2 de novembro de 2019

Katusha-Alpecin despede-se com mais uma época para esquecer

(Fotografia: © Facebook Team Katusha-Alpecin)
A Katusha-Alpecin foi de mal a pior. Se 2018 já tinha sido fraco, 2019 foi simplesmente mau de mais. Todo o projecto de cortar com as raízes russas, transformar a equipa numa potência mundial ao contratar alguns ciclistas de renome e tentando afirmar nomes como Ilnur Zakarin, tudo falhou. Não houve dinheiro que conseguisse prever que Marcel Kittel se tornaria numa das piores contratações, é certo, e que aos 31 anos iria terminar a carreira, em Maio. Erik Zabel entrou para a equipa técnica para tentar ajudar na recuperação do sprinter, mas o "afundar" de Kittel acompanhou o "afundar" de uma Katusha-Alpecin, que teve Nils Politt a salvar um pouco a honra nas clássicas, mas sem vitórias, valendo aqui um Zakarin que continuou a desiludir a nível de geral, mas venceu uma etapa no Giro. Foi uma garantia que a estrutura de José Azevedo não terminasse 2019 sem triunfos World Tour. Mas não chega para apagar a má temporada.

Foram cinco vitórias. Além da 13ª etapa na Volta a Itália, antes Rick Zabel conquistou a segunda no Tour de Yorkshire e Kittel tinha começado o ano a ganhar no Troféu Palma, em Espanha, numa altura em que se pensou que talvez o sprinter pudesse recuperar o ritmo de vitórias de outros tempos e assim compensasse o grande investimento feito nele. Para mal da Katusha-Alpecin a história foi bem diferente. Kittel terminou a carreira. Depois de Zakarin vencer no Giro, Alex Dowsett e José Gonçalves sagraram-se campeões nacionais de contra-relógio. Nem mais uma vitória depois disso. Para agravar, as boas exibições também escassearam.

A Katusha-Alpecin foi uma equipa sem identidade, sem garra, sem líderes fortes. A certa altura mais parecia que estava cada um por si, situação que se tornou clara quando durante a Vuelta foi confirmado que não havia garantia de continuidade da equipa, conhecida que já era da saída de patrocinadores como a Alpecin e da marca de bicicletas Canyon. Ambas estarão mais interessadas em colocar o seu dinheiro onde está Mathieu van der Poel (Corendon-Circus). Entretanto foram surgindo notícias que a Israel Cycling Academy poderia comprar a licença World Tour, mas no meio de tanta incerteza, a Katusha-Alpecin conseguiu algum destaque na Vuelta graças a um português.
Ranking: 23º (3985,43 pontos)
Vitórias: 5 (incluindo uma etapa na Volta a Itália)
Ruben Guerreiro aproveitou a liberdade que os ciclistas da equipa tinham na Vuelta e estreou-se numa grande volta com excelentes performances. Foi dos mais combativos da corrida, ficou perto de ganhar etapas e foi 17º na geral. Em 2018 havia José Gonçalves quem tinha ajudado a tornar a época menos má para a equipa com um 14º lugar no Giro. Já de 2019 esteve longe do esperado para o ciclista de Barcelos. Alguns problemas físicos limitaram Gonçalves, que concretizou o sonho de estar no Tour, mas foi uma prestação muito discreta para a qualidade que tem.

Mas Zakarin não esteve melhor em França e apesar de poder dizer que pagou o esforço do Giro, a verdade é que o russo vê os anos passarem sem afirmar-se como um voltista que possa estar novamente a discutir uma prova de três semanas. Foi terceiro na Vuelta em 2017, já fez outros top dez, incluindo este ano em Itália. Porém, não fez esquecer Joaquim Rodríguez.

Quem acabou por marcar muito a temporada da Katusha-Alpecin foi um ciclista que nem ganhou, mas aos 25 anos confirmou a aptidão para as clássicas do pavé. E não fosse um senhor chamado Philippe Gilbert, talvez tivesse conquistado o seu primeiro monumento. O Paris-Roubaix foi preencher um currículo invejável, como é o do belga, mas Politt deixou bem claro que tem capacidade para também ele conquistar grandes vitórias. Foi quinto na Volta a Flandres, sexto na E3 BinckBank Classic e o alemão foi o autor de algumas das raras boas exibições que se viu em 2019 de ciclistas da Katusha-Alpecin.

Não surpreende por isso que, dos 11 corredores que tinham contrato com a equipa para 2020, Politt seja aquele que a Israel Cycling Academy tenha admitido rapidamente que queria manter, depois de anunciar a compra da licença da equipa suíça (a Katusha deverá manter-se como patrocinador). Enrico Battaglin, Jenthe Biermans, Jens Debusschere, Alex Dowsett, Reto Hollenstein, Daniel Navarro, Dmitry Strakhov, Harry Tanfield, Mads Würtz Schmidt e Rick Zabel são os restantes com vínculo para 2020. Ruben Guerreiro vai mudar-se para a EF Education First, Gonçalves para a Delko Marseille Provence e Zakarin também irá mudar de ares, para a CCC.

O desafio de José Azevedo como director geral de uma equipa World Tour não correu como certamente ambicionava e o próprio já admitiu que quer regressar ao cargo que ocupou anteriormente com sucesso. Como director desportivo venceu uma Vuelta com Chris Horner, então na RadioShack-Leopard (2013). A Jumbo-Visma foi dada como interessada em receber o português.

A Katusha-Alpecin terminou 2019, a nível de ranking, como a pior entre as do World Tour e foi ainda batida por formações Profissionais Continentais: Direct Energie, Wanty-Gobert, Corendon-Circus, Israel Cycling Academy e Cofidis.


Sem comentários:

Enviar um comentário