13 de março de 2018

"Estamos aí para mostrar que não somos uma equipa qualquer"

Tem apenas 26 anos e está no seu terceiro como profissional. No entanto, Nuno Almeida assumiu a responsabilidade de ser um ciclista de liderança no novo projecto da LA Alumínios. É o mais velho e o mais experiente apesar de ser ainda tão novo, mas a sua maturidade faz com que não seja uma surpresa que tenha sido o escolhido para um papel tão importante num projecto que quer crescer, apostando na juventude. O corredor diz que não liga ao factor da idade: "Sei que tenho uma responsabilidade acrescida, mas encaro tudo de uma forma tranquila, não me afecta rigorosamente nada." Esteve na Efapel e Louletano-Hospital de Loulé, tendo agora como que regressado a casa e avisa para não menosprezarem esta LA Alumínios: "Estamos aí para mostrar que não somos uma equipa qualquer, como tentaram fazer de nós. Estamos aí para a guerra."

Este é um patrocinador já com uma longa presença no ciclismo nacional, mas em 2018 optou por uma aposta diferente. A LA Alumínios é agora numa equipa de sub-23, com licença Continental, na qual dois dos ciclistas podem ser do escalão de elite. É o caso de Nuno Almeida. "Estou na equipa da casa, que liga à minha formação. Fazia um pouco sentido as pessoas da minha terra verem-me passar numa equipa profissional que tem a sede no Clube de Ciclismo da Aldeia de Paio Pires [onde começou]. Portanto, é especial", admitiu ao Volta ao Ciclismo. Passou ao profissionalismo na Efapel, mas no ano seguinte mudou-se para a estrutura algarvia do Louletano, onde foi um dos ciclistas que esteve ao lado de Vicente Garcia de Mateos. Mudar novamente de equipa foi uma opção sua.

"Na Efapel, à partida, não houve um motivo especial. Foi uma opção da equipa mudar alguma da estrutura o que englobou a minha saída. Em relação ao Louletano foi uma decisão que eu tomei. Poderia ter continuado, havia abertura para isso, pelo menos. Mas decidi mudar, à procura de outras condições. Estou na LA e estou muito bem", garantiu. Gostaria agora de encontrar alguma estabilidade, "se essa for condizente com a que os atletas procuram para a sua vida pessoal". Porém, é honesto: "Não vou estar com conversas, se tiver de voltar a mudar, que seja para melhor. Essa é a realidade."


"[Na Volta ao Algarve] os objectivos traçados para uma corrida tão dura foram cumpridos e não ficámos a dever nada a ninguém"

Nuno Almeida reitera mais do que uma vez que a sua forma de estar é pensar um dia de cada vez. "Não penso no dia de amanhã. Eu faço cada corrida como se fosse a última. Dou sempre o meu melhor." Por isso mesmo, é na LA Alumínios que está todo o seu foco desportivo, mas acaba por falar um pouco no futuro, naquele que acredita que a equipa terá. "Começou do zero, apesar de ter pessoas e uma ou outra estrutura que vem de outros anos. É um projecto com muito futuro, que está a crescer e vai dar os seus frutos. É preciso que as coisas corram bem e que haja sorte. No entanto, vai dar cartas mais cedo ou mais tarde", salientou. E acrescentou: "Cuidado com esta LA. Estamos a construir um grupo coeso. Vai haver muita evolução porque há muito trabalho e dedicação."

Para o ciclista, a prova que a equipa deve ser valorizada está no que foi feito nas poucas corridas que houve até ao momento, com destaque para a Volta ao Algarve. "Tínhamos como objectivo de entrar na fuga no primeiro dia. Fui eu, como podia ter sido outro. Tínhamos o objectivo de chegarmos todos ao fim, mas tivemos a infelicidade de um colega não ter terminado. Mas os objectivos traçados para uma corrida tão dura foram cumpridos e não ficámos a dever nada a ninguém", disse, referindo ainda como na Clássica da Primavera foi um ciclista da LA Alumínios que ganhou o prémio da montanha, David Ribeiro, que como que se "vingou" de ter sido o único a não concluir a Algarvia.

A segunda competição da época ser logo com equipas do World Tour foi uma experiência memorável para os jovens da LA Alumínios. "Havia algum nervosismo. Tive de lhes dizer para terem calma e a verdade é que chegaram ao fim satisfeitos. E eu perguntei-lhes: 'Então, como é que é? Não dava, não aguentavam e estão aqui?'", contou. Nuno Almeida ri-se ao recordar o momento que apesar do enorme esforço, todos apreciaram no final e que dificilmente se esquecerão na carreira. Não foi há muito tempo que o próprio estava na posição dos colegas. "Era a minha terceira Volta ao Algarve e tentei transmitir calma. São ciclistas do World Tour, mas para mim são mais uns e encarei de forma muito tranquila e fiz ver isso a eles. Quando ali estamos, somos mais uns. Há atletas do World Tour que também ficam e nós vamos. A partir daí é uma guerra. É sofrer. E o resultado está à vista", afirmou.

Primeiro a equipa, depois os objectivos pessoais

A dedicação de Nuno Almeida à LA Alumínios é total, uma postura que traz das outras equipas que representou, tanto na elite, como durante a sua formação. Admite que agora tem mais liberdade, mas nem por isso fala em ter objectivos pessoais altos: "O foco neste início de época é apoiar os meus colegas ao máximo." Realçou como são os objectivos da equipas que estão acima de tudo e apenas quer manter-se fiel à sua forma de ser, de dar o máximo em cada corrida, de acordo com o que lhe for pedido. "É a minha maneira de estar. Não sabemos se estamos cá amanhã!"


"A minha forma de ver e de estar é que precisamos sempre de uma voz de comando. Neste caso, o Hernâni Brôco faz isso perfeitamente"

Nestes primeiros meses de trabalho, Nuno Almeida destaca não só a qualidade do grupo, mas a união que é grande parte da força da LA Alumínios. "Continuamos à procura de mais e melhor e isso vai aparecer certamente", disse de forma confiante, acrescentando como está a tentar passar o conhecimento que já, por estar há mais tempo ao mais alto nível no pelotão nacional: "Eu também já passei por isso [de estar a começar] e sempre gostei muito que me ajudassem. Tento sempre fazê-lo o máximo possível e depois cabe a cada um aceitar essa ajuda."

Mas será que aos 26 anos não sente a falta de ainda ter também ele uma voz de comando a seguir? "A minha forma de ver e de estar é que precisamos sempre de uma voz de comando, independentemente da idade que tenhamos. Neste caso, o Hernâni Brôco faz isso perfeitamente. Transmite muito da sua experiência", respondeu. Explicou que o director desportivo, que terminou a carreira de ciclista no final de 2016, tem sido uma grande ajuda e que não deixa que falte nada aos seus corredores. Os conselhos de Brôco já vão tendo influência em Nuno Almeida. "Nas poucas corridas que fizemos já notei essas diferenças", confessou.

Segue-se a Volta ao Alentejo, que começa esta quarta-feira em Vendas Novas e termina no domingo, em Évora. Pode não ser a corrida perfeita para as suas características, mas sendo um bom rolador entrar numa fuga é um objectivo, à imagem do que aconteceu na Volta ao Algarve, sendo esse um dos objectivos em geral para a equipa. O outro é colocar bem Fábio Mansilhas para o que o ciclista de 23 anos possa mostrar-se nos sprints. "No meu caso pessoal, estar uma fuga seria muito bom e gostaria de me testar um pouco mais no contra-relógio para voos maiores mais tarde na época", explicou, garantindo que a LA Alumínios será muito combativa.

Além de Nuno Almeida e Mansilhas, a equipa irá estar no Alentejo com David Ribeiro, Rafael Apolinário, Gonçalo Leaça, Fábio Oliveira e Júlio Gonçalves.

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