23 de março de 2018

Só Daniel Oss não chega para ajudar Sagan

(Fotografia: Bora-Hansgrohe/Bettiniphoto)
Foi uma grande contratação para a Bora-Hansgrohe. Finalmente Peter Sagan pode dizer que tem um braço direito que não fica cortado quando as corridas endurecem um pouco. Sagan pode agora ser poupado em certos esforços que antes de tinha fazer para perseguir fugas e responder a ataques. Agora tem Daniel Oss que já vai partilhando esse trabalho. Porém, está a ser insuficiente. A forma de Sagan também não parece ser a mais apurada, mas quando se tem um ciclista que estando num grupo ninguém mais ajuda, então a Bora-Hansgrohe vai precisar de exigir mais dos corredores que forem chamados a estar com o eslovaco. Só o italiano não chega.

Daniel Oss esteve ao lado de Greg van Avermaet quando o belga conseguiu quebrar o estigma dos segundos lugares e começou a ganhar as grandes clássicas. "Roubá-lo" à BMC pareceu uma excelente manobra. Contudo, Oss tinha um papel de extrema importância, mas havia mais ciclistas de trabalho. Oss não tinha de fazer tudo para Avermaet, pois havia com que partilhar a responsabilidade. E claro que estando na BMC, tinha Sagan como o adversário, um ciclista que não se coibia de dar tudo por tudo para não perder a corrida. Ou seja, era importante quando era preciso mexer. Agora o italiano é colega do tricampeão mundial, para que Sagan não tenha de perder tanta força antes de estar de facto na discussão final da prova. Mas é só Oss que trabalha, com os restantes ciclistas a Bora-Hansgrohe a mostrarem pouco serviço, ou então de pouca qualidade.

Nesta rivalidade específica entre Sagan e Avermaet, é o belga quem pode estar mais descansado com o apoio que tem. O bloco da BMC para as clássicas é forte, como ficou demonstrado na E3 Harelbeke desta sexta-feira, com Jurgen Roelandts (que mais do que um homem de trabalho, é sempre um ciclista que pode ele próprio lutar por vitórias, como fazia na Lotto Soudal, logo uma excelente contratação) e Stefan Küng. O suíço ainda só tem 24 anos, é um excelente contra-relogista, já se mostrou em corridas por etapas (foi segundo numa tirada no Tour), mas a BMC está a apostar nele para evoluir neste tipo de provas do pavé.

O bloco alemão da Bora-Hansgrohe tem qualidade, mas longe da necessária para estar ao nível de um ciclista como Peter Sagan. Pascal Ackermann, Marcus Burghardt e Rüdiger Selig, por exemplo, são bons ciclistas, mas têm de elevar o nível da sua participação nas corridas ao lado do líder. Quanto ao irmão, Juraj Sagan, vai caindo quase no esquecimento, sendo cada vez menos aposta, ainda mais numa altura em que as equipas viram ser cortado um elemento nas competições, por decisão da UCI.

No arranque da semana de clássicas na Bélgica, que terá o seu momento alto no domingo, 1 de Abril, com a Volta a Flandres, Peter Sagan foi uma tremenda desilusão. Porém, a culpa não pode ser apenas da falta de equipa. O eslovaco não tem mostrado a forma de outros anos. Ficou sentado, sem capacidade de tentar apanhar Greg van Avermaet quando belga atacou e demonstrou que ainda não está a 100%. É certo que já tinha feito anteriormente um grande esforço para recuperar posições, mas se recuarmos à Milano-Sanremo, também aí o eslovaco não mostrou a frescura física a que se está habituado vê-lo. Na Bélgica, atirou a toalha ao chão e poupou-se para a corrida de domingo, Gent-Wevelgem, terminando com mais de três minutos de atraso.

Comparando com Avermaet, então nota-se ainda mais a diferença. O belga da BMC também estava a realizar exibições pouco convincentes. No entanto, este terceiro lugar em Harelbeke já deixa outras indicações. O ciclista da BMC colocou como objectivo principa de 2018l a Volta a Flandres. Depois de vencer o seu primeiro monumento em 2017, o Paris-Roubaix, é o tudo por tudo pela Flandres. Afinal, é belga! Aos 32 anos é normal que tente gerir bem a sua condição física. Apesar de estar a viver a melhor fase da carreira, a idade vai avançado e as oportunidades de conquistar a corrida que mais quer vão escasseando.

Mas isto da idade tem muito que se lhe diga. Aos 35 anos, Philippe Gilbert apareceu em grande em 2018! Tal como Avermaet andava algo discreto. Mais um belga que apontou baterias a esta fase da época. Se ganhar outra Volta a Flandres seria excelente, Gilbert não se importaria de trocar a vitória por uma no Paris-Roubaix e assim juntar à sua lista de monumentos um dos que lhe falta, além da Milano-Sanremo.

E com esta super Quick-Step Floors será de esperar que haverá uma táctica para levar Gilbert à vitória. Além de haver possibilidade de ganhar praticamente com qualquer ciclista que esteja na corrida. Já são 18 vitórias este ano, distribuídas por oito ciclistas. Niki Terpstra juntou a sua segunda à lista em Harelbeke, depois do triunfo na corrida francesa Le Samyn. E por falar em idade, o holandês tem 33 anos e está numa forma muito idêntica àquela que o levou a vencer o Paris-Roubaix em 2014.

Numa vitória a solo, há que destacar o trabalho de equipa da Quick-Step Floors. Houve uma queda que deixou muita gente para trás e que obrigou a grande esforço para regressar a uma posição de pelo menos aspirar discutir a corrida. A equipa belga estava bem colocada e atacou. O ritmo de Terpstra e de Yves Lampaert foi de mais para quem quis acompanhar. Parte da vitória é de Lampaert. A outra parte de Gilbert (que até acabou em segundo no sprint por essa posição) e de Zdenek Stybar que muito fizeram para estragar a perseguição quando Terpstra já seguia sozinho e chegou a ter apenas 15 segundos de vantagem a cerca de cinco quilómetros da meta.

Quando se falar em trabalho de equipa no ciclismo, este é mais um exemplo perfeito. Não se reduz àquele bem conhecido feito pela Sky. O que a Quick-Step Floors fez hoje foi simplesmente perfeito.

Pode ver aqui a classificação da E3 Harelbeke.

Para terminar, há que referir ainda Nelson Oliveira. O português da Movistar demonstrou que está a aproximar-se de uma boa forma. Não esconde que a Volta a Flandres é uma das corridas que muito gosta e que lhe assenta bem. Não se pode olhar apenas para os números finais, 32º a 7:03 do vencedor, pois Oliveira esteve a bom nível numa corrida muito complicada, muito movimentada, principalmente nos últimos 70 quilómetros. Há ainda que ter em conta que a Movistar não é equipa de clássicas. Para um corrida do pavé até levou Mikel Landa, que está a tentar ganhar prática neste terreno, devido à etapa no Tour que terá empedrado.

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