30 de outubro de 2019

Volta à Califórnia não vai realizar-se em 2020

(Fotografia: © Amgen Tour of California)
A edição de 2020 da Volta à Califórnia foi cancelada. A organização fala num hiato, pois o objectivo passa por regressar em 2021, mas a decisão não deixa de ser um rude golpe no ciclismo americano, que perde a sua única corrida no World Tour. Também o pelotão sentirá a falta da corrida, pois apesar de se realizar ao mesmo tempo que a Volta a Itália, em Maio, sempre atraiu algumas figuras do ciclismo e até se tornou num local em que muitas principais formações aproveitavam para testar os seus jovens talentos. A única explicação avançada foi a necessidade de encontrar num novo "modelo de negócio" que permita recuperar a prova com sucesso já em 2021.

"Foi uma decisão muito difícil de tomar, mas as bases fundamentais do negócio da Amgen Volta à Califórnia mudaram desde que lançámos a corrida há 14 anos", afirmou a presidente da organização e vice-presidente executiva da AEG Sports, Kristin Klein. Acrescentou que apesar do orgulho em ter contribuído para o aumento da relevância no ciclismo, sobretudo nos Estados Unidos, "tornou-se mais desafiante organizar a corrida todos os anos.". "Esta nova realidade forçou-nos a reavaliar as nossas opções e estamos a analisar activamente todos os aspectos do evento para determinar se há um modelo de negócio que nos permita relançar com sucesso a corrida em 2021", frisou.

No comunicado divulgado é realçado como pela Volta à Califórnia passaram ciclistas que se tornaram figuras do ciclismo mundial e como é o "único evento do seu género que actualmente organiza uma corrida por etapas para homens e mulheres com prémio monetário igual". E é neste ponto que surgiram suspeitas que poderia estar o problema. Naquele estado, é obrigatório que o prize money seja o mesmo para ambos os sexos, mesmo que os dias de corrida não sejam os mesmos (sete contra três), o que poderia colocar pressão no orçamento. No entanto, rapidamente a hipótese foi afastada, já que o dinheiro para pagar estes prémios são apenas uma pequena parte do orçamento total de uma prova da magnitude da Volta à Califórnia.

A falta de exposição mediática é mais provável ser uma das razões na base da decisão. As audiências televisivas não serão o desejado, o que poderá estar a levar ao afastamento de actuais patrocinadores ou de potenciais patrocinadores. Chegaram a ser avançadas notícias que a organização - que têm contado com o apoio da ASO (da Volta a França, por exemplo) - tentou negociar com a UCI uma nova data para a corrida, que não fosse ao mesmo tempo que o Giro. A UCI estaria inclusivamente a pensar em tornar a prova californiana numa de preparação para a grande volta italiana. A nível financeiro, o impacto na economia da região ronda os 3,5 mil milhões de dólares, cerca de 3,1 mil milhões de euros.

A Volta à Califórnia foi crescendo de importância desde a sua primeira edição em 2006, ganha por Floyd Landis. Se no início foi mais centrada para o ciclismo da casa, aos poucos começou a atrair cada vez mais equipas do World Tour e algumas das principais figuras. O maior nome acabou por ser Peter Sagan. Pela Califórnia passou uma parte do sucesso deste eslovaco, que é recordista em vitórias de etapas (12) e até venceu uma geral em 2015. Foi o ano em que se descobriu que Sagan até poderia defender-se da montanha se tivesse a vitória na geral em mira, ainda que tenha sido uma das edições menos "agressiva" neste tipo de percurso. Foi uma vitória numa geral que ficou para a história do impressionante currículo deste ciclista, mais dado a ganhar etapas e clássicas. Sagan como que foi "adoptado" pelos americanos, com o próprio a não esconder o seu apreço pela aquela zona dos Estados Unidos. Até organiza um granfondo em San Diego. Curiosamente, em 2020 Sagan seria ausência garantida, já que vai estrear-se no Giro.

Julian Alaphilippe, George Bennett, Egan Bernal e este ano Tadej Pogacar, os ciclistas do futuro têm vencido nos últimos anos, numa lista de vencedores que conta ainda com Bradley Wiggins, Tejay van Garderen, Robert Gesink, Michael Rogers e Levi Leiphemer, o único a vencer por mais do que uma vez (três).

A Volta a Califórnia era uma corrida equilibrada, com etapas para sprinters, trepadores e com um contra-relógio para testar os dotes nesta vertente. Na Europa, a Volta a Califórnia acabava por ser transmitida em horário nobre, devido à diferença horária e ao longo dos anos alguns adeptos ficaram bem conhecidos, como o senhor do capacete de futebol americano com os chifres de alce.

Esta é a segunda prova das que subiram a World Tour em 2017 a sair do calendário da UCI para 2020. A Volta à Turquia não estava a cumprir com o regulamento, nomeadamente na obrigatoriedade de ter 10 equipas do principal escalão na prova. As formações do World Tour não são obrigadas a estar presentes nas corridas que subiram de nível naquele ano, ao contrário do que aconteceu nas restantes. A Volta à Califórnia nunca teve esse problema. A competição turca irá continuar com outra categoria. Quanto à californiana há que esperar para ver se de facto regressa em 2021, mas será uma ausência importante num calendário que não tem nenhuma corrida com relevância idêntica daquela que tinha a Amgen Tour of California, no nome original.


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