23 de outubro de 2019

E se a Hagens Berman Axeon ficasse com os ciclistas que forma e fosse do World Tour?

(Fotografia: © Davey Wilson/Hagens Berman Axeon)
Ian Garrison tornou-se no mais recente membro da Hagens Berman Axeon a formar-se com distinção na equipa, que é como a quem diz, vai para o World Tour em 2020. O americano, de 21 anos, acompanhará João Almeida para a Deceuninck-QuickStep, enquanto Mikkel Bjerg assinou pela UAE Team Emirates. A estrutura liderada por Axel Merckx continua a afirmar-se como uma referência na formação de jovens ciclistas e desde 2009 que têm sido muitos os que, após passagem pela equipa dos Estados Unidos, conseguem dar o salto para o mais alto nível do ciclismo. Alguns singraram, outros nem por isso. Mas se Merckx ficasse com os corredores que forma e tivesse uma equipa do World Tour, teria um plantel bem interessante, principalmente para as provas por etapas e para o contra-relógio. Mas também com ciclistas de qualidade para o sprint e clássicas.

Nos três ciclistas que vão sair este ano, a Hagens Berman Axeon teria um dos maiores especialistas do contra-relógio da nova geração: o dinamarquês Bjerg (20 anos) conseguiu o feito inédito de conquistar três títulos mundiais de sub-23 no esforço individual e aponta ser o próximo recordista da hora. Garrison foi segundo em Yorkshire, atrás de Bjerg, depois de ser campeão nacional de elite. O americano tem também características interessantes para o sprint. Quanto a João Almeida, mais um campeão nacional de contra-relógio, mas em sub-23, tendo também o título da prova em linha, está a tornar-se num ciclista interessante nas corridas por etapas de uma semana, além de ter clássicas que lhe assentam tão bem. Venceu a Liège-Bastogne-Liège do seu escalão, na época passada.

Mas recuando a ciclistas que noutras temporadas saíram da Hagens Berman Axeon, que já teve outros nomes como Bontrager ou Trek-Livestrong, por exemplo. Tao Geoghegan Hart é um dos exemplos de maior sucesso. Depois de se adaptar à então Sky, o britânico de 24 anos teve um 2019 de completa afirmação e pode ser um grande vencedor. Conquistou de forma brilhante duas etapas na Volta aos Alpes, perdendo a geral para o companheiro Pavel Sivakov. Foi ao Giro e Vuelta, e em Espanha muito lutou por uma etapa. Por enquanto poderá ficar preso ao papel de gregário dado o plantel de qualidade da agora Ineos, mas Hart mostra potencial para mais.

Neilson Powless (23) foi um dos elementos importantes na vitória de Primoz Roglic na Vuelta. Na Jumbo-Visma mostrou uma boa evolução nas corridas por etapas e em Portugal, fez top dez na Volta ao Algarve. Vai mudar-se para a Education First talvez à procura de um espaço que definitivamente não teria na formação holandesa.

A última Volta a Espanha acabou por ser o palco para alguns dos jovens ex-Hagens Berman Axeon, caso de Ruben Guerreiro (25). Saiu no mesmo ano que Hart, mas para a Trek-Segafredo. Não tem sido fácil a afirmação do português, mas na Vuelta viu-se finalmente um pouco mais do que Guerreiro pode dar no World Tour, o que o fez receber uma proposta de contrato da EF Education First, deixando assim a Katusha-Alpecin. Quer apostar nas grandes voltas.

E falando de portugueses, Ivo e Rui Oliveira (23) fazem parte da "turma de 2018". Fizeram a estreia no World Tour em 2019 com a UAE Team Emirates com sortes diferentes. Ivo esteve vários meses a recuperar de uma grave queda num treino, enquanto Rui esteve a bom nível na ajuda a líderes nas clássicas e na preparação de sprints. Será que André Carvalho conseguirá seguir os passos dos seus compatriotas? Em 2020 cumprirá a sua segunda temporada na Hagens Berman Axeon.

Um dos sprinters de quem Rui Oliveira se poderá tornar num fiel aliado é Jasper Philipsen. O belga de 21 anos já ganhava no World Tour ao quinto dia pela UAE Team Emirates, no Tour Down Under, e fez uma temporada de excelentes resultados. Um sprint e homem de clássicas com um futuro promissor. Sean Bennett (23) foi mais discreto na temporada de estreia, mas ainda assim a EF Education First levou-o ao Giro. É um americano visto com muita capacidade para ser um voltista de respeito. Também Will Barta (23) teve um ano de adaptação na CCC.

Da equipa de Merckx saiu um dos principais especialistas de clássicas da actualidade: Jasper Stuyven. Aos 27 anos talvez se esperasse que o seu currículo tivesse mais corridas de um dia muito importantes além da Kuurne-Bruxelles-Kuurne, mas a concorrência é enorme. Na Trek-Segafredo tornou-se um ciclista essencial e é de uma regularidade incrível, terminando quase sempre entre os melhores nas corridas em que aposta forte. E este ano até ganhou uma corrida por etapas: a Volta a Alemanha.

Joe Dombroski (EF Education First), Ian Boswell (Sky e Katusha-Alpecin) e Ben King (RadioShack Garmin/Cannondale e Dimension Data) foram ciclistas que afirmaram-se no World Tour. Somam bons resultados, mesmo que não sejam figuras de primeira linha e são bons gregários sempre que necessário, caso principalmente de Boswell. King conseguiu ser uma grande figura em 2018 quando venceu duas etapas na Vuelta. Dombrowski foi talvez a maior desilusão deste trio. Entre quedas e problemas de saúde vai adiando a confirmação de um ciclista de nível para as provas por etapas. Aos 28 anos está de malas feitas para a UAE Team Emirates.

E como o contra-relógio é muito bem trabalhado na Hagens Berman Axeon, um dos primeiros nomes a sair para o World Tour foi Alex Dowsett (31). Desde que trocou a Movistar pela Katusha-Alpecin que quase que se apagou, mas é um especialista no esforço individual e foi recordista da hora.

Taylor Phinney (29) foi um dos jovens que mais entusiasmou, mas o americano teve uma queda a estragar-lhe a carreira e anunciou o adeus ao ciclismo no final desta temporada. Outro especialista no contra-relógio.

Já George Bennett (29) não se dá muito bem com o contra-relógio, mas o neozelandês poderia formar um bloco interessante em grandes voltas com Tao Geoghegan Hart, Neilson Powless, Dombrowski, Boswell, King e Guerreiro, com jovens como Barta, Sean Bennett, Jhonatan Narváez (Quick-Step Floors e Ineos) a poderem tornar-se em casos de sucesso em breve. Lawson Craddock, Nathan Brown (ambos na EF Education First) e Sam Bewley (Mitchelton-Scott) são homens de trabalho importantes

Porém, nem todos os que saltaram da Hagens Berman Axeon para o World Tour singraram. Casos de Timothy Roe, Bjorn Selander e Ruben Zepuntke, por exemplo. Este último, abandonou o ciclismo aos 24 anos, dedicando-se agora ao triatlo. Gregory Daniel é o exemplo mais recente e prepara-se para descer ao escalão Continental aos 24 anos, depois de passar pela Trek-Segafredo.

Aqui ficam todos os que se "formaram" na equipa de Axel Merckx e que foram ou vão directamente para o World Tour (há mais ciclistas que ou estão ou passaram por formações do segundo escalão), pois mesmo podendo ter um plantel forte se pertencesse à categoria máxima e ficasse com os melhores ciclistas, a Hagens Berman Axeon - que vai descer novamente ao nível Continental depois de dois anos como Profissional Continental - prefere manter-se fiel ao seu lema: desenvolver a próxima geração do ciclismo.

2019
Ian Garrison (Deceuninck-QuickStep)
Mikkel Bjerg (UAE Team Emirates)
João Almeida (Deceuninck-QuickStep)

2018
Jasper Philipsen (UAE Team Emirates)
Will Barta (CCC) 
Rui Oliveira (UAE Team Emirates)
Ivo Oliveira (UAE Team Emirates)
Sean Bennett (EF Education First)

2017
Chris Lawless (Sky)
Jhonatan Narváez (Quick-Step Floors)
Neilson Powless (Lotto-Jumbo)
Logan Owen (EF Education First-Drapac p/b Cannondale)

2016
Tao Geoghegan Hart (Sky)
Ruben Guerreiro (Trek-Segafredo)
Gregory Daniel Trek-Segafredo

2014
Ruben Zepuntke (Cannondale-Garmin)

2013
Jasper Stuyven (Trek Factory Racing)
Lawson Craddock (Giant-Shimano)
Nathan Brown (Garmin-Sharp)

2012
Joe Dombrowski (Sky)
Ian Boswell (Sky)

2011
George Bennett (RadioShack-Nissan)

2010
Taylor Phinney (BMC)
Alex Dowsett (Sky)
Jesse Sergent (RadioShack)
Ben King (RadioShack)
Timothy Roe (BMC)

2009
Sam Bewley (RadioShack)

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