7 de dezembro de 2019

Uma Bora-Hansgrohe cada vez mais para todo o terreno

(Fotografia: © VeloImages/Bora-Hansgrohe)
Seria fácil para a Bora-Hansgrohe tentar ficar à sombra do sucesso de Peter Sagan, concentrar-se em proteger a sua estrela quando as coisas não correm de feição e tirar todos os dividendos possíveis de um dos ciclistas mais populares do pelotão e, a nível de marketing, o mais rentável (Mathieu van der Poel vai ser um forte adversário nesse aspecto e não só). Porém, a equipa alemã tem sabido ir além de Sagan e se já na época passada se tinha visto esse crescimento, em 2019 ficou a confirmação que há várias e boas opções para ganhar e, ainda mais importante, em diferentes terrenos.

Talvez por isso mesmo, desta feita, não se comece por Peter Sagan. Continua a ser a grande estrela, mas não é a grande figura em termos de vitórias. Sam Bennett e Pascal Ackermann dividiram nos sprints as atenções. O irlandês estava simplesmente imparável no início de época, a somar muitos triunfos. O alemão também ia picando o ponto, ainda que em menor ritmo. No entanto, a Bora-Hansgrohe cedo fez saber que Ackermann seria a escolha para o Giro, Sagan iria ao Tour e Bennett teria de aguardar pela Vuelta. Sem surpresa, o irlandês não ficou nada satisfeito, mas a sua reacção foi continuar a ganhar. Ackermann chegou a Itália pressionado com os resultados do companheiro, mas reagiu com duas vitórias de etapa, esteve na luta por mais e ainda ficou com a classificação dos pontos.

Bennett foi à Vuelta, venceu também duas tiradas e terminou 2019 com 13 vitórias e duas classificações por pontos. Ackermann somou também 13 triunfos e três classificações por pontos, incluindo na Volta ao Algarve. Com Sagan intocável, não há espaço para tantos sprinters ambiciosos e Bennett está a caminho da Deceuninck-QuickStep, com Ackermann a ter a seu favor adaptar-se bem a certas clássicas e ser alemão, com a equipa a querer cada vez apostar nos ciclistas da casa. Mas há que reiterar, apesar de ter sido preterido no Giro (onde esteve tão bem em 2018, com três etapas ganhas) e no Tour, Bennett foi um profissional exímio, mantendo-se em excelente nível durante todo o ano. Deverá encaixar na perfeição na Deceuninck-QuickStep.

Mudando a atenção para a luta pelas classificações gerais, Rafal Majka foi sexto no Giro e Vuelta e de quando em vez este polaco mostrou a sua qualidade, mas sem a traduzir em grandes vitórias e para a Bora-Hansgrohe tal vai começar a ser insuficiente perante o que se viu de outros três ciclistas.
Ranking: 2º (14192,86 pontos) 
Vitórias: 47 (incluindo duas etapas no Giro e na Vuelta e uma no Tour) 
Ciclista com mais triunfos: Pascal Ackermann e Sam Bennett (13)
Maximilian Schachmann fez o percurso inverso que vai fazer Bennett e no seu primeiro ano na Bora-Hansgrohe continuou a afirmaçãoque já se esperava. É um ciclista com muito potencial, somando top 15 e 10 nas provas por etapas de uma semana. Infelizmente no Tour caiu no contra-relógio e com uma mão partida foi para casa após a 13ª etapa, mas a Bora-Hansgrohe não tem dúvidas que foi uma contratação acertada e acabará por aparecer bem também nas três semanas.

Felix Grobschartner é o outro ciclista que a equipa está a tentar "formar" para as corridas por etapas. Ganhou a Volta à Turquia, foi quarto na Romandia e somou mais top dez, mas desiludiu um pouco na Vuelta. Tem apenas 25 anos e vai continuar a sua evolução.

Mas o ciclista que já faz a Bora-Hansgrohe não só acreditar, mas em pensar em chegar a um pódio no Tour é Emanuel Buchmann. Muitas vezes mal se dá por ele. Não é de grandes loucuras, calculista nas suas análises às corridas, compete a pensar nas suas capacidade e não no que os rivais podem fazer. O resultado foi o quarto lugar na Volta a França, com o pódio a ficar a apenas 25 segundos. Faltou-lhe uma grande vitória e a etapa na Volta ao País Basco soube a pouco. Nessa corrida, começou a última etapa na liderança, mas das poucas vezes em que se viu este ciclista andar ao ataque, pagou caro o esforço. De 54 segundos de vantagem para Ion Izagirre, acabou com 31 a mais e no terceiro lugar.

Buchmann regressou ao seu estilo mais calculista depois dessa exibição e a Bora-Hansgrohe também percebeu que tinha de controlar melhor o esforço de toda a sua equipa, pois forçou tanto nos primeiros dias, que no último ninguém aguentou o ataque da Astana.

São as pequenas lições que uma equipa que chegou ao World Tour em 2017 com Sagan como praticamente a única aposta, a pensar nas clássicas e sprints, e agora mostrou que já tem os ciclistas que fazem os seus responsáveis dizer cada vez mais que querem transformar a Bora-Hansgrohe na melhor equipa do mundo. Parece querer seguir mais os passos de uma Jumbo-Visma, ou seja, apostar nas várias especialidades e não ser tanto como uma Deceuninck-QuickStep ou uma Ineos que optam mais pelas clássicas e grandes voltas, respectivamente.

Porém, para o futuro próximo, a formação alemã começa a dar sinais que as provas por etapas vão tornar-se cada vez mais um ponto forte. Contratou jovens ciclistas, a maioria do apetência para subir. Lennard Kämna (23 anos) deixa a Sunweb para continuar a sua evolução na Bora-Hansgrohe, sendo um ciclista que vai criando alguma expectativa. Da Katusha-Alpecin chega o italiano Matteo Fabbro (24), enquanto Patrick Gamper (22), Ide Schelling (21) vão estrear-se ao mais alto nível. O estónio Martin Laas (26) é o único a fugir à regra, sendo mais forte no sprint.

E Sagan? Talvez se fale pouco dele porque quatro vitórias no ano diz quase tudo sobre a sua temporada. A fase das clássicas não correu bem e até adiou a anunciada estreia na Liège-Bastogne-Liège por não estar bem fisicamente. Não se encontrou com a melhor forma numa das fases da temporada mais importante, mas foi ao Tour conquistar a sétima camisola verde (além de uma etapa). Um recorde, um objectivo de carreira cumprido que até o vai fazer estrear-se no Giro em 2020, sem claro esquecer o Tour, quando se prepara para celebrar o 30 aniversário (26 de Janeiro).

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