11 de novembro de 2018

Ciclista alerta para falta de pagamento dos salários na Aqua Blue Sport

(Fotografia: Aqua Blue Sport)
De um projecto que quis ser inovador, a uma equipa que desapareceu de um dia para o outro, colocando carreiras em risco. Já não bastava toda a incerteza que rodeia os ciclistas da Aqua Blue Sport quando no final de Agosto foi anunciado o seu fim, agora um dos corredores veio publicamente alertar para a falta de pagamento do ordenado de Outubro. Apesar da decisão de não participar em mais corridas - a formação irlandesa preparava-se até para estar na Volta à Grã-Bretanha -, os contratos deveriam ser respeitados até final do ano. "Gostaria de chamar a atenção para o facto de todos os salários dos ciclistas da Aqua Blue Sport do mês de Outubro não foram ainda recebidos", alertou Andy Fenn.

O britânico publicou uma carta aberta no seu Twitter, dirigida aos dois responsáveis da equipa Rick Delaney e Tom Timmerman. Perante a situação da Aqua Blue Sport, é accionado o fundo de garantia bancária que todas as equipas são forçadas a dar à UCI. O valor tem de ser de 25% do total do orçamento que será gasto com os ordenados. Desse modo fica assegurado que os salários são pagos até ao final do ano de cada licença atribuída à estrutura. No entanto, Fenn alerta para a falha por parte de Timmerman, que terá provocado a falta de pagamento do ordenado de Outubro, isto depois do de Setembro ter chegado com algum atraso.

"Tendo falado directamente com a UCI, informaram-me da situação. Algo que a UCI até te pediu a ti, Tom, para fazer... Devo ter falhado esse e-mail ou chamada telefónica. Mas por favor diz-me se preciso de ver a pasta de spam ou não, por favor", lê-se. O ciclista explicou que, segundo a UCI, o organismo não irá libertar mais fundos até que "todos os documentos e clarificações sobre os salários de Dezembro sejam dados".

Fenn admite que todos os corredores da Aqua Blue Sport já perceberam que não irão receber o salário de Dezembro na sua totalidade, mas a questão do momento é que nem o de Outubro entrou nas suas contas bancárias. "Rick, tu disseste publicamente que todos os contratos seriam honrados, mas dois meses depois do repentino colapso da equipa, arranjar um simples pagamento de salários parece ser difícil."

O corredor, de 28 anos, continua, escrevendo que teria gostado que os responsáveis tivessem cumprido o prazo da UCI para que os fundos continuassem a ser libertados, o que não aconteceu. Mas foi mais longe: "Também todos sabemos que a licença da equipa e que os honorários do anti-doping não foram pagos, por isso não tentes dizer-nos que é a UCI que está a dificultar as coisas. Parece que não é só aos ciclistas e staff que ainda estão em dívida."

Maioria ainda sem contrato para 2019

Este fim repentino da Aqua Blue Sport - falhada a fusão com a Vérandas Willems-Crelan - deixou os ciclistas em grandes dificuldades. Em Agosto são muitas as equipas que já têm os seus plantéis bem definidos, o que reduziu a hipótese de muitos conseguirem manter-se pelo menos no escalão Profissional Continental. Um deles vai "descer" para uma equipa belga Continental, a Corendon-Circus. É o caso do dinamarquês Lasse Norman Hansen (26 anos).

Quatro até vão para o World Tour. Para Casper Pedersen (dinarmarquês de 22 anos) será uma estreia, com a Sunweb a contratá-lo. Para os outros será um regresso a um escalão que bem conhecem:  Adam Blythe (29, Grã-Bretanha) vai para a Lotto Soudal, Larry Warbasse (28, EUA) assinou pela AG2R e Stefan Denifl (31, Áustria) pela CCC. O irlandês Eddie Dunbar (22) não teve de esperar muito para resolver a sua situação, pois a Sky contratou-o logo em Setembro.

Matt Brammeier (33) já se tinha retirado em Junho, mas o australiano Calvin Watson resolveu colocar um ponto final precoce na sua carreira. Tem apenas 25 anos.

Shane Archbold (29 anos, Nova Zelândia), Mark Christian (27, Grã-Bretanha), Conor Dunne (26, Irlanda), Aaron Gate (27, Nova Zelândia), Peter Koning (27, Holanda), Michel Kreder (31, Holanda), Daniel Pearson (24, Grã-Bretanha) e o próprio Andy Fenn estão ainda sem equipa para 2019.

Fenn, por exemplo, é um corredor que esteve três anos na Quick-Step Floors e dois na Sky, antes de mudar-se para a Aqua Blue Sport.

O problema da bicicleta

A equipa irlandesa surgiu em 2017 querendo ser um exemplo de como era possível ser auto-sustentável. Através das vendas de produtos de ciclismo na internet, a equipa teria assim o seu financiamento, não ficando à mercê de patrocinadores. A primeira temporada foi positiva, ainda mais pelo convite para a Volta a Espanha, corrida na qual até venceu uma etapa por intermédio de Stefan Denifl.

Em 2018 os convites para provas de destaque diminuíram e com a subida a Profissional Continental de mais duas equipas espanholas, não houve wildcard para a Vuelta. Rick Delaney criticou fortemente a decisão e no final de Agosto avisou que iria acabar imediatamente com a equipa. Os ciclistas foram avisados por Whatsapp.

A época esteve sempre envolta numa polémica: a bicicleta com apenas um prato na pedaleira. Foram vários os problemas mecânicos que afectaram os ciclistas, por vezes em momentos que acabaram por retirá-los da discussão de triunfos. "Desde o primeiro dia que pensei que não era uma boa ideia, mas a equipa assinou contrato e nós tínhamos de lidar com isso", explicou Adam Blythe sobre a bicicleta 3T Strada, no programa Bradley Wiggins Show, no Eurosport britânico, em declarações transcritas no site Cycling Weekly.

"É como uma bicicleta de pista, mas com mudanças. Só tem um prato e se imaginares que estás a fazer uma subida, normalmente tens um prato de 38 dentes para baixar, mas agora temos uma cassete de dez, que vai aos 42, com um prato de 50 à frente. Portanto, estás exausto, não consegues correr numa prova de um dia, quanto mais de duas semanas ou de uma semana", criticou o britânico.


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