(Fotografia: Strade Bianche) |
Para a Deceuninck-QuickStep vencer a este ritmo não é nada de novo e até soma mais duas vitórias do que em 2018, fazendo a comparação a nível de datas (algumas corridas estão em alturas do calendário um pouco diferentes). Já a Astana somava cinco há um ano. Em 2017 estava a zero! Então foi Michele Scarponi que terminou com o jejum, dias antes da sua trágica morte. 2018 foi o primeiro sinal que era uma equipa bem diferente, ainda que com praticamente os mesmo ciclistas. Em 2019, Aleksander Vinokourov vê os seus ciclistas estarem em disputa em várias corridas e "viciados" no ritmo de vitórias.
Quinze triunfos distribuídos por nove ciclistas. Na Deceuninck-QuickStep foram oito a alcançar o mesmo número de vitórias. Mas há diferenças, que fará diferenças no ranking, por exemplo. A equipa belga tem cinco conquistas World Tour. A Astana nem uma. Tem cinco HC (segunda categoria). A Deceuninck-QuickStep tem três a este nível. Todas as restantes de ambas são de nível 1, ou seja, a terceira categoria das corridas do calendário internacional.
As vitórias, seja que categoria forem, são sempre importantes - que o diga a Sunweb, a única equipa World Tour ainda a zero -, mas as que a Deceuninck-QuickStep está a alcançar estão a começar a ofuscar a boa temporada da Astana. Afinal são quatro clássicas numa semana, quatro vitórias, duas World Tour.
Regressando então ao frente-a-frente Julian Alaphilippe vs Jakob Fuglsang. Estavam representadas as duas equipas mais ganhadoras de 2019, portanto, novo pensamento: será que é a Astana que vai quebrar a senda nas clássicas da Deceuninck-QuickStep? Não, ainda não foi desta. A formação belga está imbatível na sua especialidade.
Era difícil atribuir um claro favoritismo naqueles quilómetros finais, ainda que a recente forma de Alaphilippe e a sua clara evolução táctica, de leitura de corrida, talvez lhe dessem uma ligeira vantagem. Teórica, claro. Foi Fuglsang quem, na subida final, deixou novamente Wout van Aert para trás. O belga da Jumbo-Visma trabalhou tanto para apanhar o duo da frente, mas por uma segunda vez não teve pernas. Dois anos, dois terceiros lugares. Muito positivo para um ciclista jovem e tão talentoso.
Mas o que também não falta a Alaphilippe é talento. E inteligência. Quando, quilómetros antes, Fuglsang e Van Aert deixaram o grupo da frente, Alaphilippe, um pouco recuado, percebeu que era o momento para arrancar também. Soube depois acompanhar e ajudar Fuglsang quando foi preciso e deixar Van Aert em dificuldades. E soube ainda melhor escolher o momento exacto para deixar o dinamarquês para trás nos metros decisivos. Foi a primeira vez que esteve na Strade Bianche, mas conhecia na perfeição todos os pormenores finais da Strade Bianche.
Alaphilippe foi perfeito. O próprio realçou como não cometeu erros. Fuglsang não conseguiu o mesmo nível de perfeição táctica e talvez lhe tenham faltado algumas forças para a explosão final necessária. Ainda assim foi uma boa corrida do dinamarquês de 33 anos. Aos 26, Alaphilippe juntou ao currículo mais uma grande vitória. Pode não ser um voltista para ganhar o Tour, mas está a tornar-se num caso sério de sucesso no ciclismo gaulês.
A Strade Bianche era mesmo um objectivo seu. "A minha época não é apenas a Flèche Wallonne [que venceu em 2018] e a Volta a França [duas etapas e rei da montanha]. Precisava de algo novo", admitiu. A Strade Bianche demonstrou mais uma vez como é uma clássica que, apesar do sterrato, acaba por assentar bem a diferentes tipos de ciclistas, ao contrário do que acontece com as do pavé. Alaphilippe e Fuglsang são a prova, tal como Romain Bardet foi há um ano quando fez segundo, por exemplo.
Os 184 quilómetros, com Siena como palco à partida e chegada (ainda que em pontos diferentes) são uma enorme incógnita, com tantos ciclistas de características tão distintas presentes. Alaphilippe demonstrou mais uma vez a sua capacidade para se adaptar a diferentes estilos de corridas. Segue para o Tirreno-Adriatico antes do primeiro monumento do ano, a Milano-Sanremo. É considerado o monumento dos sprinters, mas Michal Kwiatkowski e Vincenzo Nibali demonstraram recentemente como se pode surpreender os homens mais rápidos. Se as Ardenas são as clássicas de eleição de Alaphilippe, talvez seja boa ideia não o menosprezar em Sanremo. E, mais um pormenor, Alaphilippe ultrapassou o companheiro Elia Viviani: quatro contra três. (Classificação completa da Strade Bianche neste link, via ProCycling Stats)
Esta batalha entre Deceuninck-QuickStep e Astana não deverá ficar por aqui e atenção que há mais equipas a quererem mostrar que também estão em sendas vencedoras. A Mitchelton-Scott vai em 11 vitórias e a UAE Team Emirates é uma equipa transformada: 10 (ganhou 12 em todo o ano de 2018).
A Mitchelton-Scott que também não pára de vencer com a sua equipa feminina. A fantástica ciclista holandesa Annemiek van Vleuten realizou mais uma exibição de enorme nível para ganhar a sua primeira Strade Bianche. Deixou a dinarmaquesa Annika Langvad (Boels-Dolmans) a 37 segundos e a polaca Katarzyna Niewiadoma (Canyon SRAM Racing) a 40. Pode ver neste link a classificação completa da corrida feminina, via ProCyclingStats.
Os portugueses
Ruben Guerreiro foi o melhor entre os três portugueses presentes. O ciclista da Katusha-Alpecin não conseguiu ficar no grupo que chegou a estar na frente antes da fuga do trio, apesar de ter feito uma boa corrida, demonstrando que está a subir de forma. Terminou na 22ª posição, a 2:56 minutos de Alaphilippe. Seguiu-se Nelson Oliveira (Movistar), com um 25º lugar, a 3:05. Rui Costa (UAE Team Emirates) abandonou a corrida italiana.
Os três ciclistas vão continuar por aquele país e na quarta-feira partirão para o Tirreno-Adriatico, que contará também com José Gonçalves (Katusha-Alpecin). Ainda em Itália, mas já este domingo, serão os gémeos Oliveira a mostrarem-se, pois ambos foram chamados pela UAE Team Emirates para a corrida de um dia GP Industria & Artigianato. Também amanhã arranca o Paris-Nice, que terá Amaro Antunes (CCC) em acção.
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