4 de novembro de 2018

Maldição do arco-íris? Valverde só pensa em desfrutar e lutar por vitórias

(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
Não será uma vitória que apareça entre o número oficial de triunfos de Alejandro Valverde (124), mas não deixou de ser uma oportunidade de subir ao pódio e ainda mais agora que veste a camisola de campeão do mundo. O Critérium de Saitama, em Tóquio, é um evento de exibição, que tem sempre alguns dos grandes nomes do ciclismo, muito (mesmo muito) público e que é chamada a 22ª etapa da Volta a França, não tivesse os mesmos organizadores. Valverde bateu o camisola amarela Geraint Thomas, pois para o espanhol, exibição ou não, se é uma corrida, se a oportunidade está lá, então é para ganhar. Mas claro, Valverde está já a pensar em 2019 e ficou a promessa que será um matador, seja onde estiver a competir.

Duas questões têm acompanhado Valverde desde que se sagrou campeão do mundo em Setembro: que calendário vai escolher em 2019 (principalmente que grandes voltas) e se está a pensar terminar a carreira agora que tem o título que lhe faltava. O melhor, um dos que lhe faltava. Se decidisse terminar a carreira como campeão do mundo, seria visto como um final perfeito. Mas Valverde não vê assim até porque a medalha de ouro olímpica passa a ser o seu derradeiro objectivo. Os Jogos de Tóquio são em 2020 - Valverde terá 40 anos - e mesmo que tenha contrato com a Movistar até ao final da próxima temporada, este é um ciclista que não tem de se preocupar com renovações.

Não é certo que se despeça em Tóquio2020, mas é para já algo que vai pensando. Agora o espanhol está mais concentrado no que quer ganhar com a camisola arco-íris. "Serei um matador esteja onde esteja", afirmou ao jornal Marca. E poderá estar no Giro e na Vuelta. Valverde já tinha dito que "dispensava" o Tour, ainda que um possível regresso à Volta a Itália - ganhou uma etapa e foi terceiro na geral na sua estreia em 2016 - não seja com a intenção de discutir a geral. Valverde até referiu como terá de esperar para ver quem irá com ele caso seja escolhido, pois um dos companheiros poderá ser Mikel Landa, esse sim, um ciclista que irá apontar à maglia rosa, se for ao Giro.

O Tour ficará para Nairo Quintana e, provavelmente, Landa, com Valverde a preferir a Vuelta, deixando a Volta a França para os companheiros que a podem disputar. Está confirmado que irá estrear-se na Volta a Flandres, depois de este ano ter feito uma experiência no pavé a pensar na preparação para a etapa do Tour com este terreno, mas que acabou por revelar que Valverde pode ter capacidade para disputar uma Flandres. O arranque de temporada poderá ser logo na Austrália, pelo menos se o ciclista tiver o seu desejo realizado pelo director desportivo, Eusebio Unzué.

Regressando às grandes voltas, Valverde foi questionado sobre o Tour de 2018, no qual a Movistar resolver apostar nos seus três líderes. Depois de elogiar Landa e Quintana, o espanhol respondeu: "Termos ido os três não foi um erro. O problema foi que não havia forças."

Força e vontade parecem não faltar a Valverde em continuar uma impressionante senda de vitórias, ano após ano e quando muitos, da sua idade, já se retiraram ou estão a pensar em o fazer. É o primeiro a realçar que ganha mais agora do que antes da sua suspensão por envolvimento na Operação Puerto. Cumpriu a sanção em 2010 e 2011, o que significa que até 1 de Janeiro de 2010 contabilizava 60 vitórias (começou como profissional em 2002). Desde 1 de Janeiro de 2012 soma 64. As 14 deste ano fazem de 2018 o seu segundo melhor ano (em 2004 venceu por 15 vezes), mas foi aquela em Innsbruck que fez toda a diferença. É por isso e principalmente por ter ganho os Mundiais, que não hesita em dar nota máxima a esta temporada. E também por isso, não está a pensar em retirar-se. 38 anos e está num nível altíssimo.

Um matador já Valverde é. Dizer que o quer ser em 2019... Cuidado com o espanhol! Estar com a camisola do arco-íris é claramente uma motivação extra e Peter Sagan demonstrou que a chamada maldição do campeão do mundo não afecta todos. "Os Mundiais mudaram-me a vida. Agora os rivais têm mais medo", disse, com uma gargalhada. "Sei que às vezes traz uma maldição, mas se não ganhar nada para o ano, tão pouco irei sofrer com isso. Na minha idade, o importante é desfrutar."

E desfrutou e bem de Tóquio, pois quanto à corrida japonesa, Valverde bateu Geraint Thomas, com o Yukiya Arashiro a fechar o pódio. O japonês da Bahrain-Merida fez parte de uma selecção especial de corredores da casa e não desiludiu. Vincenzo Nibali ficou com a camisola das bolinhas vermelhas (do melhor trepador), Alexander Kristoff com a verde dos pontos e o campeão europeu, Matteo Trentin foi o mais combativo. Tudo como se fosse o Tour.

Antes da corrida, houve a prova para os sprinters. Se para Valverde o facto da vitória não contar oficialmente não faz grande diferença depois da brilhante época, já Marcel Kittel não se teria importado se o triunfo até tivesse mais relevância. Depois de um ano tão mau na Katusha-Alpecin, o alemão foi o mais forte numa final a quatro, batendo Kristoff e os japoneses Fumiyuki Beppu e Hayato Yoshida. Houve ainda um contra-relógio por equipas, ganho pela formação nipónica criada para a ocasião e que contou com Kazushige Kuboki, Masahiro Ishigami e Shoi Matsuda.

Depois de uns dias descontraídos, com direito a várias distracções e até a um jogo de basebol com Valverde e Alberto Contador na mesma equipa, agora há que apontar baterias a 2019. Valverde levantou os braços pela primeira vez como campeão do mundo, mas falta agora saber qual será a corrida em que o fará oficialmente.

Sem comentários:

Enviar um comentário