20 de novembro de 2019

Mitchelton-Scott cada vez mais dependente dos gémeos Yates

(Fotografia: Facebook Mitchelton-Scott)
Dizer que uma equipa que conquista 35 vitórias, incluindo quatro etapas no Tour, uma no Giro, outra no Paris-Nice, na Volta a Catalunha e também na Volta ao País Basco ficou um pouco aquém do que se esperava para 2019, pode parecer estranho. Porém, quando finalmente se consegue não só ser uma equipa capaz de disputar uma grande volta, mas que a ganhou - Vuelta de 2018 - a Mitchelton-Scott queria dar o passo seguinte de tentar conquistar mais uma, ou pelo menos estar mais na linha da frente da discussão. Mas não. Simon Yates não deu continuidade às performances do ano anterior, Adam não conseguiu ser um líder de meter respeito no Tour com o irmão a seu lado - a dupla foi importante na referida Vuelta - e depois ainda há Esteban Chaves. Ou melhor, será que há?

Perceber se é possível recuperar o colombiano depois de um ano marcado por doença que o afastou da competição durante muitos meses, era a grande dúvida. O vírus Epstein-Barr está a prejudicar e muito a carreira de Mark Cavendish e a de Chaves também não tem  grandes certezas. A vitória na etapa do Giro teve o condão de restituir confiança - sem dúvida um momento marcante na temporada para a Mitchelton-Scott - e na Vuelta terminou no top 20. No entanto, foi perceptível as dificuldades que Chaves sente em ser regular nas três semanas e não só. A equipa acabou por renovar contrato, mas por enquanto, as garantias que o colombiano dava há dois ou três anos não existem, numa altura em que o ciclista está a cerca de dois meses de completar 30 anos.

A Mitchelton-Scott não vai desistir de Chaves, tal como não deve de desistir de fortalecer o seu bloco para ajudar os irmãos Yates. Adam e Simon (27 anos) vão ter toda a pressão de conquistar mais e melhores resultados. Simon queria ajustar contas com o Giro, depois da quebra que o fez perder a edição anterior. Apesar de começar com um segundo lugar no contra-relógio e de dizer que o deviam temer, não demorou muito a mostrar que não era o mesmo ciclista de 2018. E aprendeu a ter cuidado com o que diz publicamente. Foi oitavo, mas foi uma desilusão. Foi ao Tour - abdicando de tentar repetir o sucesso na Vuelta - e compensou o desaire do Giro com duas etapas em França. Por outro lado, Adam foi apenas 29º, o que não deixou todos os responsáveis da equipa satisfeitos.
Ranking: 8º (9108,74 pontos) 
Vitórias: 35 (incluindo quatro etapas no Tour e uma no Giro) 
Ciclista com mais triunfos: Daryl Impey (6)
Matteo Trentin e Daryl Impey também venceram no Tour, mas na Vuelta a equipa pouco se viu, com Mikel Nieve a fazer-se valer da experiência e conhecimento das estradas espanholas para fechar top dez.

A Mitchelton-Scott deixou para trás os tempos em que as clássicas e sprints eram o objectivo e a "fonte de rendimento" nas vitórias. Quer ganhar gerais das principais corridas. Impey até deu o mote com a vitória no Tour Down Under logo em Janeiro, mas mais gerais só no final do ano e foram na República Checa (Impey novamente) e na Croácia (Adam Yates). Pouco, muito pouco para os objectivos da equipa australiana.

E a equipa está concentrada em manter toda a sua aposta nos gémeos Yates. Vai perder Matteo Trentin para a CCC e Daryl Impey ainda não anunciou o seu futuro. Foram dois dos ciclistas que mais vitórias garantiram e Trentin ficou tão perto de conquistar ainda um título mundial, mas foi batido por Mads Pedersen (Trek-Segafredo). Há que não esquecer que há um ano foi Caleb Ewan que partiu para a Lotto Soudal para poder ser um sprinter de primeira linha e não apenas quando a equipa não tem pretensões à geral.

Vai aumentar a exigência de ter os seus ciclistas na luta pelas grandes voltas e pelas principais provas de uma semana. Adam e Simon vão passar a contar com o experiente Andrei Zeits (Astana), cazaque com 18 corridas de três semanas feitas. As duas outras contratações serão dois jovens que se vão estrear no World Tour. Barnabás Peák (SEG Racing Academy), sprinter húngaro, e Alexander Konychev, italiano da Dimension Data for Qhubeka (equipa de formação da Dimension Data) que tem características de trepador, mas tem apenas 21 anos.

Com Ineos e Jumbo-Visma noutro patamar a nível colectivo, com Movistar ainda que em fase de mudança, mas com bons ciclistas para o bloco de apoio a Enric Mas, com a Bahrain-Merida e a UAE Team Emirates a reforçarem-se também para crescer nas grandes voltas, a Mitchelton-Scott vê a concorrência a aumentar, numa altura em que está a ficar demasiado dependente dos resultados dos Yates.

»»Contraste de emoções na época da Lotto Soudal««

»»Trek-Segafredo com final de temporada memorável no ano de ascensão de Ciccone««

Sem comentários:

Enviar um comentário