17 de outubro de 2019

Como Ruben Guerreiro convenceu a EF Education First a melhorar a proposta de contrato

(Fotografia fornecida pela EF Education First)
Depois de uma Volta a Espanha que convenceu todos que era um ciclista para continuar no World Tour, Ruben Guerreiro definiu agora o seu futuro, que passará novamente pelos Estados Unidos. A EF Education First ofereceu dois anos de contrato ao português, que chegou a recusar uma proposta inicial, mas mostrou argumentos que convenceram o director Jonathan Vaughters a melhorá-la.

"O Ruben é ousado, mas dá motivos para o ser. Durante as negociações contratuais, ele disse-me que não aceitaria a minha oferta, que ele valia mais. Ele disse-me para o ver na Vuelta no dia seguinte, que me ia mostrar. Ele não ganhou a etapa, mas foi segundo. Fiquei impressionado", explicou Vaughters. O director refere-se à 15ª tirada, com chegada ao Santuario del Acebo. Foi um dos dias em que Guerreiro andou em fuga, com Sepp Kuss a vencer e com o português e Tao Geoghegan Hart (Ineos) a não conseguirem apanhar o americano da Jumbo-Visma. Mas foi uma grande performance de Guerreiro.

Vaughters não terá sido o único a ficar impressionado com Ruben Guerreiro, pois a Lotto Soudal chegou a ser dada como possível interessada. Guerreiro fez nove top 20 na Vuelta, incluindo um quarto lugar, além do segundo posto. Andou sempre muito activo e conseguiu o 17º lugar na geral, naquela que era uma muito aguardada estreia numa grande volta, na terceira temporada no World Tour.

Com as palavras de Vaughters percebe-se agora que Ruben Guerreiro teve uma motivação extra no dia em que ficou perto de ganhar uma etapa em Espanha, mas todas as exibições - mesmo noutras corridas - comprovaram um potencial reconhecido desde os tempos de sub-23, mas que estava difícil ser exposto ao mais alto nível. Quando foi contratado pela formação americana Trek-Segafredo em 2017, Guerreiro foi considerado uma das principais promessas a chegar ao World Tour, mas quedas, lesões e doenças foram adiando a sua afirmação. Não conseguia ter uma época sem problemas, apesar dos arranques promissores, sendo um ciclista que se dá muito bem com os ares da Austrália nos primeiros dias das temporadas.

Em 2019 mudou-se para a Katusha-Alpecin. Também não foi um ano perfeito, mas Guerreiro conseguiu ser mais regular, com boas classificações em provas por etapas e a chamada para a Volta a Espanha foi um objectivo concretizado. Com a equipa de José Azevedo então em risco de não continuar (foi entretanto comprada pela Israel Cycling Academy), Guerreiro sabia que uma renovação era improvável, mas rapidamente se tornou num dos homens mais falados muito falado na Vuelta. E confirmou ainda que não é só em clássicas ou provas de uma semana que podem contar com ele.

No anúncio da sua contratação, a EF Education First refere precisamente esta característica de Guerreiro. "Estou entusiasmado por poder continuar a crescer como um ciclista de grandes voltas", afirmou o português, que aos 25 anos vai representar a sua terceira equipa dos Estados Unidos.

Antes da Trek-Segafredo, Guerreiro esteve duas épocas na então Axeon Hagens Berman, a estrutura de formação de Axel Merckx que tantos corredores tem colocado no World Tour (João Almeida vai seguir esse caminho, depois dos gémeos Oliveira, no que diz respeito a portugueses). "Aprendi inglês com a equipa. Para mim é um regresso a casa. A América é o meu segundo país e estou muito feliz por regressar a casa para uma equipa americana", afirmou o ciclista, que no seu primeiro ano de elite sagrou-se campeão nacional, em Gondomar (2017).

Ruben Guerreiro é o sétimo reforço para 2020, depois Jens Keukeleire (30 anos, Lotto Soudal), Magnus Cort (26, Astana), Kristoffer Halvorsen (23, Ineos), Neilson Powless (23, Jumbo-Visma), Stefan Bissegger (21, Swiss Racing Academy) e Jonas Rutsch (21, Lotto-Kern Haus). Após ganhar estabilidade financeira com a chegada do patrocinador EF Education-First, a estrutura de Jonathan Vaughters tem valorizado ciclistas mais experientes, mas está cada vez mais a contratar jovens ciclistas, alguns com o plano de ajudar na sua formação e outros, como Guerreiro, que já são uma mais-valia no World Tour.

Rigoberto Uran, Sep Vanmarcke e Michael Woods, por exemplo, vão continuar a ser figuras principais, mas Daniel Martínez, Sergio Higuita e Hugh Carthy estão a ser cada vez mais jovens certezas de um futuro promissor, numa equipa que quer vencer em todas as frentes.

Este ano Alberto Bettiol conquistou um muito celebrado monumento, Carthy venceu uma etapa na Volta à Suíça, Martínez outra no Paris-Nice, Higuita na Vuelta (e que grande vitória foi para quem começou a temporada na Fundação Euskadi para preparar o salto para o World Tour) e Michael Woods ganhou recentemente a Milano-Torino. São 16 vitórias em 2019, a melhor temporada desde 2014 (23).

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