Wiggins venceu o Tour de 2012,
o primeiro de cinco da Sky em seis anos
(Fotografia: William Morice/Wikimedia Commons)
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O relatório é devastador e rapidamente surgiram as dúvidas se a Sky terá condições para continuar. As suspeitas não eram novas, mas o que é descrito no documento é um enorme abanão à até agora super estrutura da Sky, que agora arrisca-se a ruir. Para o comité do departamento digital, cultural, media e desporto não há dúvidas: a equipa britânica recorreu ao uso terapêutico de substâncias proibidas, não para curar problemas de saúde dos ciclistas, mas para melhorar o rendimento destes na Volta a França em 2012. Bradley Wiggins foi o vencedor, seguido por Chris Froome na segunda posição.
Esta denúncia surge pouco tempo depois do caso do "pacote suspeito" ter sido arquivado e numa altura em que Froome se debate com o excesso de salbutamol detectado numa análise realizada durante a Vuelta, que ganhou. "Pela prova recebida por este comité, acreditamos que um poderoso corticóide [triancinolona] foi utilizado para preparar Bradley Wiggins e possivelmente outros ciclistas para o apoiarem na Volta a França", lê-se no relatório, segundo o jornal The Guardian. "A intenção não era o tratamento médico necessário, mas para melhorar o equilíbrio entre força e peso a pensar na corrida. A aplicação do uso de excepção terapêutico da triancinolona por Bradley Wiggins antes da Volta a França em 2012, também significa que ele tirou proveito dos benefícios da substância para melhorar a performance durante a corrida", escreveu o comité.
É salvaguardado que ao recorrer a esta substância para alegadamente tratar o um problema de saúde não viola qualquer regra da Agência Mundial Antidopagem [AMA]. "Contudo, ultrapassou a linha ética que David Brailsford diz ter delineado para ele e para a Sky. Neste caso, e ao contrário do testemunho de David Brailsford a este comité, acreditamos que as substâncias estavam a ser utilizadas pela Sky segundo o regulamento da AMA, para melhorar a performance dos ciclistas e não apenas para o tratamento médico necessário.
Antes de mais, a triancinolona é um corticóide de acção anti-inflamatória prescrito a asmáticos. Segundo o relatório, o objectivo seria ajudar os ciclistas a perder peso, mas ajudando a que a condição física não sofresse com essa diminuição de peso. Estes usos terapêuticos (TUE, sigla em inglês para therapeutic use exemptions) permitem que os atletas possam recorrer a substâncias que são proibidas, desde que o façam para resolver uma situação clínica.
A utilização abusiva do TUE tem sido a questão levantada durante todo o processo sobre o "pacote suspeito" que Wiggins terá recebido durante o Critérium du Dauphiné em 2011. O agora ex-ciclista e Brailsford defenderam que continha um medicamento para a congestão nasal, fluimucil, mas no relatório agora divulgado, é escrito que os investigadores acreditam que a substância em causa era a triancinolona.
Bradley Wiggins reagiu através de uma mensagem no Twitter: "Considero muito triste que acusações possam ser feitas, que pessoas possam ser acusadas de coisas que nunca fizeram que são dadas como factos. Refuto veementemente a alegação que foi utilizada qualquer substância com ou sem necessidade médica. Espero que possa dizer o que tenho direito nos próximos dias e revelar o meu lado."
David Brailsford mantém-se em silêncio, mas a Sky divulgou um comunicado, no qual nega as acusações feitas no relatório: "Estamos surpreendidos e desiludidos que o comité tenha optado por apresentar desta forma uma alegação anónima e potencialmente maliciosa, sem apresentar qualquer prova ou dar-nos a oportunidade de responder. É injusto tanto para a Sky como para os ciclistas em questão." Lê-se ainda: "Levamos a nossa responsabilidade para com o desporto de uma forma séria. Estamos comprometidos em criar um ambiente na Sky, no qual os ciclistas possam competir no melhor das suas capacidades e fazê-lo de forma limpa.
Desde que surgiu em 2010 que a Sky tem sempre tentado mostrar-se como exemplo de se poder ganhar, recorrendo a um ciclismo limpo. No entanto, as suspeitas sempre existiram, mas nunca nada foi provado. A equipa britânica não pertence ao Movimento para um Ciclismo Credível, por dizer que as suas regras em relação ao doping vão mais além, que são mais rígidas. No entanto, muita tem sido a controvérsia por Chris Froome continuar em competição enquanto aguarda pela resolução do caso de salbutamol. Ciclistas, directores desportivos e o referido movimento, apelaram para que a Sky suspende-se o ciclista até ser conhecida uma decisão.
De referir que o facto do salbutamol não ser uma substância proibida, ainda que tenha limites de utilização - que Froome excedeu o dobro do permitido - faz com que o britânico possa competir enquanto prepara a sua defesa. Caso venha a ser considerado culpado, arrisca ver eliminados todos os resultados desde a Vuelta, ou seja, perderia a grande volta espanhola, assim como a medalha de bronze no contra-relógio dos Mundiais.
A equipa venceu pela primeira vez a Volta a França precisamente em 2012, fazendo parte dessa equipa, além de Wiggins (o vencedor) e Froome (o braço direito que ficou em segundo e que no ano seguinte assumiria a liderança), o sprinter Mark Cavendish, Bernard Eisel, Christian Knees, Richie Porte, Michael Rogers e Kanstantsin Siutsou. Só Froome e Knees se mantém na estrutura.
No Reino Unido muito se debate sobre a credibilidade de uma equipa que era o espelho do sucesso actual do ciclismo do país, mas que agora sofre um abanão do qual se ficará à espera de ver se é possível recuperar. Falta agora perceber que mossas poderá este relatório fazer à Sky como equipa, à Sky como patrocinador e, claro, ao ciclismo. É cada vez mais difícil tentar sacudir a água do capote.
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