18 de outubro de 2019

Phinney coloca ponto final numa carreira que uma queda mudou drasticamente o rumo

(Fotografia: © EF Education First)
O que poderia ter sido Taylor Phinney se aquele 26 de Maio de 2014 tivesse terminado de forma diferente? Era um dos talentos emergentes nos Estados Unidos e já estava a confirmar todo o seu potencial. Dois dias antes, um jovem Phinney tinha-se sagrado campeão nacional de contra-relógio, mas a prova de fundo mudou todo um rumo de uma carreira que parecia destinada a grandes momentos, mas que depois daquele dia não aconteceram. Aos 29 anos, o americano coloca um ponto final nesta fase da sua vida. Afirmou que o seu corpo assim o exige, após uma época de lesões. Porém, nada de lamentos. Sente-se como se tivesse 15 anos de novo. Será um recomeço, sempre apaixonado pelas bicicletas, mas também pelo mundo das artes, da música, da criatividade.

Filho de medalhados olímpicos, Phinney também começou a somar vitórias logo como júnior na pista e não demorou muito a ser considerado um dos grandes talentos nos Estados Unidos. Na estrada fez parte da sua formação na então Trek-Livestrong presented by Radioshack, a actual Hagens Berman Axeon. É um dos muitos que a equipa de sub-23 preparou e muito bem para entrar no World Tour. No seu segundo ano (2010) nesta formação acabou a estagiar na Radioshack, do principal escalão, mas foi a BMC que o agarrou em 2011. Era muito pretendido depois de vencer o Paris-Roubaix de sub-23, uma etapa no Tour de l'Avenir, duas na Volta ao Utah... 2010 foi um ano incrível.

Na primeira época no World Tour não demorou a confirmar credenciais. Venceu uma tirada no Eneco Tour e estreou-se pouco depois em grandes voltas, em Espanha. Ia-se afirmando como contra-relogista de nível e nos Jogos Olímpicos de Londres (2012) foi quarto - tal como na prova de fundo - e nos Mundiais só foi batido por Tony Martin por seis segundos. E tudo isto aconteceu depois de ter ganho o prólogo no Giro, o que lhe permitiu andar de maglia rosa durante três dias. Era um início de carreira fenomenal. Muito se falava de Phinney e de como poderia evoluir.

2014 começou com a conquista da Volta ao Dubai, mas acabaria por ser o ano maldito. Naquele 26 de Maio, Phinney tentou evitar uma moto, caiu, deslizou até embater num rail e o resultado foi uma lesão terrível. Phinney ficou com uma fractura exposta da tíbia e perónio, fracturou ainda a rótula e rompeu um dos tendões na perna esquerda. Os médicos duvidaram que o americano, então a cerca de um mês de cumprir 24 anos, regressasse ao ciclismo.

Taylor Phinney pode não ter conseguido ser o corredor em que se estava a transformar, mas tornou-se num exemplo de perseverança. O americano teve de reaprender a andar de bicicleta e a 3 de Agosto de 2015 estava a competir no Utah e um dias depois venceu a primeira etapa do USA Pro Challenge. A BMC levou-o aos Mundiais para conquistar a medalha de ouro no contra-relógio colectivo. De quando em vez via-se um pouco daquele Phinney antes da queda, mas aos poucos, com o passar das corrida, ia ficando claro que o ciclista dificilmente seria o mesmo.

Em 2017 mudou-se para a Cannondale-Drapac, actual EF Education First, e conseguiu cumprir o desejo de estar na Volta a França, que terminou, tal como em 2018. No ano passado, Phinney surgiu de confiança renovada, apostado em mostrar-se nas clássicas. Queria provar que poderia viver um segundo fôlego na carreira e foi oitavo no Paris-Roubaix.

Porém, esta época de 2019 foi marcada por lesões e na hora do adeus, Phinney destacou esse facto. "Senti que o meu corpo fez esta escolha por mim", desabafou. Afirmou ainda como agora está bem ao saber que não vai mais exigir do seu corpo o necessário para estar no World Tour. Foram nove anos ao mais alto nível, contra todas as expectativas após a queda nos nacionais de Chattanooga.

"Acho que há muito poder em reconhecer que já não se tem a paixão genuína pelo que se está a fazer. [...] Sinto que tenho estado a preparar-me para isto há algum tempo, a cultivar a capacidade de expressar a minha opinião honesta e dizer: 'Penso que não quero fazer mais isto.'"

A música, corridas de enduro, a sua fundação farão parte do seu futuro. Phinney sente que aos 29 anos é um afortunado por ter sido ciclista profissional: "Agora tenho regressado aos desportos freestyle extremos com a minha bicicleta de montanha e... sinto-me como se tivesse 15 anos outra vez!"

»»O adeus de um ciclista que guiou Mark Cavendish a tantas vitórias««

»»Doença força fim de carreira, mas ciclista quer dedicar-se à vela e música. Até tem uma banda««

Sem comentários:

Enviar um comentário