A Burgos-BH antecipou-se a uma eventual sanção da UCI e auto-suspendeu-se por duas corridas no arranque da temporada de 2019, depois de ter sido confirmado o terceiro caso de doping na equipa em 12 meses. Em vez de competir, irá organizar uma concentração anti-doping, no qual todos os membros da estrutura, dos responsáveis, aos ciclistas, passando por todo o staff, estão obrigados a marcar presença.
Esta decisão de se afastar das corridas já era esperada, até porque a Burgos-BH pertence ao Movimento por um Ciclismo Credível. No entanto, não substitui uma eventual suspensão da UCI, que está a analisar o caso da equipa espanhola. O director geral, Julio Andrés Izquierdo, salientou que a Burgos-BH quer "ser uma referência neste âmbito". "Decidimos realizar de forma voluntária uma auto-suspensão nas actividades competitivas para nos dedicarmos exclusivamente à prevenção de doping e auto-conhecimento da nova equipa. Esta concentração durará três semanas, onde se levará a cabo acções do tipo formativo, colóquios e reuniões com especialistas na matéria de doping", afirmou.
No mesmo comunicado é explicado que a equipa não irá participar na Tropicale Amissa Bongo, no Gabão, entre 21 e 27 de Janeiro, e no Challenge de Maiorca, conjunto de quatro corridas (troféus), entre 31 de Janeiro e 3 de Fevereiro.
Em Dezembro de 2017, David Belda (35 anos) foi suspenso por quatro anos depois de ter testado positivo por EPO. Já este mês, primeiro foi Ibai Salas (27) a receber igual sanção por irregularidades no passaporte biológico, tendo o mesmo acontecido a Igor Merino (28), a quem foi detectada uma hormona de crescimento.
"Vamos implementar um novo sistema de controlo aos ciclistas. Até agora estávamos concentrados no passaporte biológico e no ADAMS*. Porém, em 2019 queremos ir mais além. Faremos controlos internos para ter um conhecimento exacto de cada um dos nossos corredores. Na Burgos-BH levamos muito a sério a luta contra o doping. Tal é assim que os nossos patrocinadores mantêm toda a confiança em nós, ao ponto da cadeia de hotéis HELIOS nos ter oferecido as suas instalações, para que possamos levar a cabo esta concentração", explicou Izquierdo.
Depois de vários anos como projecto Continental, a Burgos-BH subiu ao segundo escalão, Profissional Continental, este ano. Recebeu um convite para a Vuelta, mas a temporada não foi a desejada, longe de vitórias - apenas uma na China - e de outros resultados de referência.
Apesar dos três casos positivos de doping, a Burgos-BH quer prosseguir como Profissional Continental, tendo pedido essa licença à UCI. Estão a ser fechadas várias contratações, com destaque para dois jovens portugueses. Nuno Bico (24 anos) vai deixar a Movistar após duas épocas, enquanto José Neves (23) vai para Espanha depois de um bom ano da W52-FC Porto e que levou a americana EF Education First-Drapac p/b Cannondale a convidá-lo para uma estágio desde Agosto. A equipa espanhola garantiu ainda um ciclista muito experiente: Ricardo Vilela. Perto de celebrar 31 anos, o ciclista regressa àquele país, onde representou a Caja Rural, depois de duas temporadas na colombiana Manzana Postobón.
O sprinter britânico Matthew Gibson (22 anos, ex-JLT Condor), o espanhol Manuel Peñalver (19, Trevigiani Phonix-Hemus 1896) e o compatriota Ángel Madrazo (30, Delko Marseille Provence KTM, com passagem pela Movistar entre 2009 e 2013) são os reforços já conhecidos.
A Burgos-BH começará assim a temporada mais tarde, tendo já notificado a UCI da sua decisão de se auto-suspender. Contudo, terá um 2019 em suspenso até conhecer a eventual sanção do organismo, que poderá afastar a equipa de mais corridas. Além desta questão, a Burgos-BH terá o trabalho de limpar uma imagem muito fragilizada com estes três casos de doping no espaço de um ano, tentando começar pela concentração que vai realizar com todos os membros da equipa.
*Nota: O ADAMS (sigla em inglês para Anti-doping Administration & Mangement System) é uma base de dados mundial que garante a confidencialidade das informações e reduz a repetição inútil do trabalho. Se utilizarem o ADAMS, os ciclistas não têm que comunicar as informações separadamente à sua Federação ou à sua Organização Nacional de Anti-dopagem.
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