25 de março de 2018

"Estava com a convicção que era hoje. Disse-lhes que era o meu dia"

O cenário foi bem diferente de há um ano. A Clássica Aldeias do Xisto deslumbrou em 2017 com uma primeira edição de paisagens de uma beleza inesquecível. Os incêndios deram outra cor a uma zona do país tão devastada pelos fogos, mas como o pensamento da organização nunca esteve em esconder a realidade que tem no negro das árvores e nas casas queimadas o constante relembrar de uma tragédia, neste segundo ano de corrida, o pelotão passou por algumas das zonas e aldeias afectadas. A paisagem triste não deixou ninguém indiferente, mas na estrada esteve uma competição com muito em jogo. O espectáculo que desta feita não teve o verde forte das florestas circundantes como pano de fundo, teve muita cor na estrada, numa corrida atacada desde muito cedo e que no final viu a "equipa da casa" vencer. Daniel Mestre deu o primeiro triunfo de 2018 à Efapel, num dia também de festa para a Aviludo-Louletano-Uli, que cumpriu com o objectivo de ficar com o Troféu Liberty Seguros.

Daniel Mestre foi o mais forte na subida terceira categoria que levou à meta os ciclistas na Aldeia das Dez, em Oliveira do Hospital, após 145 quilómetros de prova. Depois de algum azar o ter impedido de estar na luta por etapas na Volta ao Alentejo, este era um triunfo desejado, mas que não desesperava por conseguir. Nem ele, nem a equipa. "A nossa união faz com que não haja pressão nenhuma. Nós tentamos sempre ganhar. Não conseguimos, levantamos a cabeça e voltamos a tentar. Está aqui a prova disso", salientou ao Volta ao Ciclismo. E acrescentou: "Eu sei o meu valor, a equipa sabe o meu valor. Não tinha de provar nada a ninguém. É claro que as equipas vivem das vitórias, não escondo isso. Consegui vencer aqui na casa do patrocinador, Aldeias do Xisto, e fico feliz não só por mim, mas também pelos meus colegas que trabalharam ao longo de todas as provas que fizeram até agora."

E numa fuga que contou com quase todos os principais intervenientes do pelotão, Mestre teve ao seu lado Sérgio Paulinho e Bruno Silva. "Estava com a convicção que era hoje. Disse-lhes que era o meu dia", frisou Mestre, pouco depois de ter dito a Paulinho, num sentido cumprimento ao colega: "Bem disse que era hoje."

Foi um final bem ao estilo deste ciclista que no sprint final bateu outros dois nomes de peso do pelotão nacional. Atrás ficou Joni Brandão (Sporting-Tavira) que também tem razões para estar bem satisfeito, já que é o melhor resultado do ciclista deste que regressou à competição, depois de ter falhado a Volta a Portugal devido a problemas de saúde. A compor um pódio de luxo esteve o aniversariante do dia e vencedor da Grandíssima, Raúl Alarcón (W52-FC Porto), que esteve na fuga juntamente com Gustavo Veloso, enquanto Brandão teve a companhia de Frederico Figueiredo.

Contudo, o dia foi quase todo da Efapel, que foi ainda a melhor equipa da clássica. "É lógico que era uma vitória que ambicionávamos. Com o patrocinador Aldeias do Xisto diz-nos muito e não podia ser melhor", afirmou um muito satisfeito Américo Silva. O director desportivo referiu que estavam cientes "do porquê de alguns resultados e de alguns maus desempenhos". "Soubemos esperar e as coisas aconteceram", disse, realçando que o triunfo "é muito bom para o Daniel". "A primeira já está, que é sempre a que custa mais!"

Festa partilhada

A Aviludo-Louletanto-Uli partiu determinada da Aldeia de Álvaro a ficar com o Troféu Liberty Seguros, que há um ano conquistou com Vicente Garcia de Mateos, que também venceu a primeira edição da Clássica Aldeias do Xisto. Agora foi outro espanhol a triunfar. "Objectivo cumprido. A ideia era ganhar o troféu e a equipa trabalhou muito bem. Foi uma corrida muito complicada, pois deixaram-nos fazer o trabalho todo", explicou Óscar Hernández. Acompanhado na fuga por Luís Mendonça, que também tinha a possibilidade de ganhar, David de la Fuente e Luís Fernandes - que ficou com o prémio da montanha -, Hernández teve de estar atento para quando houve o ataque final, cortando a meta na quinta posição. A maior ameaça vinha de Domingos Gonçalves (Rádio Popular-Boavista), que apesar de acabar um lugar acima de Hernández, foi insuficiente para se sagrar vencedor.

Para a equipa algarvia é o fechar de um mês de Março que não irá esquecer. Uma semana depois de conquistar a Volta ao Alentejo com Luís Mendonça, Óscar Hernández ficou com o Troféu Liberty Seguros e a equipa foi ainda melhor desta competição, que englobou além da Clássica Aldeias do Xisto, a Clássica da Arrábida e a Prova de Abertura Região de Aveiro.

Enquanto a Efapel deixou o patrocinador feliz pela vitória na corrida, André Carvalho fez o mesmo ao ser o melhor jovem do troféu. O ciclista da Liberty Seguros-Carglass realçou precisamente esse pormenor: "Era uma prova que era importante para a equipa, visto ser patrocinada pela Liberty Seguros. Foi um dia em que a equipa esteve bastante bem e ajudou-me ao máximo e eu consegui cumprir com as expectativas. Foi uma corrida dura, com constante sobe e desce e o vento complicou, mas o que interessa é que acabou tudo bem." O jovem foi 19º, mas o melhor sub-23 do dia foi o espanhol da Caja Rural Javier Fuentes.

Depois de um Março intenso em corridas pelas estradas nacionais, o regresso do pelotão será entre 12 e 15 de Abril, no Grande Prémio Internacional Beiras e Serra da Estrela. Quanto à Clássica Aldeias do Xisto, ficou a garantia que para o ano há mais.


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