4 de março de 2019

Segundo ciclista austríaco implicado em rede de doping. Saiu imediatamente da Groupama-FDJ

(Fotografia: Groupama-FDJ)
O escândalo de doping que abalou o esqui, com cinco atletas a serem detidos durante os Mundiais, chegou agora o ciclismo, com as ondas de choque a poderem atingir mais modalidades. Primeiro foi noticiado que Stefan Denifl terá confessado o recurso a dopagem sanguínea, seguindo-se admissão idêntica, desta feita publicamente, de Georg Preidler. Este ciclista terminou de imediato o contrato com a Groupama-FDJ.

O caso foi descoberto durante os Mundiais de Seefeld, na Áustria, com as autoridades a realizarem várias buscas que resultou na detenção de várias pessoas. Um dos atletas foi o também austríaco Max Hauke, esquiador que terá sido apanhado inclusivamente a fazer uma transfusão de sangue, com um vídeo a ser divulgado. Dos cinco, dois eram da selecção austríaca, um da equipa do Cazaquistão e dois da Estónia. Um dos polícias responsáveis pela investigação alertou desde logo que era certo que o caso iria afectar outras modalidades.

E assim está a ser. Neste domingo, o jornal austríaco Kronen Zeitung divulgou que o ciclista Stefan Denifl (31 anos) terá admitido a utilização de dopagem sanguínea, podendo ser acusado de fraude desportiva. Esta alegada confissão levou a CCC a reagir, salientando que não havia qualquer suspeita no passaporte biológico do atleta. Denifl passou os últimos dois anos na Aqua Blue Sport - venceu uma etapa na Volta a Espanha em 2017 - e com o fim da equipa irlandesa assinou pela CCC. No entanto, nunca chegou a representar a formação que este ano é do World Tour, tendo anulado o contrato pouco tempo depois, justificando-se com razões pessoais.

Já esta segunda-feira foi Georg Preidler a assumir que tirou sangue em duas ocasiões em 2018, ainda que garanta que nunca chegou a fazer a posterior transfusão. "O pensamento e a intenção fraudulenta já são um crime", referiu Preidler ao Kronen Zeitung, acrescentando: "Foi certamente o maior erro da minha vida. Tenho de pedir desculpa a todos os que considerem que fiz batota."

O austríaco de 28 anos disse também que "os últimos dias foram um pesadelo." "Não dormi, nem comi", afirmou. Apesar de não saber se o médico que está no centro da rede de doping teria as identidades dos atletas ocultas, realçou que "já não podia viver mais com o segredo". Inicialmente a Groupama-FDJ explicou a ausência do ciclista neste fim-de-semana com uma alegada doença, mas divulgou hoje um comunicado, no qual lê-se que Preidler admitiu o que tinha feito e apresentou de imediato a sua demissão.

O director da Groupama-FDJ aceitou-a e no mesmo texto é ainda referido que o que aconteceu vai contra os princípios éticos da equipa e dos seus patrocinadores, separando a postura colectiva do acto de um ciclista. Marc Madiot reagiu entretanto. O responsável considerou uma surpresa e uma desilusão o que Preidler fez, dizendo ao jornal Ouest France que foi informado pelo próprio ciclista através de um e-mail. Era o segundo ano do austríaco na equipa, depois de cinco na Sunweb. É tricampeão nacional de contra-relógio, tendo conquistado os últimos dois títulos. A sua primeira grande conquista além destes títulos foi precisamente em 2018, ao vencer uma etapa da Volta à Polónia, mas era um gregário importante na estrutura da formação francesa.

Médico já tinha enfrentado acusação de doping

Mark Schmidt é o médico que estará no centro desta rede de dopagem. Cerca de 40 sacos de sangue terão sido descobertos numa garagem em Erfurt, na Alemanha. Schmidt foi  outro dos detidos, além dos atletas, e os meios de comunicação social alemães avançam que o médico estará disponível para colaborar com a autoridades. Os sacos de sangue identificados com abreviaturas fizeram de imediato lembrar o caso espanhol, conhecido como "Operación Puerto".

Este caso "rebentou" em 2006 e Alejandro Valverde foi um dos ciclistas envolvidos que acabou mesmo a cumprir uma suspensão de dois anos. Jan Ullrich confessou mais tarde ter recorrido aos serviços de Eufemiano Fuentes. Treze anos depois e após de avanços e recuos na justiça, ainda não se conhece o nome de todos os atletas envolvidos, com o médico espanhol garantir que o escândalo de doping ia além do ciclismo.

Quanto a Schmidt, fica agora a expectativa se irá divulgar a quem pertencem os sacos de sangue descobertos. Este médico esteve nas equipas alemãs Gerolsteiner e Milram. Em 2008, Schmidt foi acusado por Bernhard Kohl, ciclista então apanhado com doping, segundo recorda o Cycling News. O médico foi ilibado em tribunal.

UCI quer estar informada e colaborar

Com o caso a começar nos Mundiais de ski, a UCI explicou que não está informada sobre as confissões de Denifl e Preidler, apelando às autoridades austríacas e à Agência Mundial de Anti-dopagem para que sejam entregues ao seu órgão independente de combate ao doping a informação que esteja directamente ou indirectamente relacionada com o ciclismo. Em comunicado, a UCI quer seguir de perto a investigação e ajudar no que for necessário.


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