9 de novembro de 2019

Sunweb à deriva sem Dumoulin, mas com afirmação de jovens talentos

(Fotografia: Facebook Team Sunweb)
A ambicionar ganhar novamente com Tom Dumoulin uma grande volta, continuando a construir uma equipa jovem, mas com potencial para tornar a Sunweb numa formação cada vez mais forte e tudo se desmoronou após a queda do seu líder na quarta etapa da Volta a Itália. Dumoulin passou de figura para um ciclista descontente e a abrir a porta de saída, apesar de ter contrato. O seu possível sucessor, Sam Oomen, terminou a temporada após a 14ª tirada do Giro devido a um problema físico. Wilco Kelderman continua sem se afirmar, enquanto Michael Matthews é o senhor irregularidade, mas lá conquistou três vitórias em 2019. Valeu a esta Sunweb que alguns dos jovens ciclistas deram mostras que podem ser certezas num futuro próximo. Mas falta saber o quão próximo será.

Depois da afirmação de equipa para as grandes voltas e de uma estabilidade financeira que permite à Sunweb apostar muito forte na sua estrutura de desenvolvimento que, aos poucos, vai mostrando os resultados com os talentos que vão passando para a equipa principal, o que não se esperava de todo era que 2019 marcasse o fim abrupto de uma relação que parecia tão estável. Tom Dumoulin quis sair depois de uma temporada difícil, marcada pela queda no Giro que lhe provocou uma lesão no joelho. O ciclista holandês não gostou nada da forma como a sua recuperação foi orientada.

Chegou a pensar no Tour e regressou à competição em Junho, no Critérium du Dauphiné, cerca de três semanas depois da queda, convencido que poderia aos poucos recuperar a forma. Afinal, a lesão era mais grave e nunca mais se viu Dumoulin esta época. Descontente, aos 29 anos (que fará na segunda-feira) prefere mudar de equipa - vai para a Jumbo-Visma -, procurar uma nova dinâmica e, principalmente, quem lhe dê um apoio mais sólido e experiente, do que os jovens que Sunweb está a apostar. Dumoulin começou a época insatisfeito por a equipa ter deixado sair dois seus homens de confiança: Laurens ten Dam e Simon Geschke. E foi o início do fim da relação e a equipa terá agora de recomeçar a construção de um grupo forte para as três semanas.
Ranking: 15º (5471,37 pontos) 
Vitórias: 9 (incluindo uma etapa no Giro e outra na Vuelta) 
Ciclistas com mais triunfos: Cees Bol e Michael Matthews (3)
Conquistou apenas nove vitórias, mas seis foram World Tour. Com Matthews a ser obrigado a assumir uma maior responsabilidade que não estava bem à espera desde a Volta a França, a Sunweb também começou a olhar para Cees Bol, Soren Kragh Andersen e Lennard Kämna com outros olhos, na esperança que começassem a dar mais garantias. E assim foi. Bol mostrou todo o seu potencial para o sprint venceu a Danilith Nokere Koerse, uma etapa na Volta à Califórnia e outra na Noruega - e será aposta importante para 2020. Andersen fez uma Volta ao Algarve memorável (foi segundo classificado), o Tour não lhe correu de feição, mas aos 25 anos poderá ser um ciclista a ter um papel mais importante na próxima temporada. Já Kämna tornou-se numa desilusão. Fez boas exibições e alguns resultados de nota, mas assinou pela Bora-Hansgrohe.

A Sunweb só não pode dizer que teve um 2019 negativo, porque além de ver alguns jovens afirmarem-se, também contou com alguns dos mais experientes ciclistas para alcançar resultados muito importantes. Casos das vitórias de etapa de Chad Haga no Giro e de Nikias Arndt na Vuelta, sem esquecer que Nicolas Roche liderou a grande volta espanhola durante três dias. Estava em boa forma, mas mais uma vez uma queda estragou os planos de um ciclista da Sunweb. Roche ia atrás de um top dez.

Esta equipa soube crescer quando Marcel Kittel saiu e também não sofreu quando John Degenkolb quis mudar-se para a Trek-Segafredo. Então já a estrutura estava concentrada em Dumoulin. Perde mais uma vez um líder, mas a reconstrução poderá ser desta vez mais difícil e, principalmente, demorada. Vai por agora regressar um pouco às origens, procurando vitórias ao sprint (Cees Bol e Matthews a serem chamados à responsabilidade) e às clássicas. Em 2020 vai chegar Tiesj Benoot (Lotto Soudal), assim como Jasha Sütterlin (Movistar) e Nico Denz (AG2R), um trio muito interessante para as corridas de um dia.

Entretanto, a Sunweb irá tentar com Sam Oomen recuperar o seu estatuto para as grandes voltas, mas faltará saber como regressará o holandês de 24 anos. Foi operado ao problema na artéria ilíaca numa perna, lesão que afectou Fabio Aru, por exemplo, e que forçou o final de carreira aos 25 anos do português Nuno Bico. É um talentoso ciclista, mas agora paira alguma dúvida sobre a sua recuperação. Se conseguir estar novamente a 100%, tem tudo para ser o líder que a Sunweb neste momento muito precisa, ao perder Dumoulin. Ainda há Wilco Kelderman (28 anos), mas desconfia-se cada vez mais que atinja o potencial que mostrou há dois/três anos.

Com a saída do vencedor do Giro de 2017, a Sunweb acabou por perder também alguns elementos da equipa técnica. Houve quem seguisse Dumoulin, enquanto outros aceitaram convites para formações rivais. É tempo da Sunweb fazer um reset, mas sabendo que tem jovens de enorme potencial. Agora será preciso dar um dos passos mais complicados: afirmá-los ao mais alto nível.


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