27 de novembro de 2018

Sporting-Tavira a melhorar mas com uma época que soube a pouco

(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
Quando a Volta a Portugal começava a aproximar-se, Vidal Fitas via a sua equipa a melhorar a forma a cada corrida em que competia e via um Joni Brandão com capacidade para ser o líder para que foi contrato, depois de um 2017 marcado por um problema de saúde. O Sporting-Tavira demonstrava estar melhor, mais competitivo, mas conseguiria estar ao nível da arqui-rival W52-FC Porto?

A equipa começou cedo (e longe) a ganhar, ainda que tenha perdido Fábio Silvestre para toda a temporada. Aleskandr Grigorev não demorou muito a mostrar que era uma boa contratação, com Mario Gonzalez a subir de nível e com um Frederico Figueiredo igual a ele próprio. O que é sinónimo de excelência. Porém, na corrida em que se aposta praticamente tudo, o pódio foi bom, soube a pouco.

Na viagem ao Gabão, logo em Janeiro, Rinaldo Nocentini ganhou duas etapas na Tropicale Amissa Bongo. Não lhe chamem velho para o ciclismo, pois mesmo já com 41 anos, o italiano ainda tem algo para dar. Além das vitórias, o seu passado não passa despercebido e o Sporting-Tavira recebeu bastante atenção por ter nas suas fileiras um ciclista que já vestiu a camisola amarela na Volta a França. Apesar deste arranque, Nocentini não esteve o nível de 2017, mas continua a ser uma voz de comando na estrutura.

O italiano ir perdendo preponderância na disputa por vitórias não é uma surpresa. A grande questão era como estaria Joni Brandão. Em Março deu as primeiras indicações que estava a regressar ao seu melhor, com um pódio na Clássica Aldeias do Xisto. Depois, foi sempre a melhorar. Por mais que lutasse por uma vitória (foi segundo nos Nacionais) era na Volta que estava concentrado. Ele e a equipa. Já são mais de 30 anos de espera por uma conquista para o Sporting, um bastante menos para o Tavira (2011).

A época foi praticamente toda jogada na Volta a Portugal. O que não é novidade. Joni começou bem, atacou quando mais ninguém o fez numa subida na Serra da Estrela, que ficou sem Torre devido ao intenso calor (a organização decidiu mudar a etapa), o que não agradou ao líder sportinguista. Raúl Alarcón (W52-FC Porto) teve de trabalhar para deixar claro a Joni que seria preciso mais para o derrotar.

Era preciso um esforço colectivo, que foi confuso e não funcionou quando mais era necessário. Na etapa da Senhora da Graça os ataques foram infrutíferos, mal medidos e faltou um Alejandro Marque mais disponível para o papel de gregário, um Nocentini em melhor forma e ainda houve um Grigovev que ficou abaixo das expectativas depois da época que realizou. Frederico Figueiredo é bom, mas sozinho a ajudar o líder não chega para tornar a equipa forte para derrotar uma W52-FC Porto com tanta qualidade e poderio colectivo.


Ranking: 1º (2421 pontos)
Vitórias: 7 (incluindo etapas nos GP Beiras e Serra da Estrela, Jornal de Notícias e Abimota)
Ciclista com mais triunfos: Rinaldo Nocentini (2)

O segundo lugar de Joni foi merecido, mas não houve vitória de etapa e o objectivo de ganhar a Volta ficou longe de ser alcançado. Além disso, a classificação da montanha e de equipas acabou nas mãos da rival. Soube mesmo a pouco, deixando alguma frustração numa temporada em que se esperava mais quando chegou o momento para que o Sporting-Tavira mais se preparou.

A equipa foi regular, somou sete vitórias - começou a ganhar no Gabão e acabou na Ásia a conquistar a Volta à China II com Marque -, mas faltou-lhe um grande triunfo. No entanto, a regularidade valeu o primeiro lugar no ranking nacional da Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais, com Joni a vencer individualmente.

São três anos de parceria sempre a melhorar. Disso não restam dúvidas. Mas quando se pensava que seria em redor de Joni Brandão que o Sporting-Tavira continuaria a criar o colectivo que possa discutir a corrida mais desejada, eis que o ciclista regressa à Efapel.

Mesmo com a mudança na direcção no Sporting, a aposta no ciclismo mantém-se, com Marco Chagas a ser um "reforço", como conselheiro. O antigo corredor, de 62 anos, foi o último a vencer a Volta com a camisola verde e branca, em 1986. O investimento na equipa está a ser grande. Para já, estão garantidos dois regressos a Portugal de ciclistas com muita experiência internacional, inclusivamente do World Tour: Tiago Machado (Katusha-Alpecin) e José Mendes (Burgos-BH). César Martingil (Liberty Seguros-Carglass) viu premiada a sua boa temporada, que teve como destaque precisamente a boa exibição na Volta.

Martingil vai para a equipa para lutar nos sprints, agora que Fábio Silvestre deverá retirar-se, aos 28 anos. A queda no Gabão foi grave, com o ciclista a fracturar a tíbia e a ficar muito mal tratado. Não competiu esta temporada. De referir que também David Livramento teve uma longa paragem de cerca de quatro meses.

Marco Chagas confirmou a permanência de Nocentini, enquanto Marque até já deu as boas-vindas a Machado, recordando quando foram colegas de equipa há 14 anos, na então Carvalhelhos-Boavista. De saída está Mario Gonzalez. O espanhol que há um ano foi chamado para preencher a vaga de Brandão na Volta, em 2018 conquistou um lugar de destaque na equipa por mérito próprio, tendo vencido uma etapa no Grande Prémio Beiras e Serra da Estrela. As suas exibições garantiram-lhe um contrato com a Euskadi-Murias, equipa basca que subiu ao escalão Profissional Continental esta temporada e que até se candidatou a um convite para o Tour em 2019.

Quando se fala de ciclistas regulares, Frederico Figueiredo é a definição, numa regularidade de top 10, apesar de poucas vezes ter liberdade por lutar por uma vitória para si. É um corredor a manter. A partir de agora será Machado o líder, ainda que se levante a questão se, depois de tanto tempo como gregário, poderá ser um ciclista líder que discuta a Volta. Sérgio Paulinho não conseguiu fazer essa passagem com sucesso na Efapel.

Tiago Machado é um ciclista diferente de Paulinho, um lutador por excelência e que se irá ver na frente de outras corridas antes de chegar a Volta. Não é ciclista para ser discreto agora que terá toda a liberdade. Não é um trepador nato como Joni Brandão, mas poderá defender-se na montanha e irá, certamente, realizar um trabalho mais específico para a nova função.

Contudo, além de tirar partido da qualidade individual de Machado, o desafio do Sporting-Tavira do próximo ano será ter finalmente um colectivo a funcionar ao nível de uma W52-FC Porto. A funcionar em prol do líder. Só assim será possível discutir a Volta.

2019 é o último ano de parceria do contrato assinado por quatro temporadas entre leões e o Tavira, ficando agora a curiosidade de saber se é para continuar. No entanto, não restam dúvidas que em 2019 se tentará dar mais um passo no aumento de competitividade da equipa.

Veja aqui todos os resultados do Sporting-Tavira em 2018 e das restantes equipas nacionais.

»»A intocável W52-FC Porto««

»»Depois de uma boa época, uma ainda melhor««

Sem comentários:

Enviar um comentário