2 de março de 2019

Queixou-se de falta de sorte a agora somou duas vitórias consecutivas

"Nunca tive muita sorte nos momentos certos." O desabafo foi feito pouco antes de Zdenek Stybar começar a Volta ao Algarve, depois de no ano passado ter celebrado muitas vitórias dos colegas, mas nenhuma sua. Há muito que é uma das principais figuras da Deceuninck-QuickStep, mas parece que andava de costas voltadas para com os triunfos. 2018 foi uma excelente época, com vários top dez e a ser responsável por ajudar vários dos seus companheiros a ganhar. Contudo, numa temporada com 73 triunfos, nenhuma foi de Stybar. Tudo pode mudar num instante e para este portentoso checo isso aconteceu: duas vitórias consecutivas!

Stybar pode dizer que a sorte está finalmente do seu lado, mas também pode dizer que a sua forma física, a sua inteligência a ler os seus adversários e a sua capacidade para se adaptar a diferentes situações de corridas estão novamente a obter resultados. Primeiro foi senhor do Malhão, na Algarvia. Uma semana depois, no arranque da temporada de clássicas, conquistou a Omloop Het Nieuwsblad.

Este checo é um daqueles ciclistas sempre pronto para ajudar quem for preciso, seja um companheiro de enorme influência e experiência como Philippe Gilbert, seja uma jovem promessa como Fabio Jakobsen. Nas clássicas, o próprio admite que não fica preso a um papel secundário e que lhe é dada liberdade. No entanto, apesar do excelente trabalho que tantas vezes faz, ou fica de fora da discussão, ou é um colega de equipa que fica em melhor posição. E na Deceuninck-QuickStep impera o espírito de união e respeito, pelo que não há lutas de egos a intrometerem-se na luta por vitórias.

Zdenek Stybar, 33 anos, é um ciclista que vai para a nona temporada com a formação belga. Venceu a Strade Bianche em 2015, fez dois segundos lugares no Paris-Roubaix, perdendo um para Greg van Avermaet (2017) e outro para John Degenkolb (2015). Conquistou um então Eneco Tour (2013) e ganhou uma etapa na Vuelta (2013) e Tour (2015), entre outros triunfos. A sua carreira ficou ainda marcada por uma queda de causar arrepios no Eneco Tour de 2014. Apertado contra as barreiras acabou por "saltar" por cima do guiador, batendo violentamente com o rosto no chão. O sangue dos seus ferimentos tornaram as imagens ainda mais impressionantes. No entanto, impressionante também foi o regresso à competição pouco mais de 15 dias depois. Os cortes no rosto e uns dentes partidos não abateram este checo.

O director da Deceuninck-QuickStep, Patrick Lefevere, não esconde como Stybar é um ciclista que lhe agrada e com quem muito conta. O responsável até alertou que Yves Lampaert teria de assumir mais responsabilidade, numa altura em que Niki Terpstra (Direct Energie) teve de sair da equipa devido à necessidade de apertar os cordões da bolsa do orçamento. Lampaert respondeu a esse apelo, mas uma queda de Tiesj Benoot (Lotto Soudal), afastou-o da frente da corrida deste sábado. Desta vez foi Stybar quem ficou na frente e numa contagem que vai a bom ritmo, em 12 vitórias da formação belga em 2019, desta feita o checo já escreveu o seu nome em duas.

Na luta particular com a Astana, a Deceuninck-QuickStep reduziu a diferença, com a equipa cazaque a ser a mais ganhadora de 2019, com 13 triunfos.

Início perfeito das clássicas para a equipa que vive para elas. Lampaert e Gilbert fecharam no top dez, demonstrando que a Deceuninck-QuickStep quer mais um ano para recordar. Curiosamente, apesar de ser uma formação tão dominadora neste tipo de corridas, a Omloop Het Nieuwsblad estava a ser difícil de conquistar. A última vitória remonta a 2005, da autoria do belga Nick Nuyens.

O momento da decisão e um Avermaet que tentou fazer tudo

Numa corrida que, como tantas no pavé, ficou marcada pelo eliminação sucessiva de candidatos a cada sector de empedrado e a cada queda que cortava os grupos de ciclistas, foram cinco os que sobraram para discutir a vitória. Com Greg van Avermaet entre os primeiros, era no ciclista da CCC que recaía a maior responsabilidade. A equipa elegeu o belga e apenas o belga como líder neste seu primeiro ano no World Tour, pelo que a aposta é forte nas clássicas. Está mais do que habituado a sentir pressão, mas nunca teve um papel com um peso tão relevante. 

Avermaet conseguiu escapar a quedas, furos, avarias, tudo o que tantas vezes acaba com as aspirações de ciclista num pavé que não perdoa qualquer falha ou azar. A equipa trabalhou quando houve cortes, garantindo que o seu líder pudesse estar na discussão. No momento certo, Avermaet entrou na fuga que singrou. Porém, ou vontade a mais, ou pressão a mais para ganhar, Avermaet atacou, respondeu a ataques, voltou a atacar e respondia a todos que tentavam mexer no grupo, enquanto nunca se escondeu no trabalho quando o quinteto estava unido em deixar os perseguidores longe. Chegaram a ser seis, mas Daniel Oss (Bora-Hansgrohe) não conseguiu aproveitar a liberdade de não ter Peter Sagan na prova, tendo quebrado no Kapelmuur.

Mas regressando à fase da decisão. Mesmo nos últimos cinco quilómetros, quando Tim Wellens (Lotto Soudal), Alexey Lutsenko (Astana) e Dylan Teuns (Bahrain-Merida) teriam maior responsabilidade de atacar, já que ao sprint era quase certo que perderiam para Avermaet e Stybar, foi o belga da CCC que deu um ligeiro puxão para obrigar todos a "mexerem-se". Wellens cumpriu e atacou. Quem respondeu? Avermaet. Todos juntos novamente e Stybar contra-atacou. Quem respondeu? Avermaet. Mas desta feita, não deu. A força já não estava lá e aquele baixar de cabeça revelou um ciclista derrotado.

Stybar escolheu na perfeição onde e como atacar. Não foi uma surpresa. Foi o mesmo local eleito por Michael Valgren há um ano para escapar e que lhe valeu também o triunfo. Stybar nem olhou para trás durante muitos metros.


A sorte esteve com ele no momento certo, enquanto Avermaet terá de repensar a sua forma de correr. É notório que está perto da forma que deseja quando chegarem as principais corridas, mas, aos 33 anos, tentar ser um super Avermaet, poderá não ser a melhor táctica. Pede-se um Avermaet mais calculista e frio, como já tantas vezes se viu e deu bons resultados. Ficou com um segundo lugar amargo, com Wellens a fechar o pódio.

Este domingo é dia de Kuurne-Bruxelles-Kuurne (201,1 quilómetros), uma das corridas deste tipo que mais agrada a alguns sprinters. Dylan Groenewegem (Jumbo-Visma) venceu no ano passado.

Resultados completos, via ProCyclingStats.

As senhoras também competiram nas difíceis condições da corrida belga, marcada por alguma chuva e bastante vento. Chantal Blaak (Boels-Dolmans) demonstrou porque é uma das melhores do mundo, deixando a concorrência a pouco mais de um minuto de distância. A italiana Marta Bastianelli (Team Virtu Cycling Women) foi segunda e a colega de Blaak, Jip Van Den Bos, terceira.

A única participação portuguesa na Omloop Het Nieuwsblad foi a de Daniel Reis. A ciclista da Doltcini-Van Eyck Sport terminou na 47ª posição, a 5:32 da vencedora (classificação completa neste link).

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