês acabou por centrar grande parte das atenções nele, muito devido à senda de amarelo no Tour (14 dias não consecutivos) e duas vitórias de etapa (há um ano venceu também duas e foi o rei da montanha). Porém, estamos a falar de um ciclista com 12 vitórias, incluindo o seu primeiro monumento: a Milano-Sanremo. Ganhou ainda a Strade Bianche e começa a ser o rei da Flèche Wallonne, ao vencer pela segunda vez. Não há nada que este ciclista não seja capaz e em 2020 até vai experimentar a Volta a Flandres. Lutar pela geral no Tour, como se ficou a especular ainda mais depois do que fez na última edição, vai ser algo a pensar mais tarde.

Mas na Deceuninck-QuickStep há sempre espaço para mais ciclistas se destacarem. É talvez a única equipa que não sofre quando uma das suas figuras sai. Perdeu Fernando Gaviria, mas Fabio Jakobsen e Álvaro Hodeg estão em plena fase de afirmação, enquanto Elia Viviani somou 11 vitórias, incluindo a etapa que lhe faltava no Tour, e um título europeu. Está de saída para a Cofidis e não há lamentos porque a caminho vem Sam Bennett. Não há grandes dúvidas que o irlandês terá sucesso.

Kasper Asgreen, Florian Sénéchal e Rémi Cavagna são mais dois jovens a habituarem-se às grandes exibições e aos triunfos, enquanto Bob Jungels até esteve abaixo do esperado grande parte da temporada, principalmente no Giro, mas também teve os seus momentos, assim como um Zdenek Stybar, há algum tempo afastado das vitórias (uma delas foi no Alto do Malhão). Yves Lampaert não teve a época de clássicas que ambicionava, contudo, não deixou de agarrar algumas oportunidades.
Ranking: 1º (14835,15 pontos) 
Vitórias: 68 (incluindo Milano-Sanremo, Paris-Roubaix, três etapas no Tour e cinco na Vuelta) 
Ciclista com mais triunfos: Julian Alaphilippe (12)
Depois há dois belgas. Duas gerações. Philipe Gilbert (37 anos) foi o protagonista de um dos momentos da temporada. Conquistou o Paris-Roubaix e já só lhe falta a Milano-Sanremo para ter no currículo os cinco monumentos. Na Vuelta venceu duas etapas e já são sete na carreira na prova espanhola. E depois há Remco Evenepoel. Foi um início de temporada algo "tremido". Talvez a ansiedade de querer fazer muito bem rapidamente o tenha traído. O abandono na Volta aos Emirados Árabes Unidos não caiu bem na equipa, mas com apenas 19 anos e na sua primeira temporada no World Tour, não se pode dizer que seja uma surpresa que nem sempre fizesse as melhores da opções.

Habituado a ganhar tudo, passou pelo processo natural de adaptação. A certa altura, não parecia que estar tudo em harmonia. O director Patrick Levefere chegou a acusar Evenepoel de estar com peso a mais. Foi mais uma forma de "espicaçar" o jovem ciclista que em Junho começou a mostrar que está preparado para a responsabilidade que o espera. Até foi perfeito começar a ganhar em casa na Volta à Bélgica (uma etapa e a geral), mas foi a fenomenal exibição na Clássica de San Sebastián que confirmou o Evenepoel como um ciclista de topo entre os melhores. O antigo ciclista Tom Boonen alertou que o jovem belga teria de saber lidar com uma realidade completamente diferente da que estava habituado nos juniores e a boa notícia para a Deceuninck-QuickStep é que em seis meses Evenepoel demonstrou uma boa evolução a nível mental.

Aos 37 anos, Gilbert vai regressar à casa onde se tornou num dos ciclistas mais importantes do pelotão, a Lotto Soudal, pois nesta equipa não terá de dividir tanta atenção, numa altura em que não lhe resta muito mais tempo para concretizar o grande objectivo da carreira: ganhar a Milano-Sanremo. Evenepoel é agora um dos rostos do futuro da equipa Deceuninck-QuickStep, ainda que mais para as provas por etapas, já que Gilbert é um homem de clássicas. No entanto, fica reforçada a dúvida de como irá lidar a estrutura com a mais que clara vontade do belga de querer discutir uma grande volta, quando esta é uma equipa completamente virada para clássicas, sprints e vitórias de etapas.

Enric Mas está de saída precisamente porque para lutar por uma grande volta precisa de mais companheiros. Foi ao pódio no Vuelta em 2018, mas, apesar de muitas teorias que poderia utilizar o trabalho de equipas como a Ineos ou Jumbo-Visma a seu favor, esteve apagado no Tour. Lefevere chegou a prometer que contrataria ciclistas para ajudar o espanhol se este renovasse, mas Mas está a caminho da Movistar. Evenepoel poderá ser o ciclista que fará a Deceuninck-QuickStep alargar os seus objectivos, se não quiser perder o belga para outra equipa. Ou talvez até seja Alaphilippe a fazer os responsáveis da estrutura a pensar se é ou não altura de tentar ganhar uma grande volta e não "apenas" etapas.

A Deceuninck-QuickStep pode não precisar de mais nada para continuar a ser a que mais vence, mas haverá sempre caminhos novos a explorar, caso a equipa queira.

Para 2020, os objectivos vão manter-se iguais aos de sempre. O referido estagiário é o alemão Jannik Steimle, sprinter que assinou até 2021, contudo, numa perspectiva portuguesa, a atenção irá quase toda para João Almeida. Um dos mais promissores ciclistas da nova geração em Portugal vai chega ao World Tour pela porta grande e nesta equipa só se contrata os melhores ou os que têm tudo para o ser.

68 vitórias em 2019 que até foi um número mais baixo do que em 2018: 73. Mas continua muito acima dos rivais e nunca é de mais realçar como vários desses triunfos são nas principais corridas do calendário mundial.


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