(Fotografia: Facebook Team Ineos) |
Se vai ser mesmo assim, é uma daquelas questões que muito se vai discutir até à grande volta francesa, mesmo que ainda falte cerca de nove meses para a corrida. Um dia antes da apresentação do percurso para 2020 (10:30, com transmissão no Eurosport), Froome não está a querer perder tempo em colocar todos no seu lugar. O que não será uma missão nada fácil e não se resolverá só por palavras ou por estatuto.
À France Télévisions, Froome afirmou que Bernal lhe garantiu que o iria ajudar a ganhar a quinta Volta a França, o que fará o britânico igualar o recorde. Mas Froome não quer mostrar que está a impor o quer que seja e sabe ser politicamente correcto: "Eu precisarei de ser o mais forte. Se ele [Bernal] for o mais forte, então ficarei feliz se ele ganhar porque a corrida é assim, o ciclista mais forte ganha." E de facto, a primeira questão a responder na Ineos é se Froome vai recuperar o nível depois da grave queda sofrida em Junho, no Critérium du Dauphiné. Porém, fica já publicamente dito que Bernal se disponibilizou para não ser a principal aposta da Ineos.
Egan Bernal venceu a Volta a França o que o colocou mais rapidamente no estatuto de grande figura da Ineos e do ciclismo mundial. Já se sabia que seria o sucessor de Froome, mas agora já é a confirmação de um dos maiores talentos da modalidade. Geraint Thomas não encarou muito bem ter ficado atrás de Bernal nas escolhas da Ineos no último Tour, apesar de ter sido ele a vencer em 2018 e a ver vamos como reagirá Froome se lhe acontecer o mesmo.
Froome tem a perfeita percepção que o seu tempo está a terminar, mas aos 34 anos quer pelo menos mais essa quinta conquista e na mesma entrevista disse que não está a pensar retirar-se se não conseguir ser o ciclista que era antes da queda. "Todos me dizem que devo parar enquanto estou no topo, mas eu adoro ciclismo e quero continuar. Se não conseguir ganhar, então irei ajudar alguém a ganhar", afirmou, reiterando, para que fique bem claro que ainda falta a tal quinta Volta a França.
Froome vai regressar à competição no final do mês, no Critérium de Saitama, no Japão e vai fazendo o que sempre soube fazer bem: mostrar confiança e que tendo condição física, não vai deixar de tentar ganhar, haja Bernal, Thomas ou seja quem for. Não o fez por Geraint Thomas no ano passado, mesmo quando se tornou claro que o galês era o mais forte, e Bernal poderá esperar o mesmo se Froome conseguir estar em França para discutir a vitória.
E vai ser interessante ver como a Ineos vai gerir as suas figuras. Os tempos de todos por um líder ficam para trás. Foi o estilo que marcou a imagem da Sky, mas nos últimos dois anos tudo tem mudado e vai mudar ainda mais. Se Bernal de facto aceitar ser gregário de Froome, mesmo que fique sempre como segunda opção no Tour de 2020, irá querer lutar por uma grande volta. Vai ao Giro? Thomas já percebeu que o seu estatuto caiu a pique e começou a "namorar" um regresso a Itália, mas Bernal poderá ser a principal opção.
Mas então onde encaixa Richard Carapaz? Não vai tentar vencer novamente o Giro? É um dos reforços da Ineos, oriundo da Movistar e sabe que ao Tour não irá certamente como líder, pelo que a ida a Itália e à Vuelta poderão ser objectivos, se a equipa não quiser criar uma super estrutura para o Tour, mesmo que isso signifique ter de lidar com muitos egos.
E ainda há Pavel Sivakov que esteve bem no Giro como líder - na ausência por lesão de Bernal -, terminando na nona posição, além de ter ganho a Volta aos Alpes e a Volta à Polónia. O russo tem apenas 22 anos, pelo que não se importará de esperar mais uma ou duas temporadas até que tenha a responsabilidade de fazer mais do que um top dez numa grande volta. Mas, ainda assim, é outro ciclista que a Ineos terá de saber manter motivado para as três semanas.
Thomas é cada vez mais o elemento que vê fechar-se as portas de destaque. Há um ano optou por renovar até 2021 pela Ineos, então Sky, preferindo a continuidade e não o risco de aceitar um novo projecto. A CCC bem teria gostado de contar com o galês. Estava em alta, tinha ganho brilhantemente o Tour, mas 12 meses depois tudo mudou. O próprio admitiu que ser segundo na Volta a França não lhe dava qualquer tipo de mediatismo.
A luta interna na Ineos começa a ganhar forma e muito, mas mesmo muito, se vai falar e escrever sobre uma equipa que tem os líderes aqui referidos, mas também Michal Kwiatkowski, Tao Geoghegan Hart, Iván Ramiro Sosa, Jhonatan Narváez, Eddie Dunbar, Gianni Moscon... todos ciclistas que ou já querem mais, ou em breve vão querer.
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